CELESTINO PIMENTEL
Jurandyr Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Relembro o Atheneu Norte Rio-grandense dos anos 40, no
seu antigo prédio da avenida Junqueira Aires, da subida da Ribeira. Evoco
emocionado esse tempo da minha mocidade.
Educandário criado em 1834, o primeiro ou segundo do
Brasil, por lá passou um sucessão de gerações. Mestres-escolas, docentes
outros, funcionários e estudantes deram vida àquela escola de humanidades.
De época em época, pontificavam em suas salas de aulas
artífices da sabedoria magisterial, dentre esse corpo docente houve, também,
nomes que se destacaram na direção do seu destino.
Um deles foi Celestino Pimentel, professor dos mais
ilustres e ilustrados.
Autores aludem que os primórdios da escola pública são
consignados desde a batalha de Maratona, Grécia, quando a cidade de Trezena
hospedou velhos e crianças, sob a ameaça dos Persas, ocasião em que os
Trezenenses alimentaram e pagaram os salários dos mestres educadores, fato
narrado por Plutarco, no livro “Vida de Temístocles”. Séculos depois, Políbio,
historiador, censura Roma por ainda negar a instrução às crianças, uma medida
já antiga utilizada pelos gregos. Tal iniciativa helena é gravada em inscrições
referentes à estatização da escola. Havia legislação atinente à educação das
crianças, por parte do poder público. Em Roma o educador inicial era o chamado pater familae.
Relatos históricos da época assinalam ter sido Espúrio
Carvílio o pioneiro em abrir uma escola em Roma.
Dessas raízes, alteou-se a frondosa árvore da Escola
Pública até os nossos dias. O Atheneu,
no Rio Grande do Norte, do Brasil, recebeu essa herança bendita, abençoada
através dos séculos, em abnegação e trabalho.
O velho educandário hospedou durante anos um
verdadeiro símbolo principalmente nos anos 30/40 que se chamou Celestino
Pimentel, cujo nome incorporou-se à sua existência.
Vocacionado
para a instrução pública, o conhecido educador lecionava o idioma inglês. Na
sala de aula pontificada a sua pedagogia conservadora, tipo lorde britânico,
ensinando uma língua enviesada para a época, suscitando a curiosidade geral dos
alunos. Nesse tempo, um dos nossos colegas, chegando em casa foi indagado pelo
pai, se o inglês era difícil, respondeu: “muito difícil, papai. Basta dizer ao
senhor que as palavras dessa língua tem três significados. Por exemplo: o
professor disse uma palavra que se escreve five, pronuncia-se faive e quer dizer cinco!”
Todavia, tais dificuldades de começo eram resolvidas
pela didática compreensiva do mestre experimentado neste mister.
Celestino Pimentel, pela sua capacidade, credenciou-se
a ocupar um cargo importante, conferido
pelo poder público: - o de tradutor oficial da língua inglesa do Estado. E
nessa investidura, de grave responsabilidade, permaneceu por longos anos.
Era ele conceituado docente, porém, denotava um perfil
bem característico diverso do usual da sala de aula. Vocacionado se apresentava
mais para dirigir do que para lecionar, embora se apresentasse um professor dos
melhores.
O lugar de Diretor de estabelecimento escolar
preenchia os requisitos de sua personalidade, cuja empatia era portadora de
liderança. Tinha ele mais qualidades para o pragmatismo das ações. O desempenho
irrepreensível no posto de comando, a política educativa junto ao alunado e a
sintonia bem correspondida ao lado dos colegas professores, constituía-se no
trinômio plausível a uma salutar administração.
Reunindo esses requisitos positivos, o seu nome foi,
progressivamente, aclamado, durante anos, para a direção do velho Atheneu. E
sob o seu criterioso comando o vetusto educandário, famoso se tornou na
historia da instrução pública do Rio Grande do Norte.
Lembro-me de alguns componentes da sua diretoria, os
executores dos chamado serviços burocráticos, que era composto por figuras
importantes da nossa sociedade de então. Todos eles, competentes e cumpridores
dos seus deveres funcionais.
Chamavam-se Emídio Fagundes, maçom ilustre da época;
Sérgio Santiago, secretário e escritor de livros sobre o Espiritismo e outros
assuntos; Elesbão de Macedo, inspetor de alunos, vocacionado para a Política,
tendo, depois, sido eleito Vereador.
O professor Celestino marcou época na direção do
Atheneu. O biótipo lembrava o estrangeiro anglo-saxônico, de tez corada, alvo,
aquilino, dolicocéfalo e de gestos nobres.
Recordo que ele
se apresentava um docente e dirigente incansável. Dava expediente diário, o dia
todo, no velho educandário. Nas horas vagas gostava de fumar charuto, de cheiro
suave. De costume, portava terno azul, de paletó e gravada e era temível nas
provas orais do final do ano, provas complementares dos exames escritos
parciais.
Recordo-me que em períodos de férias regulamentares
convidava professores para dar Cursos de Férias. Num desses cursos a cargo do
professor Antônio Fagundes, houve uma palestra do padre Luiz Monte, Professor
de Latim e Matemática, que discorreu sobre o tema, “Formação Moral e Cívica da
Mocidade”, realizado se me não engano, na Associação dos Professores, prédio
localizado na avenida Rio Banco, desta Capital. De outra feita, a palestra
ficou sob responsabilidade do professor Clementino Câmara, intitulada “Caldeamento
de Raças; o mestiço, o mulato e o cafuzo, depois do descobrimento do Brasil”.
Noutra data, o palestrante foi o professor Israel
Nazareno, que teceu comentários sobre “o Idioma Nacional e a nova ortografia”.
Era assim Celestino Pimentel, trabalhando sem alarde,
mas, sempre atuante e delegando tarefas educacionais a outros colegas de
magistério, contanto que o aluno não ficasse esquecido.
Raramente era visto sentado no seu birô da sala da
Diretoria. A sua constante era o atendimento com o professor, o funcionário e o
aluno.
Homem de simplicidade a toda prova, no seio da
família, na Diretoria, na sala de aula, e na sociedade. O recato também era
outro atributo da sua personalidade marcante.
A figura eloqüente do professor Celestino Pimentel
deverá ser mais cultuada pela geração presente. O seu nome não deve ser
esquecido na memória da educação pública do Rio Grande do Norte.
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