Monsenhor Lucas. 50 anos de sacerdócio
30/09/2020
29/09/2020
Elefantes brancos no Elefante Potiguar
Tomislav R. Femenick - Jornalista
Partindo da premissa de que o nosso Estado é um dos menores e mais pobres do país, é lógico se pensar com parcimônia no que gastar os parcos recursos de que dispomos. Mais lógico ainda é que se empreguem nossas pobres riquezas em projetos que gerem bem-estar para a população e que possam alavancar nossa renda, através de aumento da produção agropecuária, extrativista, industrial, comercial e de prestação de serviços.
Entretanto, a realidade não é bem assim. Entram governos, saem governos, e o que impera é a construção de “elefantes brancos” que consomem nossos impostos em obras faraônicas e sem serventia, ou, quando muito são empreendimentos que usam apenas parte de suas respectivas capacidades produtivas ou de geração de conforto para nós potiguares. Vejamos alguns exemplos.
O caso exemplar é o Aeroporto
Aluízio Alves, localizado em São Gonçalo do Amarante, e que tinha por mote
servir a população da região metropolitana de Natal e, por extensão, de todo o
Estado. Tudo indicava que fosse
mais do que uma superfície terrestre dotada de pista, prédios e
equipamentos necessários ao embarque e desembarque de passageiros e cargas;
fosse mais que um simples aeródromo. Uma série de fatores apontava esse “algo
mais”. Tem a localização privilegiada e a tendência mundial das empresas
aéreas de adotarem para suas rotas a logística conhecida como “hub-and-spoke”, usando um aeroporto como ponto de conexões
de suas rotas. Não foi o que aconteceu. O aeroporto de Recife, e não o nosso,
assumiu este posto. Restaram-nos as agruras de um aeroporto longe, que exigiu
investimentos em estradas de acesso. E lá se foram mais gastos públicos.
Outro “nó górdio” foi a Ponte Newton Navarro, necessária como nova ligação do centro à zona norte da capital, já que a ponte de Igapó estava saturada. O problema é que a nova ponte é baixa e não permite a passagem dos grandes transatlânticos. Mesmo assim, o porto de Natal foi dragado e foi construído um moderno e caro Terminal de Passageiros, que custou R$ 74 milhões, até hoje só parcialmente utilizado, quando o é. Por falar no Porto, há também há um terminal pesqueiro, no qual foram investidos R$ 28,1 milhões, cuja situação atual de uso é de “estudo”.
Agora vem o “crème de la crème”, a imponente Arena das Dunas, erguida para a Copa de 2014. São 77.783,50 m² de área construída, que ocupa um terreno de 114.063 m² e tem capacidade para 31.375 pessoas, com custo de R$ 423 milhões. Imponente e belo, ocupa o espaço em que antes existia o recém reformado Estádio João Machado. O problema é outro: um belo palácio que realça a precariedade do futebol potiguar. Os dois principais clubes do Estado, o América e o ABC, patinam, quando muito, entre a série “D” e “C”. Traduzindo a situação: é como se os pobres de Paris visitassem o Palácio de Versalhes.
Para driblar a escassez de
futebol, a Arena se transformou em espaço multiuso. Lá são realizados shows
musicais, espetáculos circenses, quadrilhas juninas e o escambau. Mesmo assim,
a operação é deficitária. Sabe quem cobre o rombo? O Erário do governo do Rio
Grande do Norte. Um estudo da Controladoria Geral do Estado calcula que nós, o
povo potiguar (através do governo do Estado, que usa os nossos impostos para
isso), já pagamos à OAS, construtora e operadora da Arena das Dunas, a bagatela
de R$ 707 milhões.
Enquanto isso, o Estado está
inadimplente com seus funcionários. Há duas folhas de salários atrasadas há
cerca de dois anos e sem previsão de quitação. Falta dinheiro para a gasolina
dos veículos da saúde e da segurança pública. Nas unidades regulares de saúde
falta tudo; algodão, gases, mertiolate. Nas escolas (agora fechadas) há
necessidades de reformas, faltam giz, cadernos, livros e lápis. Na Secretaria
de Segurança faltam pessoal, coletes à prova de balas, armamento moderno e até
a munição é regrada.
A primeira obrigação de qualquer
governo é fazer seu povo feliz, não iludido. O Aeroporto de São Gonçalo
enchouriçou a vida dos passageiros; a ponte Newton Navarro (por não telas de
proteção), virou ponto de suicídios; a Arena virou apenas dunas.
Tribuna
do Norte. Natal, 27 set. 2020
22/09/2020
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Um homem e a sua obra
Patrimônio
Macaíba, 17 de setembro de 2020. O sol já ia alto e ventava em setembro como se ainda fosse agosto. Na entrada da cidade, obras na estrada, e o busto de Augusto Severo, impávido, como se estivesse como o aviador a ver o mundo de um balão, indiferente às mudanças.
A cidade caminhava um dia de semana, o comércio agitado, no centro. A fachada da igrejinha e o prédio da prefeitura restavam como uma lembrança do passado até que, mais adiante, no fim de uma rua sem fim, uma pequena casa sem azulejo na fachada, portão de alumino ou vidraças, recebia o vento e a luz da manhã de sol.
À sombra da buganvília, a casa parava o tempo como no tempo que só ela existia e tudo aquilo era um descampado. A casa restou como coisa de dois séculos passados. A data está presente: 1856. É o Solar Caxangá, Instituto Pro-Memória de Macaíba.
As paredes, as portas, os vãos, os caibros, nada mudou e a casa está lá, e como tudo que fica no tempo exigiu os reparos necessários e o acompanhamento do arquiteto Ubirajara Galvão que, incrédulo, orientava o processo de recuperação e restauração, nos conta Olimpio Maciel, da porta, o homem que fez da casa um instituto e do instituto um memorial do Rio Grande do Norte.
É o Rio Grande do Norte e a sua Macaíba no retrato das velhas figuras, em bustos, no mobiliário que conta não só outros tempos, mas outros usos nos objetos de ontem como uma carteira escolar, um gramofone, uma máquina fotográfica, e tantas outras peças, sem contar os livros.
Tudo parece imóvel, indistinguível, estático, mas tudo ganha vida quando Olímpio Maciel deita um olhar sobre uma peça ou é indagado acerca disto ou daquilo que ali está. Então, os retratos ganham nome, lugar, data, as famílias recuperam os seus parentescos, os artistas revivem em suas obras, tudo ganha vida.
O instituto de Olimpio Maciel é um projeto inovador, pioneiro, único, de um homem que, não só como médico radiologista, salvou vidas ao diagnosticar os seus pacientes, mas que fez para Macaíba e para o Rio Grande do Norte o que cada município deveria ter, um santuário da sua vida cultural, das suas figuras, dos seus artistas, dos seus nomes, um espaço dedicado ao passado.
E, assim, o médico, no seu silencioso oficio de colecionador, construiu a sua obra. Salvou durante toda a sua vida a memória e a cultura do Rio Grande do Norte que hoje ele reúne no seu acervo e apresenta no seu museu. Um gesto que deveria não só ser copiado a torto e a direito mas que também deveria ser tombado como patrimônio cultural.
Para mais informações, navegue: http://www.institutojosejorgemaciel.org.br/
Para ler este e outros inscritos, acesse: gustavosobral.com.br
21/09/2020
A 5ª DIMENSÃO DO ESTRESSE
Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com
18/09/2020
A 5ª DIMENSÃO DO ESTRESSE
Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com
15/09/2020
Os Monomotapas
Tomislav
R. Femenick - Historiador
O e-mail era lacônico: “O que
sabe do gd Zimbábue?”. Respondi sucinto: “É assunto do meu livro Os Escravos”. Recebi de volta: “Então escreva um artigo”. Aqui está ele:
Entre os anos 300 e 850 d.C. povos chonas (shonas), vindos de terras
próximas ao lago Taganica, chegaram à região onde hoje se localizam as repúblicas
de Zimbábue, Zâmbia e Malaui. Anos depois, iniciaram as primeiras edificações
de pedra que integram um dos mais intrigantes monumentos da história da raça
negra e uma das maiores e mais notáveis construções da Idade do Ferro: o “Grande Zimbábue”. Os primeiros prédios
teriam sido erigidos por volta do ano 1100 e as grandes muralhas entre os anos
1350 e 1400. Esse conjunto (e outros de menor grandeza) localiza-se entre os
rios Zambeze e Limpopo, em um platô com altitude que vai de mil a dois mil
metros.
Hoje o Grande Zimbábue é reconhecidamente
um dos mais importantes sítios arqueológicos da África Negra. Acredita-se que tenha sido a corte real e um
centro de rituais religiosos. É uma construção feita com pedras de tamanho
quase igual, que se encaixam de maneira precisa e uniforme, em fileiras
contínuas e curvilíneas, sem qualquer argamassa para fixação. Na parte superior
da muralha há várias torres circulares, algumas medindo até quatro metros de
altura, separadas por intervalos iguais, com desenhos decorativos em monólitos de
granito ou de pedra-sabão. No seu interior há outros muros menores.
Ao serem redescobertas, em 1905, alguns estudiosos elaboraram a teoria
de que eram realizações de um povo perdido ou teriam sido os árabes que haviam
projetado as grandes construções de pedra. Hoje não há dúvidas; esta é uma
realização dos chonas.
No princípio do século
XV, eles se tornaram um império, conhecido como Monomotapa (ou Monomopata);
como os portugueses o denominaram. Esse Estado emergiu de um processo de
competição entre pequenos reinos antes existentes e, também, como resultado de
um conjunto de condições econômicas objetivas, que tinham como fim controlar a
produção de ouro.
A atividade econômica
mais comum entre os povos da Grande Zimbábue era a criação de bovinos e a
agricultura. Como as suas terras não eram propícias à formação de pastagens
durante todo o ano, desenvolveram o sistema de transumância,
deslocando o gado da planície para o planalto, na estação de seca, e do
planalto para a planície, nas estações chuvosas. Dedicavam-se, também, à
metalurgia de ouro, à extração de pedras preciosas, à mineração de ferro,
estanho e cobre, bem como ao comércio de marfim e escravos. Seus mercados eram
o Egito, outros países africanos, a China e, possivelmente, a Índia.
Em meados e até perto do final do século XV, o Império atingiu o seu
apogeu. Foi nesse período que Vasco da Gama aportou na ilha de Moçambique,
então um enclave árabe na terra dos chonas. Os relatos de seus diários de bordo
fazem referência à riqueza e cultura desse povo da costa oriental africana.
Antes de partir, o navegador luso mandou bombardear a cidade. Na sua chegada a
Lisboa, recebe “honrarias e mercês”, entre outros motivos por ter localizado as
minas de ouro dos monomotapas.
Em 1501, Pedro Alvares Cabral, de regresso das Índias (para onde foi
após ter descoberto o Brasil), enviou um emissário à “terra do ouro”,
objetivando trocar tecidos de algodão e miçangas pelo metal precioso. No ano
seguinte Vasco da Gama voltou à região e iniciou os estudos para a construção
de uma fortaleza e uma feitoria.
O mito, a verdade, o simbolismo e o fascínio do ouro dos monomotapas,
contagiaram muitos europeus. Até Luís de Camões, em seu grandiloquentíssimo
poema laudatório dos feitos e conquistas portuguesas, baseado em viagem que
Vasco da Gama empreendeu à Índia, caiu pelo encanto desse ouro. Sofala é citada
em pelo menos três vezes. “...as ondas navegamos, de Quíloa, de Mumbaça e Sofala [...], donde a rica Sofala o ouro manda [...]. Olha a casa dos negros [...],
qual bando espesso e negro de estorninhos, combaterá em Sofala a fortaleza
Nhaia com destreza” (Os Lusíadas; Primeiro
Canto, verso 54; Quinto Canto, verso 73, e Décimo Canto, verso 94,
respectivamente).
Tribuna do Norte. Natal, 11 set. 2020.
07/09/2020