Renovado, mas
com o mesmo DNA
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, contador e historiador
Três
eventos alteraram profundamente a estrutura do capitalismo: a revolução
bolchevique de 1917, a quebra da bolsa de New York em 1929 e a segunda guerra
mundial.
O
primeiro deles despertou os Estados Unidos e os países da Europa ocidental para
as reivindicações sociais, resultando em um freio na ganância dos empresários
que exploraram os trabalhadores sem que houvesse leis que lhes impusessem
limites, inclusive nas longas jornadas de trabalho. Foi a partir dai que
apareceram as primeiras legislações estabelecendo os direitos dos
trabalhadores.
O
colapso dos anos 1929/1930 evidenciou o fato de que o mercado não pode
funcionar sem controle e que o governo não deve ficar ausente dos fatos
econômicos. Somente com a ingerência do Estado, criando regras e intervindo
diretamente no sistema produtivo, foi possível restabelecer a ordem
socioeconômica nos países mais afetados pela crise.
A
segunda grande guerra resultou em dois cenários totalmente diferentes. Os
Estados Unidos dela saiu confirmado como a maior potencia mundial e os outros
países do continente americano deram um salto quantitativo e qualificativo em
suas economias. Por outro lado, foi o maior desastre econômico jamais
acontecido na Europa e na Ásia, que dele saíram com sua infraestrutura e seu
sistema produtivo destroçados, pois suas fábricas, portos e estradas eram alvos
preferenciais dos aviões alemães, aliados e japoneses.
A
recuperação desses países deu-se graça a ação norte-americana em suas economias,
via seus respectivos governos. Em valores atuais, cerca de 300 bilhões de
dólares foram aplicados como assistência econômica e tecnológica. Além do mais,
no Japão foi realizada uma reforma agrária e foram desmantelados os grandes zaibatsus (trustes), que controlavam a
economia e as finanças do país.
Esses
três acontecimentos terminaram por dar uma nova feição ao capitalismo
contemporâneo, tirano de suas características o absolutismo do mercado e o
reinado do laissez-faire.
Essa visão de um novo capitalismo, reformado, mais humanizado e não
totalmente livre para fazer o que quiser, teve repercussão em 1965, quando o economista,
professor e jornalista britânico Andrew
Shonfield, publicou sua mais famosa obra “O capitalismo moderno”. Nesse livro Sir Andrew diz que, embora as características básicas do capitalismo tenham
permanecido intocadas (relações de produção, de trabalho e de renda, por
exemplo), o impressionante ritmo do desenvolvimento tecnológico e
a busca do pleno emprego para a população economicamente ativa deram um novo
dínamo ao crescimento econômico, inclusive com maior distribuição da renda. Suas
explicações para que o capitalismo continue sendo a mola mestra da economia
incluem alguns outros pontos relevantes: a ingerência do Estado no planejamento
e na execução dos projetos de desenvolvimento, o aumento da parcela dos
recursos públicos destinados à promoção do bem-estar social e o crescimento da
renda real per capita da população.
Foi
dessa forma que os países desenvolvidos evoluíram e assumiram a ponta do
crescimento econômico mundial, sempre tendo em vista que a grande massa de
consumidores são os trabalhadores, que neles compõem a classe média.
Embora
não seja a maravilha das maravilhas e apesar de suas crises cíclicas, o
capitalismo tem se mostrado ser o melhor sistema possível no mundo real; sem
empulhações, elucubrações enganadoras, sem contorções argumentativas, sem
hipocrisias intelectuais. Enquanto isso por aqui ainda há saudosistas da utopia
do socialismo pseudocientífico. No entanto, a realidade vale mais que mil
palavras.
Tribuna
do Norte. Natal, 09 mar 2014.
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