Na prática à práxis marxista é outra
Tomislav
R. Femenick – Mestre em
economia, contador e historiador
Práxis é uma
forma de pensamento que procura explicar a conduta humana em relação à
política, à economia e à moral. Se buscarmos suas raízes as encontramos nas
ideias de Platão, que procurou direcionar a ação política pela teoria. Já
Aristóteles entendia que a conduta humana, em relação à vida e suas relações
socioeconômicas, se caracteriza por uma objetividade
concreta e não por reflexões teóricas. O próximo grande salto foi dado por Hegel, que definiu a práxis como um processo de
interação da objetividade e da subjetividade tendo por base o pensamento e a ação
do homem, como agente das transformações sociais.
Já a práxis
marxista, é um conceito que procura explicar as ações humanas que objetivam
transformar a sociedade. Marx postula a
existência de uma teleológica nas ações do homem, relacionando ações com causas objetivas, fato
que explicaria as grandes lutas revolucionárias. A práxis marxista (aqui
simplificada) é a base da argumentação que dá suporte a outro pensamento central
do marxismo: o conceito de modos de produção, uma concepção abstrato-formal, um
processo de ascensão do concreto para o abstrato, de descida progressiva do
abstrato para o concreto e, finalmente, de comprovação empírica.
Em “A ideologia
alemã”, Marx e Engels afirmam que a forma como a sociedade está organizada para
a produção de bens identifica uma “fase
de desenvolvimento das suas forcas produtivas materiais” que, por sua vez,
determina as relações de produção entre os homens. Sobre essa estrutura
econômica é que se ergueria uma supraestrutura social, alicerçada em um
ordenamento político que se fundamentaria em formulações jurídicas, ambos (ordenamento
político e formulações jurídicas) resultantes da consciência da sociedade, esta
também consequência das relações de produção. Assim, o “processo da vida social, política e espiritual em geral” seria
resultante do modo de produção vigente. Todavia esse estado de coisa teria
caráter precário, pois a própria evolução das relações de produção criariam
choques de interesses entre as classes sociais, abrindo, “assim, uma época de revolução social”.
Esse
posicionamento deu ensejo ao desenvolvimento da teoria do “etapismo”. Engels foi o primeiro (Origen de la familia, de la
propriedad privada y del Estado) a apontar para o gradualismo, sendo seguido
por Lênin (Acerca del Estado, in Marx, Engels e el marxismo). Enquanto o
primeiro tomou como campo teórico a Europa ocidental, o segundo deu uma
amplitude geral ao conceito dos degraus evolutivos. Porém o “etapismo” só foi sacramentado como
dogma do marxismo quando Stalin (Materialismo dialético e materialismo
histórico) reconheceu como históricos somente “cinco tipos fundamentais de relações de produção: a comuna primitiva,
a escravatura, o regime feudal, o regime capitalista e o regime socialista”.
Ora, todas essas
contorções teóricas tiveram por objetivo sentenciar o fim do capitalismo, que
seria vitima de si mesmo: o crescimento do capital exige o crescimento do
proletariado que, vivendo na miséria, se engajaria na luta pela derrubada do
regime, fazendo surgir o socialismo que viria no bojo da ditadura do proletariado.
A realidade contradisse toda essa argumentação. Embora não o ideal, nos regimes
verdadeiramente capitalistas houve um crescimento continuado do padrão de vida
dos trabalhadores, enquanto que o socialismo “científico” veio e foi embora. Somente
restaram Cuba e a Coréia do Norte, simples ditaduras hereditárias. China e
Vietnã só têm de comunista o nome do partido no poder.
Tribuna
do Norte. Natal, 23 mar 2014.
O
Mossoroense. Mossoró, 15 mar 2014.
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