29/11/2016
Onde nasceu Laranjeiras
14/09/2016
Por Gustavo Sobral, fotografia acervo da familia
O engenho era a fábrica de se produzir
açúcar, os torrões transportados em lombo de animal até Igapó e ali de
canoa pelo Potengi até os armazéns da Ribeira em Natal. Aquele engenho
era movido a besta na almajarra, nele conduziam a lida, tirador de cana,
cambiteiro, mestre do açúcar, os trabalhadores. A cana plantada no solo
de massapê, fértil, rico, fecundo, que bebia no rio Ceará-Mirim.
Engenho em um único edifício abrigava
todas as funções para o fabricação do açúcar, moenda, caldeira, casa de
purgar. Lá no alto o bueiro e a casa grande, plana, comprida que ao
engenho se irmanava. Ainda havia a pastagem dos animais, o sítio de
fruteiras, as mais diversas, e um roçado.
A manga bacuri de Laranjeiras era o sabor inesquecível daquele tempo. "Luzia feito gemas nos caçuas de cipô",
escreveu sinhazinha Magdalena Antunes, que menina viu na feira. O caldo
que escorria da moenda seguia para o paiol e do paiol para os tachos
aquecidos pelo fogo da fornalha onde começava o cozimento e as chamas
subiam o bueiro e ganhavam todo o vale.
Formava-se o mel de engenho que seguia
para bater e depois para a casa de purgar onde era despejado nas formas.
Assim o melaço terminava de cristalizar e virava o mais doce açúcar.
Colégio Imaculada Conceição
27/11/2016
Texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Liceus, escolas, colégios, academias, seja como for que se intitulem
os espaços onde a história se construiu pelo ensino, os edifícios se
erguem como o símbolo em pedra e cal da matéria do conhecimento.
Conventos, monastérios, ordens tomaram para si essa missão. Em Portugal,
nas cidades da Espanha, em Roma, a sabedoria se moldou pelos
corredores, salas de aulas, pátios, átrios dos colégios religiosos e sob
o olhar vigilante de Deus.
Outro não seria o silêncio de um colégio centenário que fecha as
portas, registrando para o tempo a sua arquitetura. Corredores vazios,
janelas cerradas, cúpulas que arredondam o céu. A casa do saber cerra-se
no silêncio do seu fim. Encerradas as atividades, o burburinho, as
lições, os alunos, os cadernos, tudo se perde no tempo do passado e só
vive na memória das carteiras ocupadas, na exposição dos professores,
nos apontamentos na louça.
Resta a luz da tarde que doura as paredes, preenche os pátios e
ilumina o espaço casa do saber, onde a construção do conhecimento se
forma na lição dos mestres e na compreensão dos alunos, onde desfilaram
métodos de ensino, notas, boletins, tempo das aulas e tempo das férias, e
assim, sucessivamente, se fizeram, ano a ano, cento e dez anos de
ensino e conhecimento ministrado pela abnegação das irmãs Doroteias que
para ali se mudaram em 1906, erguendo a escola com dinheiro da venda de
um terreno.
Compraram sítio na Av. Deodoro, que daria vida ao colégio construído
com a ajuda de doações. Quando derrubada a primeira construção de 1937,
fez-se uma segunda, pronta em 1942, e, como um sopro no ar, tudo foi
levado pelo vento que fez do espaço o retrato do não ser, cento e dez
anos depois. E assim se apaga na Cidade Alta a permanência do que só é
construção, estático edifício na indiferença da Av. Deodoro da Fonseca.
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28/11/2016
Macaíba
VALE A PENA PEDIR DE NOVO
Valério Mesquita*
O rio Jundiaí, no
trecho em que atravessa a cidade de Macaíba, perdeu o solo, o curso, o chão, o
cheiro, a visão e é ameaça a segurança dos habitantes. Entre o parque
governador José Varela e a praça Antônio de Melo Siqueira deixaram crescer no
leito poluído imensos manguezais que enfeiam um dos mais bonitos logradouros
urbanos. Essa selva esconde lixo doméstico, carcaças de animais, marginais do
tráfico de drogas em todo o seu percurso e os galhos já ultrapassam a altura da
ponte e das balaustradas.
A Tribuna do Norte
publicou ano passado, excelente matéria sobre tudo que ameaça e destrói os rios
Potengi e Jundiaí. Mas, o foco da minha questão e, creio, dos cidadãos
macaibenses, reside exatamente neste aluvião de perguntas: por que o Idema e o Ibama não
evitam, aparando, podando, somente nesse trajeto o “matagal” entre o antigo
cais do porto até a outra lateral da ponte? Por que não licenciam a prefeitura
para o fazer?
A praça e o parque
perderam o charme de antigamente. Ninguém enxerga ninguém, olhando de um lado
para o outro. A conscientização ambiental deve ser obedecida até onde não
prejudique a funcionalidade urbanística e o senso prático e plástico do mapa
citadino. Desde quando, em 1950, se planejou e se construiu a estrutura de
pedra e cal das duas margens, o choque do progresso jamais prejudicou a
superfície do rio. Nem, tão pouco, o molestaram, a expansão e o desafio do
crescimento habitacional. Pelo contrário, a construção ordenou a trajetória das
águas e defendeu as ruas periféricas contendo os transbordamentos. Contemplo,
hoje, que os problemas das inundações estão equacionadas com a construção da
barragem de Tabatinga. Por que o Idema e
o Ibama, tão preocupados com o meio ambiente, não permitem, apenas, nesse,
pequeníssimo trajeto fluvial o corte da poluição visual da paisagem urbana e
memorial de Macaíba?
Ali, a vegetação
gigantesca e desproporcional encobre um dos pontos históricos do município.
Refiro-me ao cais das antigas lanchas que faziam o percurso fluvial entre
Macaíba e Natal: a lancha do mestre Antonio, o barco de João Lau, além da
lancha “Julita” que transportou tantas vezes Tavares de Lyra, Eloy, Auta e
Henrique Castriciano de Souza, Augusto Severo, Alberto Maranhão, João Chaves,
Octacílio Alecrim e tantas outras figuras notáveis da vida social, cultural,
política e econômica. Todos se destacaram nos planos estadual, nacional e
internacional. Ali, o centenário cais, jaz sob os escombros de verdes balizas
envergadas e fantasmagóricas. A visão noturna é tétrica e arrepiante. Desfigura
e mutila os padrões estéticos do planejamento da urbe que a faz parecer
abandonada e suja. Até a lua cheia que nasce lá por trás do Ferreiro Torto foi
encoberta.
Assim como se deve
obedecer a educação ambiental, do mesmo modo, exige-se o tratamento e o corte
do matagal por parte do Idema e do Ibama a fim de evitar o represamento do lixo
no leito, exclusivamente urbano. Nas capitais e cidades importantes do Brasil
banhadas por rios não se vê tratamento tão dispersivo e indiferente da parte
dos órgãos responsáveis. Ao redimensioná-lo neste texto, cabe aos institutos prefalados uma reflexão, um reestudo
sobre o cenário dantesco do rio Jundiaí na parte descrita. O povo macaibense
tem o direito de ouvir e a coragem de duvidar que essa “selva amazônica” que
devora e perturba a todos seja explicada e resolvida, sem slogans, clichês,
palavras de ordem, lugares comuns, peças de marketing ou princípios dogmáticos.
Que venha à lume as boas intenções e que não fique Macaíba submersa na floresta
de manguezais, ocultando o passado de sua arquitetura urbana de quase setenta
anos: Parque Governador Jose Varela e Praça Antônio de Melo Siqueira (1950).
(*)
Escritor.
27/11/2016
CANTILENA DO BECO DA QUARENTENA - GUMERCINDO SARIVA
A célebre rua estreita e curta, na sua longa existência
tem aparecido através de música, teatro, prosa, quadra epoemas modernos, mas,
nunca em versaria completa, historiando a sua vida passional, como agora o
fazemos, dando-lhe o título de CANTILENA DO BECO DA QUARENTENA, O mestre Castilho, em sua época, condenou
as Sextilhas, mas os cantadores de vida, principalmente Nordestinos, escreveram
seus poemas no estilo tradicional, também conhecidos por versos-de-seis pés.
A Sextilha-setissílaba tem várias formas de rimas, mas
adotamos, como a maioria dos cantores-matutos, na fórmula mais popularizada –
ABCBDB, - muito usada a começar do Século XVI. Mesmo os poemas eruditos,
versejaram neste estilo e eram aplaudidos porque o canto logo cedo seria
decorado pelo emparelhamento das rimas visivelmente aparecendo quase juntas.
Sobre o termo CANTILENA, que tanto pode ser uma cantiga
suave, como também uma narração fastidiosa, impertinente e enfadonha,
resolvemos situá-la fora da canção que, na musicologia - aparece i
Há muitos anos vimos realizando uma pesquisa em torno de
logradouros natalenses, insignificante, inexpressiva,
atoa, e J. J.,Rousseau chegou a dizer que não era aconselhável seu nome
aparecer nos dicionários musicais, contudo, o dicionarista
português Ernesto Vieira afirmou - "Hoje emprega-se
o termo num sentido desprezível para
designar uma melodia trivial e monótona". E num dos versos de Camões - OS LUSÍADAS - encontramos: - “As doces Cantilenas que cantavam os emicapros deuses”,
designar uma melodia trivial e monótona". E num dos versos de Camões - OS LUSÍADAS - encontramos: - “As doces Cantilenas que cantavam os emicapros deuses”,
No nosso livro ADAQIÁRIO MUSICAL BRASILEIRO, editado por
Saraiva S/A, S. Paulo, pg. 41,
sobre o termo, escrevemos: - “Acaba com essa cantilena - que é
uma canção suave, cantiga simples. No sentido em que se emprega o adágio,
quer dizer' entretanto, que se deve acabar com a maneira usada para iludir, com
a astúcia, Acabe com cantilena - isto é, deixe de querer tapear, iludir,
enganar”.
Estando, portanto, Cantilena em vários dicionários de música, chegamos à conclusão que o vocábulo
de tão simples formação, representa um insignificado aspecto na fonologia de um
povo. E, de sua inexpressividade, apelidamos a versaria comida neste trabalho.
-oOo-
A promiscuidade dos sexos, o oficialismo da prostituição
adesmoralização da sociedade com seus costumes educativos a perversão
desenfreada, edificam-se em Natal no início do Século XVII e talvez atravesse
outros tempos que vierem pela frente, porque continua cada vez mais alargado o
caminho espaçoso, tenso e amplo da miséria humana, vivida no centenário “Beco
da Quarentena”.
mas, o "Beco da Quarentena" foi o que mais
impressionou ao estudioso dos costumese tradições norte-rio-grandenses, porque
em nossa meninice fomos assíduos frequentadores daquele antro de vícios,
juntamente com outros colegas que já se foram do nosso convívio.
Consequentemente, jamais no bairro da Ribeira uma rua ilustrou tanto as páginas
de jornais, com assiduidade e constância, a boemia, a vagabundagem, a imoralidade
e a falta de decoro na ociosidade daquele ambiente de degenerescência moral.
Anos passados, numa das aulas que demos 'no "Curso
João Caetano", promoção do "Teatro de Amadores de Natal", a
convite do teatrólogo Sandoval Wanderley, no prédio do "Instituto
Histórico e Geográfico do Rio G.
do Norte, abordamos o tema da poesia popular, ocasião em que lemos o trabalho
agora transformado numa plaquete, a nosso ver, sem nenhum fator literário.
Oferecendo em seguida a versaria, eis que Sandoval Wanderley transformou o
assunto numa peçade sua autoria.
No decorrer do tempo, outros poetas e escritores
escreveram trabalhos literários enriquecendo a cultura norte-rio-grandense,
envolvendo fatos existidos no famigerado logradouro que ainda hoje vive seus
dias amargurados porque ainda é notória e até de “utilidade pública” sua
vivencia repleta de mulheres “perdidas”, alcoólatras inveterados e toxicômanos
encontrando nos entorpecentes as sensações anômalas de uma geração cheia de
complexos sociais.
A história contada pelo amigo que pediu segredo é
verdadeira. Ouvimo-la e a levamos para a versaria já conhecida por alguns
intelectuais de nossa terra, pois há precisamente cinco anos fizemos publicação
na Tribuna do Norte – 22-7-73 de uma parte da narração e, em seguida, um grupo
de oficiais da Policia Militar do Estado tirou vários exemplares em xerox.
G. S.
Natal, março de 1979
Vou narrar a triste história
Que um amigo montou
Pedindo ocultar seu nome
Que o poeta concordou.
Entre soluços e prantos
Que um amigo montou
Pedindo ocultar seu nome
Que o poeta concordou.
Entre soluços e prantos
Ele, assim, desabafou:
- “A criança é tal como ave”
Que voando na amplidão.
Não conhece o bom caminho
Segue em qualquer direção
Que voando na amplidão.
Não conhece o bom caminho
Segue em qualquer direção
Por isso, as vezes baqueia.
Recebendo após, perdão.
Recebendo após, perdão.
Atira pedra, faz arte
e também não obedece
e também não obedece
Os conselhos de seus pais
Sempre, sempre ela padece
Porque o mundo é quem ensina
E quando adulto, agradece.
Porque o mundo é quem ensina
E quando adulto, agradece.
Meu velho avô me dizia
Que este mundo era uma escola:
Aprendia quem apanhava.
Cem pancadas na cachoIa
Vivi rolando na infância
Como se fosse uma bola ...
Cem pancadas na cachoIa
Vivi rolando na infância
Como se fosse uma bola ...
Nascendo na Verde-Baixa
Vim pra Natal logo cedo,
A criança destemida
Enfrenta a vida sem medo
Mas precisou muitos anos
Pra contar este segredo.
Vim pra Natal logo cedo,
A criança destemida
Enfrenta a vida sem medo
Mas precisou muitos anos
Pra contar este segredo.
De fato, de minha terra
Saí feliz, satisfeito
Encontrando esta Natal
Sem maldade e sem defeito
Pois ela tinha o sabor
Saí feliz, satisfeito
Encontrando esta Natal
Sem maldade e sem defeito
Pois ela tinha o sabor
De alfenim, raiva e confeito.
Que as crianças saboreiam
Como faz o beija-flor
Sugando todo o aroma
No complexo do amor
Como faz o beija-flor
Sugando todo o aroma
No complexo do amor
Não é que os pássaros beijam
As flores com muito ardor?
As flores com muito ardor?
Em natal fui avisado
Pra não fazer tal asneira:
- Cuidado com o certo Beco
Encravado na Ribeira
Onde vive a perdição
Em forma de escarredeira...
Mas não tomei os conselhos
Que me davam todo o dia
Até que desnorteado
Naquele Beco caía
Que me davam todo o dia
Até que desnorteado
Naquele Beco caía
E agora conto pra todos
Fruto de uma rebeldia:
Fruto de uma rebeldia:
No “Beco da Quarentena”
Conheci a perdição
No meu tempo de criança
Sem ter da vida a noção
Convivendo com a mulher
Que enlutou meu coração.
Sem ter da vida a noção
Convivendo com a mulher
Que enlutou meu coração.
De lá saí arruinado
Me lembrando da besteira
- O amor era ali feito
Em cima de uma esteira
sob a, luz da lamparina
- O amor era ali feito
Em cima de uma esteira
sob a, luz da lamparina
que era acesa a noite inteira.
Minha amante a mais nova
Inquilina da Pensão
Chegada ainda menina
Vinha do alto sertão
Trazendo um velho vestido
Uma calça e um sutiã.
Inquilina da Pensão
Chegada ainda menina
Vinha do alto sertão
Trazendo um velho vestido
Uma calça e um sutiã.
Sua cor de Tez morena
Com cabelo cacheado
O corpo era um violão
Como sendo torneado
Tinha o rosto de
criança
Parecia um mimo achado.
Sem nenhuma experiência
Embrenhou-se na
desgraça
Juntamente com as
colegas
Que eram moças de outra
praça
Tomando a sua maconha
Com tangerina e cachaça
Às vezes, elaia no banho
La no Rio Potengi
Em noites de lua clara
Muitas horas eu assisti
Seu corpo banhado
n’água
Como se fosse a Jaci.
Ainda nas calças curtas
Residindo na Ribeira
As mulheres “davam
sopa”
Vivendo na bebedeira
Minha vida tinha inicio
No antro da “buraqueira”.
Naquele Becoda lama
Constantemente vivia
Entrando de porta
adentro
E a pobre da inquilina
Desamparada morria.
Sem ter pra quem apelar
A miséria ali reinava
Jamais a “Saúde
Pública”
Naquele Beco passava
Poe isso é que uma
criança
Perdida no mundo
estava.
Muitas “doenças do mundo”
Empestavam a mocidade
E essa chaga malditosa
Contaminava a cidade
Contaminava a cidade
Pois conheci muita, gente
Morrendo na flor da idade
Morrendo na flor da idade
A Polícia era constante
Dava ronda a noiteinteira
Mas nunca evitou as brigas
Vivendo de tal maneira
Dava ronda a noiteinteira
Mas nunca evitou as brigas
Vivendo de tal maneira
Que muitas mortes ali houve
Por-causa da bebedeira.
Por-causa da bebedeira.
No outro dia, os Jornais
Lamentavam, tinham pena
Dando notas alarmantes
Lamentavam, tinham pena
Dando notas alarmantes
A coluna era pequena
Pra contar as suas
brigas
No “Beco da Quarentena”.
No “Beco da Quarentena”.
Ocrime mais hediondo
De que tive conhecimento
De que tive conhecimento
Foi feito por um tarado
Por nome de Nascimento
Matou a Maria Rosa
ex-esposade um detento.
Por nome de Nascimento
Matou a Maria Rosa
ex-esposade um detento.
Nascimento era “embarcado”
Do navio “D. Vital”
Do navio “D. Vital”
E passando o ano inteiro
Afastado de Natal
Afastado de Natal
Por isso matou a Rosa,
Através do seu punhal.
Através do seu punhal.
Naquele Beco infeliz.
Conheceu a tal mulata
Conquistando o seu amor
Dando-lhe joias de prata
Assim, a Maria Rosa
Conheceu a tal mulata
Conquistando o seu amor
Dando-lhe joias de prata
Assim, a Maria Rosa
Das mulheres, era a “nata” ...
Também conheci a Rosa
E com ela tive amor...
Era mulher carinhosa
E com ela tive amor...
Era mulher carinhosa
Com seu corpo de esplendor
Seu riso, seu olhar triste
Seu riso, seu olhar triste
Tinha a ternura da flor.
Cantava samba e modinha
Ao som do meu violão
Recitava alguns poemas
Recitava alguns poemas
Coma maior exaltação
Parecia a voz dos pássaros
Nas manhãs do meu sertão
Praieira dos meus amores
Rosa cantava sorrindo
Ninguém melhor do que ela
Interpretava sentindo
Interpretava sentindo
O que Otoniel contou
Naquele poema tão lindo.
Outras modas potiguares
Rosinha cantarolava
Rosinha cantarolava
“Abre a janela ...” do Ivo
Feita a mulher que ele amava
E Olímpio Batista Filho
Feita a mulher que ele amava
E Olímpio Batista Filho
Horas depois, musicava.
As mulheres mais formosas
Daquele Beco infernal
Tinham os nomes mais lindos
Que conheci em Natal;
Daquele Beco infernal
Tinham os nomes mais lindos
Que conheci em Natal;
Rosa, Judith, Jurema.
Jaqueline e Marial,
Jaqueline e Marial,
Iracema eJacira
Julimar, Inês, Bonina
Iraci, Branca e Maria
Isabel, Mara e Alvina
Inês, Pureza, Cecí
Alice, Marta, Venina.
Julimar, Inês, Bonina
Iraci, Branca e Maria
Isabel, Mara e Alvina
Inês, Pureza, Cecí
Alice, Marta, Venina.
Foram “mulheres da vida”
eu de todas tinha pena
Pela fome que passavam
Corno um bando de falena
Vivendo desabrigadas
eu de todas tinha pena
Pela fome que passavam
Corno um bando de falena
Vivendo desabrigadas
No “Beco da Quarentena”.
Infeliz de uma mulher
Que morar naquela rua
Nunca mais terá sossego
Com a vida que ali flutua
Pois pra ganhar o seu pão
Tem que ficar toda nua.
Nunca mais terá sossego
Com a vida que ali flutua
Pois pra ganhar o seu pão
Tem que ficar toda nua.
Vendendo por mixaria
O que lhe deu o Criador
Beijos, abraços, afetos
Felicidade e pudor
O que lhe deu o Criador
Beijos, abraços, afetos
Felicidade e pudor
E seu formoso corpinho
O coração, e o amor.
O coração, e o amor.
Quarentena! És um inferno
Que os bichos-homens criaram
No reinado da miséria
Que os bichos-homens criaram
No reinado da miséria
Suas vidas estragaram
Infelizes dos mortais
Que naquele Beco andaram.
Quantas vidas preciosas
No Beco da perdição
Tiveram sua má sorte
Pois não indo pra Prisão
Findavam no Cemitério
No Beco da perdição
Tiveram sua má sorte
Pois não indo pra Prisão
Findavam no Cemitério
Sem ter uma "Extrema-Unção".
Faca, peixeira, quicé
Canivete e até porrête
Eram armas que se usavam
Quando havia “tirinête”
Canivete e até porrête
Eram armas que se usavam
Quando havia “tirinête”
E a soldada fugia
Pra se livrar do cacete.
Meu amigo Zé Vicente
Que morava em Caicó
Foi um menino educado
Pela sua bisavó
Que morava em Caicó
Foi um menino educado
Pela sua bisavó
Logo cedo foi ao Beco
Saindo de lá, cotó.
Saindo de lá, cotó.
Numa briga de malandros
Defendendo o Pedro Tasso
Defendendo o Pedro Tasso
Duma bruta covardia
Levou um forte balaço
Levou um forte balaço
Indo ficar no "Hospital"
Perdendo afinal um braço
Pederastas, cafetinos
Maconheiros, afamados
Frequentavam o tal Beco
Sendo bastante estimados
Avistando com seus homens
Avistando com seus homens
Com os quais eram amigados.
................................................
Hoje sou velho e doente
Residindo no Alecrim.
Viajei todo o Brasil
Conheci o "bom e o ruim"
Mas igual aquele Beco
Residindo no Alecrim.
Viajei todo o Brasil
Conheci o "bom e o ruim"
Mas igual aquele Beco
Só praga de mucuim.
E salvei-me porque Deus
O senhor da humanidade
Atendeu as minhas preces.
Teve de mim, piedade
Dando luz e suas bênçãos
Ainda na flor da idade.
O senhor da humanidade
Atendeu as minhas preces.
Teve de mim, piedade
Dando luz e suas bênçãos
Ainda na flor da idade.
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Me despeço dos amigos
Motivado de emoções
Motivado de emoções
No "Beco da Quarentena"
Tem mulheres e violões
Tem mulheres e violões
Muita cachaça e maconha
Pederastas e ladrões!
Pederastas e ladrões!
______________________
colaboração de ODÚLIO BOTELHO
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