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03/03/2014


115 anos de Luís da Câmara Cascudo
Por: Severino Vicente
 
Na minha modéstia visão de pesquisador provinciano, para se medir um grande homem não há quadro comparativo. Cada um tem seu próprio universo para exercitar sua grandeza estrelar. O mundo do espírito, do intelecto, da compreensão do fenômeno humano no dizer de Teillard de Chardin. Estes foram e continuarão sendo o campo onde as qualidades do mestre Luís da Câmara Cascudo serão sempre lembradas. O universo político do homem, o ecúmeno, a área onde se exerce e são estimadas as qualidades desenvolvidas no mundo intelectual.

Luís da Câmara Cascudo, este sábio sem fronteiras, tem características específicas para as gentes tropicais que somos e as amorenadas que vivem entre os trópicos.

O Estado do Rio Grande do Norte notadamente as instituições de natureza cultural, devem a este notável homem de cultura, projetando o Estado e sua querida Natal e o Brasil no mundo da pesquisa, mormente no universo do folclore e da cultura popular. De seu gabinete de trabalho, na província que amava da qual nunca se afastou, apesar das constantes solicitações de importantes universidades, instituições cultural do Brasil e do mundo que queriam manter seu nome em altura ideal, preferiu ficar em Natal, exercendo ao máximo sua capacidade mental, o amor e o prazer pelo trabalho.

Cascudo foi o primeiro intelectual tropical em toda extensão, num mundo em que ainda se preferia pensar que a ciência, o conhecimento puro, a eficácia intelectual, a proficiência do pesquisador seriam o apanágio das gentes das regiões temperadas, onde os longos invernos, com as baixas temperaturas propiciavam o estudo, estimulavam a cultura e o progresso material, porque, para os europeus, a cultura e o progresso eram um privilégio desse mundo de luzes e de preconceitos anti-tropicais.

Parece-me que foi Tolstoi que aconselhou: “buscai o universal, escrevendo sobre tua aldeia”. Cascudo provou que o gênio e o talento são superiores aos preconceitos, que não há barreiras intransponíveis, para o trabalho honesto, a pesquisa séria mesmo realizada num idioma de menor projeção universal.

Luís da Câmara Cascudo consagrou-se nas primeiras décadas do século XX como a figura do intelectual tropical esboçada por Debret na terceira década do século XIX. Rede pronta para recebê-lo a qualquer hora do dia ou da noite, de pijama, chinelas e charuto entre dedos em sua casa de teto alto e portas abertas, rodeadas de plantas e da brisa morna de Natal.

Nesta visão de ente tropical por excelência, fica mais fácil compreender Cascudo com sua prosa densa e rica como a própria floresta que tanto assustou a vassalagem da Coroa Portuguesa. Como a música de outro gênio, Villa Lobos, a prosa cascudiana flui em catadupas como a intensa renovação das florestas dos trópicos em solos fertilizados pela constante digestão das folhagens.

Meus amigos: muito me emociona estar aqui nesta tarde de verão dionisíaco, baconiano, como representante da mais importante instituição de estudos do folclore brasileiro, a Comissão Nacional de Folclore.

Receba minha amiga Anna Maria Cascudo Barreto e familiares o abraço do Brasil e me dê o privilégio de transmitir aos amigos estudiosos do Folclore Brasileiro do Amazonas à Paraíba, o abraço fraterno de Luís Câmara Cascudo e da Cidade do Natal.
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Palestra realizada em 30 de dezembro 2013, Instituto Luís da Câmara Cascudo.
Severino Vicente
Presidente da Comissão Nacional de Folclore
Cidade do Natal, 30 de dezembro de 2013
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