1911 – Praça Augusto Severo
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Na
Estação da Great Western da Ribeira, eu aguardava alguns familiares que
retornavam a Natal. Bateu o sino da estação – o trem já deveria estar próximo –
segundo alguns já partira da última parada intermediária.
Para
me assegurar disso procurei um dos funcionários da rede que me comunicou que o
trem estava dentro do horário e logo mais estaria chegando.
Aproveitei
o tempo de espera para uns pastéis e bolos de tabuleiro vendidos na estação.
A
informação estava certa – logo mais avistei a maria-fumaça. A locomotiva vinha
da esquerda – margeando o Rio Potengi. Antes de aparecer na curva, ouvíamos o
ronco forte da máquina resfolegando nos trilhos – espantando homens e animais.
Finalmente,
a locomotiva apareceu ao longe, bufando fumaça pela longa chaminé.
Quando
se aproximou da plataforma de embarque e desembarque, escutávamos o barulho dos
ferros, o guinchar das rodas escorregando sobre os trilhos, a freada demorada,
o aço sobre o aço, o chiado da fornalha e os vapores da caldeira.
Os
passageiros desciam sem pressa, parecendo querer curtir os últimos momentos na
carruagem de ferro. Uma pessoa me chamou atenção: uma senhora elegantemente
vestida – enorme chapéu florido, sombrinha colorida e rendada, e sapato negro
bicudo com fivela de prata.
Paralelamente,
os funcionários da companhia desciam as malas e outras bagagens, com a
vigilância atenta do chefe da estação.
Da
porta da calçada da estação, quem vinha a Natal pela primeira vez avistava a
bela Praça Augusto Severo, com o monumento à Nísia Floresta.
Pelo
dia e hora quase não havia ninguém na rua. Várias casas comerciais estavam de
portas fechadas.
Do
outro lado da praça, o Teatro Carlos Gomes e o Grupo Escolar Augusto Severo,
sob os olhares vigilantes da antiga fábrica de tecidos de Juvino Barreto.
Um
carro de boi passava vagarosamente em frente da estação, com o seu canto triste
produzido pelo eixo de suas rodas. Era um lamento sem fim... triste e ouvido à
distância.
Esse
cantoril era motivo de orgulho dos carreiros, que chegavam a jogar água no
buraco da roda para que o canto saísse mais sofrido.
Corria
o finalzinho de 1911 na Cidade dos Reis Magos. Por aqui não se falava de outra
coisa que não fosse o recém-inaugurado Cine Polytheama – ali ao lado da
estação. O cinema dera uma nova vida ao bairro ribeirinho.
As
noites passaram a ter outro sentido para as famílias. De dia, grupos de meninos
saíam pelas ruas, carregando cartazes e anunciando o filme que seria exibido
nas “matinées” e “soirées” do cinema.
Os
filmes em rolo de celuloide eram ansiosamente aguardados por todos. Naquela
época, o cinema era mudo, viam-se as imagens, mas não havia som – o que os
atores diziam aparecia em quadros, que se intercalavam com as cenas.
Do
outro lado da praça, o Teatro Carlos Gomes a tudo assistia impassível.
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