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08/05/2014

Praça




1911 – Praça Augusto Severo

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br




Na Estação da Great Western da Ribeira, eu aguardava alguns familiares que retornavam a Natal. Bateu o sino da estação – o trem já deveria estar próximo – segundo alguns já partira da última parada intermediária.
Para me assegurar disso procurei um dos funcionários da rede que me comunicou que o trem estava dentro do horário e logo mais estaria chegando.
Aproveitei o tempo de espera para uns pastéis e bolos de tabuleiro vendidos na estação.
A informação estava certa – logo mais avistei a maria-fumaça. A locomotiva vinha da esquerda – margeando o Rio Potengi. Antes de aparecer na curva, ouvíamos o ronco forte da máquina resfolegando nos trilhos – espantando homens e animais.
Finalmente, a locomotiva apareceu ao longe, bufando fumaça pela longa chaminé.
Quando se aproximou da plataforma de embarque e desembarque, escutávamos o barulho dos ferros, o guinchar das rodas escorregando sobre os trilhos, a freada demorada, o aço sobre o aço, o chiado da fornalha e os vapores da caldeira.
Os passageiros desciam sem pressa, parecendo querer curtir os últimos momentos na carruagem de ferro. Uma pessoa me chamou atenção: uma senhora elegantemente vestida – enorme chapéu florido, sombrinha colorida e rendada, e sapato negro bicudo com fivela de prata.
Paralelamente, os funcionários da companhia desciam as malas e outras bagagens, com a vigilância atenta do chefe da estação.
Da porta da calçada da estação, quem vinha a Natal pela primeira vez avistava a bela Praça Augusto Severo, com o monumento à Nísia Floresta.
Pelo dia e hora quase não havia ninguém na rua. Várias casas comerciais estavam de portas fechadas.
Do outro lado da praça, o Teatro Carlos Gomes e o Grupo Escolar Augusto Severo, sob os olhares vigilantes da antiga fábrica de tecidos de Juvino Barreto.
Um carro de boi passava vagarosamente em frente da estação, com o seu canto triste produzido pelo eixo de suas rodas. Era um lamento sem fim... triste e ouvido à distância.
Esse cantoril era motivo de orgulho dos carreiros, que chegavam a jogar água no buraco da roda para que o canto saísse mais sofrido.
Corria o finalzinho de 1911 na Cidade dos Reis Magos. Por aqui não se falava de outra coisa que não fosse o recém-inaugurado Cine Polytheama – ali ao lado da estação. O cinema dera uma nova vida ao bairro ribeirinho.
As noites passaram a ter outro sentido para as famílias. De dia, grupos de meninos saíam pelas ruas, carregando cartazes e anunciando o filme que seria exibido nas “matinées” e “soirées” do cinema.
Os filmes em rolo de celuloide eram ansiosamente aguardados por todos. Naquela época, o cinema era mudo, viam-se as imagens, mas não havia som – o que os atores diziam aparecia em quadros, que se intercalavam com as cenas.
Do outro lado da praça, o Teatro Carlos Gomes a tudo assistia impassível.



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