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12/03/2014



Renovado, mas com o mesmo DNA
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, contador e historiador

Três eventos alteraram profundamente a estrutura do capitalismo: a revolução bolchevique de 1917, a quebra da bolsa de New York em 1929 e a segunda guerra mundial.
O primeiro deles despertou os Estados Unidos e os países da Europa ocidental para as reivindicações sociais, resultando em um freio na ganância dos empresários que exploraram os trabalhadores sem que houvesse leis que lhes impusessem limites, inclusive nas longas jornadas de trabalho. Foi a partir dai que apareceram as primeiras legislações estabelecendo os direitos dos trabalhadores.
O colapso dos anos 1929/1930 evidenciou o fato de que o mercado não pode funcionar sem controle e que o governo não deve ficar ausente dos fatos econômicos. Somente com a ingerência do Estado, criando regras e intervindo diretamente no sistema produtivo, foi possível restabelecer a ordem socioeconômica nos países mais afetados pela crise.
A segunda grande guerra resultou em dois cenários totalmente diferentes. Os Estados Unidos dela saiu confirmado como a maior potencia mundial e os outros países do continente americano deram um salto quantitativo e qualificativo em suas economias. Por outro lado, foi o maior desastre econômico jamais acontecido na Europa e na Ásia, que dele saíram com sua infraestrutura e seu sistema produtivo destroçados, pois suas fábricas, portos e estradas eram alvos preferenciais dos aviões alemães, aliados e japoneses.  
A recuperação desses países deu-se graça a ação norte-americana em suas economias, via seus respectivos governos. Em valores atuais, cerca de 300 bilhões de dólares foram aplicados como assistência econômica e tecnológica. Além do mais, no Japão foi realizada uma reforma agrária e foram desmantelados os grandes zaibatsus (trustes), que controlavam a economia e as finanças do país.
Esses três acontecimentos terminaram por dar uma nova feição ao capitalismo contemporâneo, tirano de suas características o absolutismo do mercado e o reinado do laissez-faire. Essa visão de um novo capitalismo, reformado, mais humanizado e não totalmente livre para fazer o que quiser, teve repercussão em 1965, quando o economista, professor e jornalista britânico Andrew Shonfield, publicou sua mais famosa obra “O capitalismo moderno”. Nesse livro Sir Andrew diz que, embora as características básicas do capitalismo tenham permanecido intocadas (relações de produção, de trabalho e de renda, por exemplo), o impressionante ritmo do desenvolvimento tecnológico e a busca do pleno emprego para a população economicamente ativa deram um novo dínamo ao crescimento econômico, inclusive com maior distribuição da renda. Suas explicações para que o capitalismo continue sendo a mola mestra da economia incluem alguns outros pontos relevantes: a ingerência do Estado no planejamento e na execução dos projetos de desenvolvimento, o aumento da parcela dos recursos públicos destinados à promoção do bem-estar social e o crescimento da renda real per capita da população.
Foi dessa forma que os países desenvolvidos evoluíram e assumiram a ponta do crescimento econômico mundial, sempre tendo em vista que a grande massa de consumidores são os trabalhadores, que neles compõem a classe média.
Embora não seja a maravilha das maravilhas e apesar de suas crises cíclicas, o capitalismo tem se mostrado ser o melhor sistema possível no mundo real; sem empulhações, elucubrações enganadoras, sem contorções argumentativas, sem hipocrisias intelectuais. Enquanto isso por aqui ainda há saudosistas da utopia do socialismo pseudocientífico. No entanto, a realidade vale mais que mil palavras.
Tribuna do Norte. Natal, 09 mar 2014.

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