O poeta e a Praça
Augusto Coelho Leal, engenheiro civil
Não conheço
outra Praça em Natal cantada em versos, pode até ter, mas sinceramente não
conheço. “Pio X praça que desapareceu/Praça de muitas recordações/Foi lá que o
nosso amor nasceu/ Onde guardei meu coração.” Este é um pequeno trecho da
música – Praça Pio X de autoria do poeta, cantor, compositor e violonista
Airton Ramalho.
O poeta.
Airton nasceu em Campina Grande, Paraíba. De uma família de músicos, primo de
Hianto de Almeida, ainda criança veio morar em Natal. Traz no sangue a verve
dos poetas e escritores paraibanos. Quando moço, seresteiro, boêmio, bom
violonista, fez muitas serestas para moças natalenses, cantado e acompanhando
outros jovens da sua época. As suas composições mais famosas são: Praça Pio X,
Baião do negrinho, A vedete do Seridó, O passarinho, Esta última em parceria
com outro grande artista potiguar, nosso, Chico Elion.
A
Praça. A Praça Pio X, ficava onde hoje é
a nossa Catedral Metropolitana. O terreno onde foi construída pertencia a
Diocese de Natal, falam que sua construção iniciou lá para os anos de 1900. Era
o pároco de Natal o padre João Maria. Foi ele que teve a idéia de construir a
nova Catedral. Para se ter uma noção de tempo, o local era um grande sítio,
onde existiam arvores, e um grande matagal.
O padre João
Maria com muita luta para conseguir recursos e com ajuda do povo que ia buscar pedras
nas praias de Natal, começou a construção da Nova Catedral, para época, um
prédio de uma arquitetura grandiosa. O padre morava um pouco distante e andava
a pé para coletar recursos, por isso a população deu de presente um burro, que lhe
servia de montaria. O padre João faleceu no ano de 1905, e com ele foi para o
tumulo, o sonho da construção da Nova Catedral.
Os arredores
daquele terreno passaram a ser habitados por pessoas ilustres e com boa
situação financeira. O que ficou em pé da construção, teve que ser demolida, a
Prefeitura resolveu construir uma praça, que servia como parque. Depois
construída a Praça, que tomou todo quarteirão formado pela Avenida Deodoro, Rua
Açu, Rua Jundiaí e a Rua Fontes Galvão.
Diferente da
Praça Pedro Velho, a Praça Pio X quase não tinha árvores grandes. No local
durante o dia, fazia muito calor, por isto era frequentada mais no final da
tarde e a noite, onde servia de encontros para namorar sentado nos bancos (eram
poucos) ou bater papo. Também lá não existia quadra para práticas esportivas,
nem parques para crianças, era uma praça mais de passeio a pé.
A Praça se
não me falha a memória, tinha o piso em ladrilhos hidráulicos de cores branca
ou cinza, e vermelho contrastando com a cor clara, formando vários desenhos em
grandes faixas. No centro havia um coreto em forma de avião, que tinha uma
escada que dava acesso ao pavimento superior um cimentado liso, com muretas e
postes de iluminação, que servia para retretas das bandas de músicas e show de
alguns artistas. Na parte inferior, funcionava um bar, ponto obrigatório das
madrugadas de jovens e adultos. Do alto
do avião, tinha-se uma vista panorâmica de toda Avenida João Pessoa, incluindo
aí o famoso Grande Ponto. A praça servia também para festas religiosas e
populares, além de comícios políticos. Lembro-me bem da Festa da Mocidade, que
era um grande parque de diversão, frequentada pela sociedade de Natal, com
divertimentos para adultos e crianças. Lembro-me que eu e meus irmãos juntamente
com papai e mamãe íamos com as melhores roupas para este evento. Roda gigante,
carrossel de carrinhos e cavalinhos, carros elétricos conhecidos como bate e
volta, trem fantasma, vários jogos para adultos, tiro ao alvo e outros.
Ao lado da
praça, ficava um grande prédio onde funcionou o Cinema Rio Grande, o melhor cinema
de Natal e um dos maiores prédio da cidade. Em frente funcionava o Centro
Cearense que na minha juventude, um ponto de encontro para jovens e adultos.
“Praça o teu
nome vão guardar/ E quem lá foi namorar/ Não esquecerá/Breve tu serás a Casa de
Deus/ Eis aqui nossa homenagem/E também o nosso adeus.”
Assim
escreveu e cantou o poeta, prestando suas últimas homenagens a praça dos seus
sonhos. A praça de suas belas recordações, de uma juventude feliz e sadia. As
imagens saíram dos seus olhos, mas ficaram e ficarão eternamente em suas
lembranças.
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