CLEANTHO SIQUEIRA (2)
Jurandyr
Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
do Instituto Histórico e Geográfico
do RN
Antes
de completar o tempo na Companhia Quadros para tornar-se Reservista, Cleantho
Homem de Siqueira passou um tempo servindo como funcionário da Estrada de
Ferro, repartição federal onde o genitor, Carlos, ocupava cargo de direção.
Por
essa quadra da sua juventude ele tinha amizades, naturalmente, com a meninada
da sua idade. Os Pedroza, Walter, Petrônio, Murilo e outros irmãos, da rua
Uruguaiana, com os quais queimavam e rasgavam Judas, pendurados nos postes, nos
sábados de Aleluia, ao toque das badaladas do sino da igreja da Matriz!
Tomava
parte de brincadeiras outras, de brigas, as incontáveis brigas de ruas, que
faziam confluência com a da Estrela, com Demóstenes e os irmãos Leléu e Fafá;
Rui Parrudo, Lourival Cara-olho, da rua dos Tocos; Nilo da rua Mossoró; e
outros.
Quando
não, era a subida aos morros do Tirol, a descida à praia do Meio e ao Rio
Potengi, assistir brigas de galo, caçar sibite, sanhaçus do papo amarelo e outros
pássaros, em quintais, armados de baladeira, e outras diversões.
Proibido
mesmo era ficar parado.
O
avanço da idade ia mudando as amizades. Chega a vez dos irmãos Bezerra, Luiz,
José e Manuel Augusto nos verões da Areia Preta e Praia do Pinto, eles, sempre
acompanhados de José Mauro de Vasconcelos, o célebre autor de “Meu Pé de
Laranja Lima”. Ao lado deles, apareciam, de vez em quando, Armando Viana e, às
vezes, o irmão brincalhão, Aldo, irmãos que eram da bela Nair, namorada de
Cleantho.
Por
esse tempo, predominava a pesca e a natação, naquela ponta de mar, da praia
encantada.
Evoluindo
no seu deleite pela pescaria, Cleantho se torna, salvo engano, um dos
fundadores do Pâmpano Sport Clube, cuja sede funcionava na Praia do Meio.
E numa
dessas partidas ou torneios do Pâmpano, sucedeu o episódio que quase se transformou
em tragédia, do então menino que ficou, durante horas, numa das locas do
chamado Poço do Dentão, episodio que Cleantho presenciou e que deu o seu
esforço para salvá-lo.
Essa
inclinação pelo esporte, levou-o a pertencer, ao lado de Aluízio Menezes e Luiz
G. M. Bezerra, ao Conselho Regional de Desportos e da Fundação de Esportes de
Natal.
No
tempo da conclusão do Curso da Companhia Quadros, que fez ao lado de Aluízio
Alves, este depois, grande político, Cleantho foi convocado para o Exército. E
no posto de Sargento, se inscreve como voluntário à Força Expedicionária Brasileira, partindo,
em 1944, para a Itália.
Fazia
parte do décimo primeiro Regimento de Infantaria de São João del-Rei, das Minas
Gerais.
Permaneceu
alguns meses em solo italiano, antes de retornar ao Brasil. Contou, certa vez,
que terminado as suas hostilidades, presenciou cenas horripilantes, com a
miséria instalada nas cidades e povoações arruinadas pela guerra, onde imperava
a fome, e as crianças desamparadas, doenças e violências indomadas.
Passou
dias e noites intermináveis sofrendo no
corpo e na alma, as agruras de uma guerra que ele tomou parte ativa, em terra
estranha.
Não
foi acometido de neurose como tantos outros, porém, contava ter tido pesadelos
que o atormentaram por algum tempo.
Certa
vez, em escaramuças de trincheira, uma granada, lançada pelo inimigo, explode
perto dele, sangrando os seus ouvidos, fato que o fez baixar ao hospital de
campanha.
De
volta à pátria, durante a viagem, tem o nome relacionado para continuar no
Exército, a seu pedido.
Instala-se
em São João del-Rei,
nas Alterosas. Nos ares mineiro conhece uma linda moça de nome Maria de
Lourdes, com quem contrai casamento. Desse enlace matrimonial nasceram oitos
filhos: Carlos, Eleonora, Pedro Marques, Henrique Afonso, Everaldo, Ana Maria,
Gustavo e Rodrigo.
Retornando
a Natal é incorporado no décimo sexto Regimento de Infantaria e depois passa a
servir no Quartel-General da Guarnição.
A sua
reforma dá-se no ano de 1973, na patente de Major. Tem 51 anos de idade.
É
lembrado pelo então Magnífico Reitor, Genário Alves da Fonseca, que o leva para
a UFRN, onde permanece até 1991, aos 69 anos.
Na
Universidade ele dirige a Divisão de Atividades Desportistas e depois a
Coordenadoria do Restaurante Universitário.
No
governo estadual ele exerceu vários mandatos na Comissão de Moral e Civismo,
chegando a presidi-la, por algum tempo.
Como
militar recebeu várias Medalhas, a saber: - Medalha de Ouro (30 anos de bons
serviços prestados ao Exército); Cruz de Combate de Segunda Classe e Ordem de
Mérito Militar, no grau de “Cavaleiro”.
Pertencente
a uma família de ascendentes inteligentes, ele também o foi. Admirava a todos a
sua precocidade em ler jornais aos seis anos incompletos de idade, numa época
em que a meninada iniciava a soletrar aos sete anos!
Já em
idade madura, teve a idéia ou foi sugerido por amigos, para escrever um livro
sobre a guerra que participara. E ele, depois de alguma reflexão, o fez.
Trata-se de uma obra bem escrita, com estilo claro e de conteúdo importante
para os anais da nossa História, já que relaciona todos os riograndenses do
norte que participaram daquele conflito bélico.
Tive o
grato ensejo de prefaciá-la. Tem ela as suas orelhas apresentadas pelo
historiador Olavo de Medeiros Filho, de saudosa memória.
O
livro em questão foi re-editado pela Editora da UFRN.
Antes
de adoecer, chamou-me à sua casa e deu-me um presente régio: - uma bela enciclopédia
de doze volumes, contando cento e cinqüenta e seis colaboradores. Uma beleza!
Cleantho
Homem de Siqueira deixou escritos esparsos e algumas Palestras por ele
proferidas em ambiente militares e em Colégios, ministradoras do civismo
pátrio, uma dessas palestras recebeu o elogio público do intelectual Veríssimo
de Melo.
Foi
ele um cidadão honrado, católico praticante, amigo dos amigos, tolerante,
apaziguador e exemplar pai de família.
Deixou
saudades.
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