115 anos de Luís da Câmara Cascudo
Por: Severino Vicente
Na minha modéstia
visão de pesquisador provinciano, para se medir um grande homem não há quadro
comparativo. Cada um tem seu próprio universo para exercitar sua grandeza
estrelar. O mundo do espírito, do intelecto, da compreensão do fenômeno humano
no dizer de Teillard de Chardin. Estes foram e continuarão sendo o campo onde
as qualidades do mestre Luís da Câmara Cascudo serão sempre lembradas. O
universo político do homem, o ecúmeno, a área onde se exerce e são estimadas as
qualidades desenvolvidas no mundo intelectual.
Luís da Câmara
Cascudo, este sábio sem fronteiras, tem características específicas para as
gentes tropicais que somos e as amorenadas que vivem entre os trópicos.
O Estado do Rio
Grande do Norte notadamente as instituições de natureza cultural, devem a este
notável homem de cultura, projetando o Estado e sua querida Natal e o Brasil no
mundo da pesquisa, mormente no universo do folclore e da cultura popular. De
seu gabinete de trabalho, na província que amava da qual nunca se afastou,
apesar das constantes solicitações de importantes universidades, instituições
cultural do Brasil e do mundo que queriam manter seu nome em altura ideal,
preferiu ficar em Natal, exercendo ao máximo sua capacidade mental, o amor e o
prazer pelo trabalho.
Cascudo foi o
primeiro intelectual tropical em toda extensão, num mundo em que ainda se
preferia pensar que a ciência, o conhecimento puro, a eficácia intelectual, a
proficiência do pesquisador seriam o apanágio das gentes das regiões
temperadas, onde os longos invernos, com as baixas temperaturas propiciavam o
estudo, estimulavam a cultura e o progresso material, porque, para os europeus,
a cultura e o progresso eram um privilégio desse mundo de luzes e de
preconceitos anti-tropicais.
Parece-me que foi
Tolstoi que aconselhou: “buscai o universal, escrevendo sobre tua aldeia”.
Cascudo provou que o gênio e o talento são superiores aos preconceitos, que não
há barreiras intransponíveis, para o trabalho honesto, a pesquisa séria mesmo realizada
num idioma de menor projeção universal.
Luís da Câmara Cascudo
consagrou-se nas primeiras décadas do século XX como a figura do intelectual
tropical esboçada por Debret na terceira década do século XIX. Rede pronta para
recebê-lo a qualquer hora do dia ou da noite, de pijama, chinelas e charuto
entre dedos em sua casa de teto alto e portas abertas, rodeadas de plantas e da
brisa morna de Natal.
Nesta visão de ente
tropical por excelência, fica mais fácil compreender Cascudo com sua prosa
densa e rica como a própria floresta que tanto assustou a vassalagem da Coroa
Portuguesa. Como a música de outro gênio, Villa Lobos, a prosa cascudiana flui
em catadupas como a intensa renovação das florestas dos trópicos em solos
fertilizados pela constante digestão das folhagens.
Meus amigos: muito me
emociona estar aqui nesta tarde de verão dionisíaco, baconiano, como
representante da mais importante instituição de estudos do folclore brasileiro,
a Comissão Nacional de Folclore.
Receba minha amiga
Anna Maria Cascudo Barreto e familiares o abraço do Brasil e me dê o privilégio
de transmitir aos amigos estudiosos do Folclore Brasileiro do Amazonas à Paraíba,
o abraço fraterno de Luís Câmara Cascudo e da Cidade do Natal.
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Severino Vicente
Presidente da
Comissão Nacional de Folclore
Cidade do Natal, 30
de dezembro de 2013
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