31/08/2018

O LIVRO ORGANIZADO POR ASSIS CÂMARA




O lançamento deste livro, organizado por FRANCISCO DE ASSIS CÂMARA, traz uma série de depoimentos daqueles jovens que participaram da "República Potiguar de Montparnasse" - Marcos José de Castro Guerra, Maria Marta de Castro Guerra, Rejane Cardoso, José Augusto de Albuquerque Othon, Paul Ammann e Safira Bezerra Ammann, ocorrido ontem, no auditório da OAB-RN. 
Foi uma noite de reencontros e de resgate resgate de testemunhas da História, dos anos conturbados de nossa juventude em Paris de  1968. 
Foi servido um bufet da melhor qualidade e apresentada uma seleção musical sensacional, puxada pelo Mestre Carlos Zen. VALEU 

Em seguida, fotos da exposição de livros e revistas alusivos ao evento, que enriqueceu ainda mais a noite de alegria e confraternização.










QUINTA CULTURAL - SUCESSO

Como era esperado, a QUINTA CULTURAL do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, neste dia 30 passado foi indiscutivelmente um sucesso.




"O VIOLÃO - Evolução histórica e musical" foi a palestra proferida pelo Confrade CLÁUDIO GALVÃO e pelo Professor EUGÊNIO LIMA recebendo o entusiasmado aplauso dos que compareceram ao evento, aberto de forma aberta pelo Presidente ORMUZ BARBALHO SIMONETTI.




Alguns momentos da palestra e concerto, com execução virtuose do grande instrumentista/palestrante.
Uma surpresa agradável foi o convite do palestrante para que os diretores CARLOS DE MIRANDA GOMES e ODÚLIO BOTELHO cantasse estrofes da "Serenata do Pescador" (Praieira), de Otoniel Menezes e música de Eduardo Medeiros, na condição de antigos seresteiros e "meninos prodígios", nos idos de 1950 na Rádio Poti.

 

Flagrantes do público que prestigiou o evento.

Pela importância cultural desse tipo de evento, o Presidente do IHGRN vem fazendo veemente apelo aos associados através de mensagem do seguinte teor:

Caro(a) confrade/confreira/diretor,
O programa, que intitulamos de Quinta Cultural, tem grande importância para o IHGRN, eis que se trata de divulgação da nossa história e da nossa cultura, único programa em atividade no momento. Por outro lado, contamos com a colaboração de um palestrante que, de forma espontânea e gratuita, deixa os seus afazeres para colaborar com o Instituto.
Nos dirigimos a cada um de vocês que, na qualidade diretor desta Instituição, é o anfitrião da casa. Assim sendo, necessário se faz a presença de todos, para recepcionar os convidados e prestigiar o palestrante.
Contamos com a sua compreensão e colaboração.
ORMUZ BARBALHO SIMONETTI
PRESIDENTE



















29/08/2018





Marcelo Alves

Um terceiro tipo?

Os especialistas adoram classificar os romances policiais (ou detetivescos) em dois tipos: policiais de enigma e policiais noir, também chamados, respectivamente, de policiais ingleses e policiais americanos, levando em consideração os países de onde esses dois subgêneros de literatura (policial) teriam se originado. 

Da Inglaterra, na categoria de policiais de enigma, vêm, por exemplo, as estórias de Arthur Conan Doyle (1859-1930, escocês de nascença) com o seu Sherlock Holmes e de C.K. Chesterton (1874-1936) com o seu Father Brown. De lá também vem Agatha Christie (1890-1976), com os seus impagáveis Hercule Poirot e Miss Marple, que para muitos representa a quintessência do romance de enigma. Nesses policiais, via de regra, o leitor é “convidado” a desvendar o crime. Ele segue os passos e o raciocínio do detetive através de um jogo de pistas e charadas até o final, em regra, surpreendente. Pode-se dizer que o mistério é, de fato, o mais importante da estória, muito mais que o ambiente em que ela se passa (por exemplo, o ambiente das estórias de Agatha Christie é muito “saudável”, como a alta sociedade londrina, pequenas cidadezinhas inglesas ou o pitoresco oriente próximo). Já dos Estados Unidos da América vêm os clássicos do policial noir, escritos por gente como Raymond Chandler (1888-1959) e Dashiell Hammett (1894-1961), que, considerados os fundadores desse subgênero, são seguidos por outros grandes autores como James M. Cain (1892-1977) e Ross MacDonald (1915-1983). Chandler e Hammett, através dos seus detetives Philip Marlowe e Sam Spade, nos apresentam um mundo estranho – embora muitas vezes verdadeiro – de dinheiro abundante, destruição pelo álcool, casamentos falidos, fêmeas fatais e assassinatos, tudo isso misturado a um aparelho policial e judicial corrupto, enfrentado pelos seus detetives durões. Aqui, a “atmosfera” na qual estão inseridas as personagens, carregada, noir, é tão ou mais importante do que a trama em si. Alguns autores, claro, transitam com igual familiaridade entre o policial de enigma e o policial noir. Georges Simenon (1903-1989), com os seus “Maigrets”, é um exemplo disso. Simenon/Maigret, não resta dúvida, sempre nos “convidam” a desvendar o crime. Seguimos os passos do detetive e as pistas deixadas pelo autor. Mas, para Maigret, o detetive de Simenon, a atmosfera do local do crime e as peculiaridades das condutas e da psicologia dos envolvidos são também fundamentais para desvendar o mistério. 

Sob um ponto de vista bem interessante, um dos que apontam essa dicotomia entre policiais de enigma e policiais noir – e nós, pretensos juristas, adoramos as dicotomias – é o linguista e pensador búlgaro Tzvetan Todorov (1939-2017). Em “Poética da Prosa” (Editora Martins Fontes, 2003), Todorov afirma que, no dito policial de enigma, encontramos uma dualidade. Esse tipo de romance policial “não contém uma, mas sim duas histórias: a história do crime e a história da investigação. Em sua forma mais pura, essas duas histórias não têm nenhum ponto em comum. (…). A primeira história, a do crime, termina antes que a segunda comece. Mas o que acontece na segunda? Poucas coisas. Os personagens dessa segunda história, a história da investigação, não agem, só tomam conhecimento. Nada pode acontecer com eles: uma regra do gênero postula a imunidade do detetive”. Já o dito policial noir é um romance “que funde as duas histórias ou, em outras palavras, suprime a primeira e dá vida à segunda. Não nos relatam mais um crime anterior ao momento da narrativa, a narrativa coincide com a ação. Nenhum romance noir é apresentado sob a forma de memórias: não há um ponto de chegada a partir do qual o narrador abarcaria os acontecimentos passados, não sabemos se ele chegará vivo ao final da história. A prospectiva substitui a retrospectiva”. Se no policial de enigma, os seus personagens principais (o detetive e um amigo “narrador”, quase sempre) estão imunes a quaisquer vicissitudes, a situação “se inverte no romance noir: tudo é possível, e o detetive põe em risco sua saúde e até sua vida”. 

Entretanto, o próprio Tzvetan Todorov especula a existência de um terceiro tipo de romance policial, o “policial de suspense”, que teria surgido da combinação das propriedades do policial de enigma e do policial noir. Assim como no policial de enigma, o policial de suspense tem duas histórias, a do passado e a do presente. Esta, entretanto, como se dá no policial noir, é a mais importante. O leitor quer saber o que se deu antes; mas a sua atenção se volta, sobretudo, para o que vai acontecer na trama em desenvolvimento. Ele (o leitor) quer uma explicação sobre os fatos passados, ponto de partida da estória, mas está ainda mais curioso sobre o que vai acontecer, no decorrer da trama, àqueles personagens principais, que, ao contrário do que se dá no policial de enigma, estão com a vida em jogo o tempo todo. Os exemplos mais típicos desse subtipo são, a meu ver, aquilo que Todorov apelidou de histórias/estórias de “suspeito-detetive”, nas quais o autor prescinde de um detetive profissional (ou mesmo amador) como personagem principal e condutor da investigação, pondo, nessa posição, o próprio suspeito do crime. Como explica Todorov, “nesse caso, um crime é cometido nas primeiras páginas e as suspeitas da polícia recaem sobre determinada pessoa (que é o personagem principal). Para provar sua inocência, essa pessoa tem de encontrar por conta própria o verdadeiro culpado, mesmo se para isso coloca a vida em perigo. Pode-se dizer que, nesse caso, esse personagem é ao mesmo tempo o detetive, o culpado (aos olhos da polícia) e a vítima (potencial, dos verdadeiros assassinos)”. Um exemplo desse tipo de romance que me vem logo à mente é “The Thirty-Nine Steps” (1915), de John Buchan (1875-1940), que foi brilhantemente adaptado para o cinema por Alfred Hitchcock (1899-1980). Até porque sou fã do “Mestre do Suspense”. 

Mas aí é que está o problema: será que estamos mesmo diante de um terceiro tipo de romance policial? Ou seria o caso de um outro gênero de literatura, o dos romances de suspense? 

Sei lá. 

Essa divisão de gênero é sempre muito complicada.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

28/08/2018

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Rachel, cronista
A crônica e a crônica de Rachel de Queiroz, que se considerava essencialmente jornalista.


JORNALISMO E LITERATURA: A CRÔNICA DE RACHEL DE QUEIROZ
Gustavo Leite Sobral; Juliana Bulhões; Alberto Dantas
        Resumo:
Rachel de Queiroz se considerava essencialmente jornalista e, durante toda a vida, escreveu crônicas para jornais e para a revista semanal O Cruzeiro.
  A partir da leitura de seus escritos, é possível identificar na página do jornal diário a crônica como parte de um sistema, resultado de uma comunicação midiática e, portanto, instância de produção de sentido. Nesse contexto, apresentamos uma compilação de temas tratados em suas crônicas (QUEIROZ, 1963, 1976, 1993, 1994, 1995, 1999, 2006)
Palavras - chave: Jornalismo; literatura; crônica; Rachel de Queiroz.
  Abstract:
Rachel de Queiroz considered herself essentially a journalist and,
throughout her life, wrote chronicles for newspapers and for the weekly
magazine O Cruzeiro. From the reading of his writings, it is possible to identify in the page of the daily newspaper the chronicle as part of a system, the result of a mediatic communication and, therefore, instance of production of meaning. In this context, we present a compilation of themes treated in their chronicles (QUEIROZ, 1963, 1976, 1993, 1994, 1995, 1999, 2006).
Keywords: Journalism; literature; chronic; Rachel de Queiroz.
(O TEXTO COMPLETO PROCURAR NA INTERNET).

27/08/2018


 SAUDADES – Berilo de Castro

SAUDADES –
Mãe Alice, aqui estamos ao seu lado. Não, todos como você gostaria que estivessem. Mas aqui estamos para vê-la, abraçá-la e beijá-la.
Hoje, agora e unidos, aqui estamos nesse ambiente frio, à beira de um leito hospitalar. Você não está nos vendo, talvez nem nos escutando, mas o seu coração ainda bate forte, assim como pulsam vivamente suas artérias. Você, com certeza, nos enxerga e nos escuta de um outro jeito que é só seu, com muito amor e muito carinho, porque foi sempre assim que você nos viu e nos criou.
Hoje, é o dia do seu aniversário, terça-feira, 25 de agosto de 2015. Você completa 101 anos. Uma glória, uma bela e rica lição de vida. Uma história de muita simplicidade e humildade perene, uma alegria irradiante, horizontal e imortal.
Estamos, sim, sentindo falta da sua companhia, do seu sorriso contagiante, acolhedor e iluminado que tanto nos fez bem e que tanto nos fez vencedores.
Quantas vezes você sofreu por nós e com nós, porém todos envolvidos e protegidos pelo seu manto materno e glorificado de humildade e simplicidade.
Quantas vezes você foi nossa médica, nossa enfermeira, nossa  professora, nossa companheira, nossa conselheira, nossa confidente, nossa  guardiã e continuará sendo sempre. Você será em todo o  tempo o nosso referencial do bem e do amor.
Quantas vezes choramos juntos e demos boas risadas.
Quantas vezes você, com o terço na mão, rezava e pedia a Deus pela nossa proteção. E sempre foi ouvida (coisa de Santa).
Quantas vezes as suas mãos milagrosas curaram nossas feridas e alimentaram ricamente a nossa fome.
Quantas vezes, nos momentos de grandes dificuldades, você chegava e, com um gesto divino e de amor materno, nos enriquecia com palavras de humildade e de sabedoria.
Estamos aqui, mãe Alice, juntos, muito juntos, muito unidos ao seu lado, todos lhe abraçando e desejando melhoras.
Parabéns. Parabéns pelos seus 101 anos de vida exemplar e glorificada.
 Terça-feira, madrugada fria do dia 1º de setembro de 2015, uma semana após seu aniversário, naquele ambiente impiedoso hospitalar, no apartamento 313, chegava a sua hora final. Perdíamos naquele momento o seu convívio, o seu conforto  carinhoso e humano. Partiu não sei para onde.
“Seguirá caminhos de mil noites, por onde lágrimas descerão e formarão rios subterrâneos”, do poema Tua Face, do seu filho, o poeta Nei Leandro de Castro.
Saudades!
Berilo de CastroMédico e Escritor –  berilodecastro@hotmail.com.br
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

QUINTA CULTURAL

O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE dando continuidade à sua missão de divulgar as pesquisas históricas e geográficas do Estado, realizou no último dia 23, em seu salão nobre, uma excepcional palestra proferida pelo Professor JORGE LINS, tendo por tema "O ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO".

Aqui vemos a abertura do evento com a presença do Presidente do IHGRN ORMUZ BARBALHO SIMONETTI, ao lado do palestrante.

 
A apresentação do ilustre palestrante esteve a cargo do Diretor da Entidade, Professor GRACO AURÉLIO

 
Nesta foto o Professor JORGE LINS expõe os seus conhecimentos sobre o tema, sob o interesse da assistência que, ao final, travou proveitoso diálogo, elucidando dúvidas e obtendo esclarecimentos adicionais.

Registro de parte dos participantes do evento, em particular, membros da Diretoria.















25/08/2018

25 de Agosto – Dia do Soldado




O Dia do Soldado é comemorado, no Brasil, em 25 de agosto porque foi nesse dia que nasceu o patrono do exército brasileiro, Duque de Caxias.
O Dia do Soldado busca homenagear o empenho dos soldados do Exército Brasileiro em proteger a nação.
No Brasil, aos 25 dias do mês de agosto, comemora-se o Dia do Soldado. Essa comemoração faz referência à data de nascimento de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, nascido em 1803. O renomado oficial foi considerado o patrono do Exército Brasileiro e, pela honra desse título, o Dia do Soldado constitui-se como uma homenagem ao seu nascimento.
Luís Alves nasceu em uma fazenda da então Capitania do Rio de Janeiro. Era herdeiro de uma família da aristocracia militar portuguesa. Seu pai serviu ao exército português no Brasil, que, à época do nascimento do futuro duque, em 1803, estava na iminência de um choque contra as forças napoleônicas na Europa, o que resultaria na mudança da família real portuguesa para o Brasil. A vinda da família real para o Brasil, a elevação do país à categoria de Reino Unido e a futura independência, em 1822, transformaram a vida de Luís Alves.
Quando o Brasil tornou-se independente e adotou o modelo imperial de governo, sob a liderança de D. Pedro I, as forças militares também começaram a passar por uma transformação e associaram-se à figura do imperador brasileiro e às novas instituições criadas sob a égide da Constituição Imperial de 1824. Anos mais tarde, sobretudo no Período Regencial, quando, a partir do ano de 1838, começaram a estourar várias revoltas de teor separatista no Brasil, o Duque de Caxias já era um oficial respeitado e conseguiu uma enorme projeção por comandar exitosamente a dissipação de várias dessas revoltas.
Nesse período, especificamente no ano de 1841, Caxias recebeu seu primeiro título nobiliárquico, o de Barão de Caxias, que faz referência à cidade maranhense de Caxias, onde o exército imperial conseguiu uma de suas mais célebres vitórias. Ao longo do Segundo Reinado, Caxias teve a sua posição de nobre elevada para conde, marquês e, por fim, duque.
Duque de Caxias, herói nacional da Guerra do Paraguai, é considerado o patrono do Exército Brasileiro*
Além disso, Caxias foi senador do Império pelo Rio Grande do Sul, província para a qual também foi nomeado por Dom Pedro II comandante-em-chefe do Exército em operações. Nas fronteiras do Sul do país, a partir de 1852, Caxias esteve à frente das represálias contra as investidas de Argentina e Uruguai ao Brasil. Ao lado de outros comandantes célebres, como o general Osório, o Duque conseguiu grandes vitórias sobre as tropas do ditador paraguaio Solano Lopez entre os anos de 1866 e 1868, naquela que foi a maior guerra já vista na América do Sul, a Guerra do Paraguai.
Caxias faleceu em 1878 e até hoje sua memória é lembrada não apenas no Dia do Soldado, mas também em vários rituais e cerimônias do Exército Brasileiro, com o uso de uma réplica do seu espadim pelos oficiais formados na Academia Militar das Agulhas Negras.

Por Me. Cláudio Fernandes

23/08/2018

LEMBRE-SE SEU COMPROMISSO DE HOJE COM A QUINTA CULTURAL



INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN IHGRN <ihgrn.comunicacao2017@gmail.com>


Caro sócio,

Será hoje, 23/08/2018, às 18 horas, no salão nobre do Instituto Histórico, a Palestra do Professor Jorge Lins, sobre o ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO.

Aguardamos a sua presença.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

 
Marcelo Alves

 

Sobre Francisco Suárez (II)

Como dito no artigo da semana passada, Francisco Suárez (1548-1617), fundado na matriz tomista, tratou de diversos temas gerais da ciência jurídica (o conceito de Justiça, o direito divino, o direito natural, a lei e por aí vai) e, também, de institutos específicos do direito, vinculados aos ordenamentos jurídicos então vigentes (tais como o direito de propriedade e o próprio conceito de Estado soberano). Entretanto, embora partindo dessas premissas teológicas (como de regra se dava com os mestres de Salamanca), profundo conhecedor do direito romano e dos vários direitos nacionais e locais vigentes no seu tempo, ele extraiu novos conceitos e definições jurídicas precisas acerca dos temas analisados. 

Francisco Suárez, por exemplo, tinha uma visão bastante interessante do direito natural e das instituições jurídicas de maneira geral – visão mais moderna, com certeza, se comparada à ortodoxia tomista de até então –, que deveriam ter fundamento não somente na revelação divina, mas, também, a partir dos critérios da razão humana. Como registra Paulo Jorge Lima (no seu “Dicionário de filosofia do direito”, publicado pela editora Sugestões Literárias em 1968), Suárez, entre outras coisas, “considerava a lei natural como uma lei ética de sentido absoluto, superior e necessário, da qual Deus é o supremo legislador, igual para todos os homens e para todos os tempos. O direito natural é, pois, em si mesmo, imutável. Alguns dos seus preceitos, porém, podem variar, segundo o conteúdo social a que se apliquem e as situações históricas diferentes. Divide-se, assim, em direito natural preceptivo e direito natural dominativo. O primeiro é formado pelas determinações imutáveis e eternas, independentes da decisão humana, como, por exemplo, os preceitos do Decálogo. O segundo tem aspecto mais variável do que fixo, pois consiste em uma série de regras igualmente possíveis, entre as quais é lícito ao arbítrio humano escolher”. A título ilustrativo, indo do mais abstrato para o mais concreto, essa visão tinha aplicação no direito penal, no qual, como anota Antonio Padoa Schioppa (em “História do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea”, edição da WMF Martins Fontes, 2014), “desenvolvendo motivos parcialmente presentes em De Vitória e, antes dele, em outros teólogos e juristas medievais, o mestre de Salamanca afirma que o poder de jurisdição, com a autoridade decorrente de punir os criminosos, era inerente à própria existência de uma comunidade, em virtude da razão natural, sem a necessidade de pressupor um pacto nem de uma atribuição de autoridade por parte de Deus, mas unicamente com base na vontade e no consenso da própria comunidade”. 

Também foi objeto do escrutínio de Francisco Suárez a questão do direito de propriedade, este que talvez seja o primeiro direito “desenvolvido” pelos homens. Cuidava-se de uma questão complexa e recorrente entre teólogos e juristas medievais: como aceitar a propriedade privada como um direito natural, sendo pacificamente reconhecido que, na origem dos tempos, a propriedade dos bens era comum a todos os homens? A solução de Suárez foi bastante inteligente. Para ele, a norma de direito natural pertinente à comunhão originária dos bens, assim como várias outras normas jusnaturalistas, devia ser tida como “permissiva” e não como “preceptiva”. A propriedade comum era permitida, mas não necessária. Assim, admitia-se naturalmente a propriedade privada dos bens móveis e imóveis, que, de toda sorte, era já devidamente protegida, em quase todos os ordenamentos jurídicos de então, pelos seus respectivos direitos positivos. Esse ponto de vista, aliás, abre a possibilidade de criação de direitos naturais, no desenrolar da história, pela razão ou por iniciativa dos homens, algo, aliás, bastante vanguardista levando em conta a teologia/filosofia jurídica de então. 

Por derradeiro, nesse rol exemplificativo de temas jurídicos analisados por Francisco Suárez, temos a sua concepção de Estado, que, embora não tão original, é bastante refinada. Assim como para São Tomás de Aquino (1225-1274) e para os ditos humanistas (vide os artigos “Os humanistas” I e II), também para Francisco Suárez o Estado, tido como a “sociedade perfeita”, era um resultado da natureza racional do ser humano. E Suárez relaciona o Estado à soberania e ao poder do “príncipe” ou governante. Como explica Cabral de Moncada (em “Filosofia do Direito e do Estado”, vol. 1, Arménio Amado Editor Sucessor, 1955), para Suárez, sem a soberania, “o Estado não pode existir. O homem nasceu animal social e político, como nasceu racional; e, como não é possível o Estado sem poder e soberania, segue-se daí que estes poder e soberania tão-pouco são criação arbitrária do homem, mas sim exigência da mesma lei natural e racional”. Doutra banda, “se o poder é inerente a estes modos de ser do homem, daí decorre ainda que ele, inicialmente, não pode deixar de residir na própria comunidade politicamente organizada para a qual existe. O poder sobre os homens, que não vemos estar nas mãos nem de Deus nem dos anjos, não pode pois estar senão nas mãos dos próprios homens, embora não considerados separadamente, uti singuli, nem mesmo como multidão amorfa, mas só como comunidade perfeita e já politicamente unida, uti universi”. E é aqui que Francisco Suárez, “partindo das premissas acima expostas, desenvolve com mais rigor certas ideias que, se estavam já no Doutor Angélico, contudo, estavam longe de ter nele a importância que depois alcançaram. Essas ideias são: a da contratualidade na base do Estado e a da posterior transferência da soberania do povo para o príncipe. Uma é a do pacto ou contrato social (pactum unionis) pelo qual os homens se reúnem em comunidade perfeita; a outra a do pacto ou acordo (pactum subjectionis) pelo qual eles transferem depois o poder para os governantes”. 

Para concluir, relembrando tanto Francisco de Vitória (1483?-1546), sobre o qual conversamos aqui faz uns quinze dias, como Francisco Suárez, mais uma vez anoto que a principal característica dos mestres de Salamanca foi analisar o direito – as suas questões jurídicas mais abstratas como também os seus diversos institutos – sob os pontos de vista do direito romano e dos diversos ordenamentos jurídicos então vigentes, mas submetendo-o, sempre, ao crivo dos valores e dos princípios da teologia cristã. Diz-se que, pela primeira vez, após séculos de exegese, sucessivamente pelos glosadores, pelos comentadores e pelos humanistas, o direito romano justinianeu – referente ao Imperador romano-bizantino Justiniano (483-565) e ao seu “Corpus Iuris Civilis” – era também acuradamente avaliado por um critério externo a ele, que podia, inclusive, levar à sua própria rejeição, se esse direito dos homens estivesse irremediavelmente em descompasso com os preceitos superiores, eternos e imutáveis da Revelação. 

Marcelo Alves Dias de Souza 
Procurador Regional da República 
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL 
Mestre em Direito pela PUC/SP

21/08/2018



INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN IHGRN <ihgrn.comunicacao2017@gmail.com>


Caro sócio,

Levamos ao seu conhecimento as duas próximas "Quintas Culturais":

23/08/2018 - 18h
TEMA: - O ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO
PALESTRANTE: -  Professor Jorge Lins

30/08/2018 - 18h
TEMA: - O VIOLÃO: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E MUSICAL
PALESTRANTE: - Professor e pesquisador Cláudio Galvão, com ilustração musical do professor e violonista Eugênio Lima de Souza

Contamos com a sua ilustre presença.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
A história de Maria
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Doutor Silva receitou banho de mar e alertou: cuidado que o mar de Olinda é perigoso e ela não pode entrar sozinha


Maria adoeceu. Teve Beriberi e quase que se ia. Os médicos em Natal não acertavam a doença. Nina mandou busca-la para o Recife, lá era mais adiantado. Recife andava no bonde a burro, os homens de brim claro e branco, escândalo foi quando o príncipe de Gales desceu sem sobrecasaca. Doutor Silva Ferreira, que curou a asma de Abigail, desvendou o mal que atacava Maria. Beribéri. Banho de mar era remédio.

Chique era na praia de Boa Viagem coalhada de palacetes de gosto duvidoso, e muito misturado era o banho no Pina. Doutor Silva receitou banho de mar e alertou: cuidado que o mar de Olinda é perigoso e ela não pode entrar sozinha. Tia Cina, esposa de tio Gudes, tinha um casarão em Olinda e tratou de hospedar a doente e mandou logo providenciar uma cadeira de rodas.


A recomendação médica foi seguida à risca. Maria na cadeira de rodas e uma tijelinha que se enchia com a água do mar e levavam para molhar as pernas. Maria fez o tratamento, ficou boazinha e até morrer nunca mais teve nada.




A MULHER DO DELEGADO

Valério Mesquita*

Macaíba é um filão inesgotável de histórias e de tipos inesquecíveis. No final de semana reencontrei um velho amigo e conterrâneo hoje residente em Natal. Relembrou-me antigas passagens da vida emocional da cidade. Brindamos a vidinha de ontem e de hoje falando de coisas, de pessoas, daquela atmosfera lírica do final dos anos cinquenta para o início dos sessenta, sob testemunho e juramento do bom vinho do Porto. Só me pediu para que não revelasse o seu nome. E logo me contou uma do delegado de Macaíba, homem valente e de pavio curto designado no governo Dinarte Mariz para “resolver as pelejas políticas e as pendências dos contrários”. Aliás, delegado político naquele tempo era o que não faltava pelo interior do Rio Grande do Norte. Tratava-se de um tenentão, alto, olhos azuis, namorador, arbitrário, cuja presença no cabaré inibia até ereção. Tudo aquilo que representasse jogatina, roleta 36, jogo do bicho, caipira, etc., era permitido desde que pagasse “dízimo” à delegacia. Mas, o contraponto da conduta policial era proibir jogo de sinuca para os menores de dezoito anos. Nós dois estávamos inseridos no contexto proibitório, e, por várias vezes, batíamos em fuga com a aproximação dos marrons fardados.
Nessa época, Nelson Gonçalves desfilava os últimos sucessos que embalavam a boemia local nas festas e nos bares. Inclusive, lembra-me o amigo, ele estivera na cidade cantando no Pax Clube. Mas a nossa história começa no bar de Jorge Leite da Costa que fora arrendado a uma família chegada a Macaíba, vinda do interior. Uma garota, filha do locatário, tornou-se a sensação da cidade em plena rua João Pessoa, coração do comércio. Rosto e pernas bonitas, olhos e cabelos sensuais, tudo enfim, enfeitiçava a galera jovem que começou a fazer ponto no tradicional bar de Jorge Walkiria, assim chamado por causa da marca do seu charuto. Uma garota como Ivânia – esse o seu nome – o delegado tenente logo iria capturá-la – à guisa de proteção às atividades comerciais da família. Afinal, eram forasteiros. E, assim aconteceu. “Seu Delega” apaixonou-se, comentavam as vozes da rua. E logo chegou uma radiola novinha comprada na Importadora Omar Medeiros, Natal. A musa sentava-se à calçada ouvindo as canções de Nelson: “a flor do meu bairro, tinha o lirismo da lua...”. O vestidinho curto mostrava uma nudez parcial para desespero do delegado. A turma entrava no bar mesmo sem ter o que comprar. Inventava. O fato estava atrapalhando as missões e investigações do tenente que transferiu o seu expediente funcional para o bar. Qualquer olhar indecoroso de algum distraído esbarrava na cara do delegado. “O que foi que viu? Dê o fora!”.
A coisa atingiu um ponto que a delegacia se tornou um problema muito menor do que a incolumidade física da “flor do nosso bairro”. O ciúme policial havia chegado às raias do absurdo. Mas, só depois que um conhecido vereador foi surrado pelo delegado, flagrado com a sua paquera em atitude libidinosa no escurinho da esquina, é que tudo terminou. O tenente foi transferido, Nelson emudeceu, o bar fechou e a cidade perdeu a musa que veio de longe. Dia seguinte, a rapaziada afanosa procurava saber para onde havia partido a princesa. E teve gente que foi atrás. Aí começa outra história.

(*) Escritor.

20/08/2018

PAUSA PARA A MEDITAÇÃO - NINGUÉM É DE FERRO



Para descansar das labutas diárias do IHGRN, Dona Joventina Simões brindou os colegas com um cozido especial em sua casa. Papo solto, mas também discussão de projetos, pois o cachimbo deixa jeito na boca.