A Coluna do Gal. Miguel
Costa/Prestes em São Miguel/RN, em 1926. (VIII)
Luiz Gonzaga Cortez.
A Passagem do Exército Brasileiro
rebelde, conhecida por Coluna General Miguel Costa/Prestes, em 1926, pela Vila
de São Miguel, um lugarejo mixuruca de quatro ruas, não deixou rastro de terror
e destruição, pois já existia banditismo, coronelismo de baraço e cutelo,
assassinatos de encomendas, crimes hediondos, mandonismo, eleições sujas, etc. Matava-se
por qualquer motivo, à luz do dia. Sem me aprofundar no estudo da violência
quem imperou nas últimas 10 décadas na região Alto Oeste Potiguar, a 500 quilômetros de
distância de Natal, consultei o livro de
Zenaide Almeida Costa, “A Vida em Clave de Dó”, e extraí alguns trechos sobre
os potentados da região que eram chamados de “chefes”, mas que não passavam de
chefetes.
Houve um carnaval no “Grupo
Escolar” de São Miguel, em plena Quaresma, animado pela orquestra “Samba da
Bola Preta”, durante três dias e três noites, com muita cachaça, brigas e
foguetórios, música e danças na escola e no meio da rua. O chefe não estava na
cidade. Quando chegou e soube do ocorrido, disse para o pai de Zenaide, Sr.
Celestino, do cartório: “Celestino, ele não presta! É meu genro, mas não
presta! Ele me paga! Fique sabendo que não vai ficar assim!”. O coronel Farias,
poderoso Chefe da Vila, político de longas datas, estava furioso! O genro,
Pedro Inácio, tinha criado, sem o consultar, uma ala política diferente da sua.
Foi uma discussão violenta, de lá de casa ouvimos os gritos. O Coronel, alto,
vermelhão, nariz achatado, cabelos crespos já grisalhos, era conhecido pela sua
valentia e pelo seu poder absoluto. Não tinha inimigos declarados, mandava
matar todos eles. Mandara matar o próprio irmão, deixando o cadáver exposto na
estrada, proibindo que alguém chegasse perto. Com sua fala fanhosa, passara
ordem para que o corpo ficasse onde estava. Que os porcos bebessem o sangue e
os urubus comessem a carne. Quem desobedecesse cairia morto no mesmo
lugar”.(p.36). “.... Outras pessoas sofreram vexames semelhantes. Emboscada,
cabra morto enterrado nas beiras das estradas, era o clima em que se vivia.
Ninguém tinha coragem de viajar de noite, não se ficava nas calçadas depois das
nove horas”, (p.37).
O coronel Farias tinha contratado
Lampião para entrar na vila, matar o genro, Pedro Inácio e ir embora, foi ao
encontro do cangaceiro na estrada real, a 3 léguas de Pau Branco e avisou que
não fizesse o ataque. Lampião “seguiu seu caminho de destruição em busca de
Patú, Apodi, Mossoró”.
Um dia depois de uma grande festa
religiosa na Vila, o coronel Farias saiu de casa para ver as suas hortaliças na
beira de uma lagoa, passou perto local onde seu irmão caiu morto, quando foi
atingido por cinco tiros de revólver. Relata Zenaide Almeida Costa, na página
45 do seu livro: “O peito varado, o corpo caiu entre as pedras, ficando
encurvado, a cabeça em cima de umas, os pés em cima de outras. Escondidos no
mato, os dois cabras saíram de seu esconderijo, caíram em cima do corpo de faca na mão, furaram sem
piedade, cortaram o pescoço para arrancar a cabeça e espetar nas estacas da
cerca. O sangue corria, tingindo pedras e chão. Ninguém por perto presenciava,
apenas eles dois se satisfaziam na sua missão escabrosa. Quando conseguiram o
osso, faltando apenas acabar de cortar o couro para separar a cabeça do corpo,
uma mulher que morava nas imediações, estranhando os gemidos que ouvira dos
tiros, aproximou-se da cerca, viu que estava acontecendo, saiu correndo aos
gritos histéricos em busca de casa: Acudam, pelo amor de Deus, que tem dois
cangaceiros matando um homem no Riacho das Mulatas!”.
Os assassinatos continuaram,
mataram um irmão de Pedro Inácio, o mandante da execução do Coronel Farias. Pedro
Inácio foi absolvido em dois júris, e mudou-se para o Ceará e nunca mais retornou a São Miguel/RN.
O caro leitor sabe que a
impunidade e o “Sindicato do Crime” no alto oeste do RN, principalmente em São
Miguel, somente passou a ser combatida pelo Estado nos primeiros meses de 1983,
após a posse do governador José Agripino Maia? E a apuração de vários crimes começou depois
que o Diário de Natal, dirigido pelo jornalista Luiz Maria Alves, passou a
cobrir as investigações desenvolvidas pelo delegado Maurílio Pinto de Medeiros,
a partir de denúncias de familiares de Francisco de Assis Queiroz, o “Assis de
Totô”, filho de Antonio Cipriano de Queiroz, que dando tiros na estrada de
acesso a São Miguel. Mas isso é outra história.
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