Cardeal EUGÊNIO SALES
Jurandyr Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Aplicando
a capacidade cognitiva à disposição de um labor construtivo, fez de Dom Eugênio
Sales alvo do aplauso unânime dos seus patrícios.
Um
Prelado originário de uma minúscula cidade - Acari, obscuridade geográfica do mapa-mundi, converteu-se no grande apóstolo da
modernidade católica, cuja admiração causada pelo trabalho magnífico
empreendido, atravessou fronteiras internacionais e chegou à abóbada do
Vaticano.
Dom
Eugênio tornou-se
"um virtuoso na arte do possível",
como diria Jean Lacouture (1991) a respeito do
herói de Pamplona o fundador da Ordem Jesuíta, a instituição dos conquistadores
e dos intelectuais da Igreja Católica Apostólica Romana.
A extraordinária trajetória do Cardeal Sales
começou em nossa Capital,
passando pela Cúria de Salvador e ultimando no Arcebispado da Cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro.
Foram
cinquenta anos de luta pertinaz, sem canseiras nem cavilações; nem demagogia, sem alarde e sem buscar os holofotes da
publicidade paranóica. Proeza fantástica somente realizável e consumada
pelos verdadeiros líderes da Humanidade, labor incansável reconhecido por
todos.
Não direi aqui as suas muitas realizações. O seu
número exorbitaria do texto aqui aplicado. Não aludirei
às suas Palestras nacionais e internacionais, às Medalhas recebidas, aos
Troféus acumulados, os testemunhos dos políticos, intelectuais e Cardeais de
todos os idiomas ditos a seu respeito e também de Pontífices. O seu curriculum
vitae daria as páginas de uma plaquete. Desenho, apenas, nesta página, alguns
traços marcantes da sua vida trepidante, a vol d’oiseau.
Pertence,
Dom Eugênio, à categoria restrita daqueles bravos em que a Nação pode confiar o seu patriotismo e a Igreja o seu
altar. Nele, dificuldade não era sinônimo de impossibilidade.
Ninguém
poderá medir no compasso, pesar na balança, e pôr na estatística as realizações desse Notável condutor de almas.
Muitas vezes pensava uma iniciativa pela manhã e na parte da tarde estava ela concretizada. A sua atividade
indormida transfor-mou-o num grande administrador, auxiliada, também,
pela clarividência de sua mente objetiva.
Disse
Peter Druker, famoso autor da Ciência da Administração, que
"não há países subdesenvolvidos; e sim,
sub-administrados".
Conclui-se desse corolário ser o bom político, o
bom administrador o fator essencial do desenvolvimento civitizatório de uma
nacionalidade. O Brasil já teve bons e medíocres
governantes todos sabem; como a Igreja Católica, Bispos realizadores e outros apenas
contemplativos.
O Trabalho foi sempre a constante e a determinante
ideia fixa posta em prática por esse audaz cavaleiro do Grande Rei, vencendo
todos os aclives do caminho tortuoso percorrido.
Ele semeou a semente do Bem no coração dos fiéis, dos infiéis, dos letrados e
ignorantes, pois todos são filhos de Deus.
Como
disse Vieira, tribuno inigualável, há muita diferença entre o semeador e o que
semeia.
O semeador é o nome, o que semeia é ação! O
apostolado de D. Eugênio foi todo de Ação.
Não havia óbices para o herói de Pamplona no ardor
da sua luta. O mesmo se deu na vida do Cardeal Sales, toda ela determinada
através de um trabalho pertinaz, em edificar
uma Igreja melhor "Quero uma Igreja de Homens e não de pedras", disse
certa vez, visando o Bem da humanidade, como induz a divisa jesuíta: Ad Majorem Dei gloriam (Para a maior glória de Deus).
Todos
devemos ter um ideal, um ideal nobre. D. Eugênio acendeu a chama do ideal desde
a mocidade.
"Felizes,
disse Bordeaux, os que colocaram bem alto o sonho da sua vida". Afirmou
Riboulet (Rumo à Cultura, 1977): "Quando
o ideal se apodera de uma inteligência, domina-a completamente".
Expressões
estas condizentes com a postura existencial do eminente Bispo potiguar,
obedecendo, sempre, na sua vida um ideal nobre.
Eis
por que exultava Pierre Rostand, da Plêiade, a chamar, sobre a amplidão
da praia sombria, a onda sonora do ideal.
Além de cultuar um ideal elevado, Dom Eugênio
aprofundou-se no fazer, dizendo com Carlyle:
"O viver é uma conjugação ininterrupta do
verbo fazer".
Não o fazer por fazer, da multidão anônima; mas, o
fazer programado pela inteligência e acionado pela vontade: o savoir faire!
De
suas meditações e questionamentos redundaram mudanças importantes no Governo
pontifício. A sua palavra autorizada foi ouvida por Chefes da Cristandade.
A
formação do ínclito varão católico foi mais intensificada no ambiente temporal,
do que propriamente no ambiente religioso, embora jamais descurasse a atenção primacial deste último. Cursou o Seminário depois
do período turbulento da puberdade. Passou a infância e parte da adolescência
envolvido na sociedade profana, leiga e liberal.
Diversa,
portanto, a sua visão social daquela vislumbrada pela maioria dos seus colegas
de ministério eclesial. Assim foi a vida de Loyola; do Bispo de Hipona e de
alguns Papas, dentre eles João XXIII
e
Paulo II.
Daí, a inclinação de D. Eugênio, desde a Ordenação
em buscar responsabilidades junto aos leigos, para juntos atuarem nas
comunidades ditas carentes. Tal se depreende do texto bíblico, a
atuação de Esdras, o sacerdote e de Neêmias, o leigo; animados ambos, numa ação
conjunta pelas terras da Judeia.
Ciente
da força da Imprensa, usou o Jornal, o Rádio e depois a Televisão, para ampliar
a voz do púlpito.
A prece contemplativa no Altar e a ação do Trabalho
formaram o binômio vitorioso da trajetoria do aplaudido Pastor. Jamais foi
dobrado pelo cansaço na caminhada por estrada tortuosa, sem admitir recuos ou
desfalecimentos.
Lembra esse labor
incansável, as palavras incisivas de Henri Bergson:
"O
que me impressiona em Jesus, é essa ordem de ir sempre avante. De modo
que se poderia dizer que o elemento estável do Cristianismo é a ordem de jamais
se deter".
Por
todos reconhecida a extraordinária gesta de meio século pela Igreja, pelos
trabalhadores, pela sorte dos detentos e reclusos e dos pobres em geral e
também guieiro da elite social.
Foi ele um Pastor que teve dignidade no cargo
exercido, em consideração e reverência aos postulados éticos do Cristianismo.
A propósito disso
declarou Guizot:
"A
Igreja Católica é a mais vasta escola de respeito, de obediência e de
autoridade".
O
eminente nordestino foi uma das autoridades mais acatadas da nação brasileira.
Não
irei mais me alongar sobre personalidade tão significativa, mesmo porque dela
falar seria um nunca acabar...
Numa
palavra, foi ele o grande Príncipe da nossa Igreja!
O
Cardeal Eugênio de Araújo Sales não é somente uma destacada figura do Rio
Grande do Norte e do Brasil; tem ele o seu nome augusto lugar perpétuo na
galeria restrita e luminosa dos imortais vultos da Humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário