DALADIER
CUNHA LIMA – (1)
Jurandyr Navarro
(Do Conselho Estadual de Cultura)
A grandeza de uma cidade é medida pela
operosidade de seus habitantes. Às vezes, essa grandeza não é dimensionada pela
riqueza puramente material, porém, levando em conta a elevação espiritual.
A nossa Natal foi engrandecida pela dedicação
amorável do inesquecível Padre João Maria, médico das almas, aos filhos da
pobreza. O seu exemplo foi seguido por outro médico, com o soerguimento da
Maternidade “Mãe dos Pobres”, obra imortal de Januário Cicco, frondosa árvore
que tem dado frutos abundantes, no transcorrer do tempo.
Por outro lado, a nossa Educação teve
arquétipos admiráveis, atraídos por tão sublime missão engrandecedora da nossa
cidadania, notáveis vultos, reverenciados por gerações de um passado glorioso.
Em dias da modernidade, outros devotados, por
causa tão nobre despontaram em nossa
sociedade.
Um destes é Daladier Pessoa Cunha Lima!
Sacerdote da Medicina, que na mocidade sacrifícios profissionais ofereceu ao
seu altar, à altura da sua maturidade cronológica passou a dar prioridade à
instrução pública e privada, focalizando a sua atividade primacial no ensino
superior, inicialmente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a
grande Escola, erguida em 1958, onde aprendera, e aperfeiçoara a sua inclinação
pelo magistério, administração e liderança política.
Nela, fez o seu curso médico e a ela serviu,
ocupando os cargos mais importantes da sua Direção hierárquica na administração
universitária. Foi ele o único dos seus docentes, de que se tem notícia, ter
exercido, sucessivamente, os cargos em comissão de Coordenador de Curso, Chefe
de Departamento, Diretor de Centro, Pró-Reitor e Reitor.
Daladier Cunha Lima foi o primeiro Reitor
Magnífico, da história da UFRN, eleito para o cargo, democraticamente, pelo
sufrágio direto do alunado, funcionários e professores.
O seu mandato, à frente da nossa principal
escola pública, foi um dos mais eficientes.
Ultimada tão importante investidura, não se
quedou contemplativo. A inação não é companheira fiel das pessoas vocacionadas
para o trabalho, seja ele físico ou intelectual. De imediato, criou as Escolas
de idiomas, Yazigi, logo atraindo clientela interessada da classe jovem, curso
que teve efeito multiplicador em suas salas de aula, diante do sucesso obtido e
confiança nele depositada com inteligência e dedicação.
Em seguida, no seu afã de mais servir, à
Educação, teve o grato ensejo de dirigir a FARN, Faculdade Natalense para o
Desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Após resultado positivo da gestão,
outros cursos foram surgindo, resultando, anos depois com a criação do Centro
Universitário do Rio Grande do Norte – UNI-RN.
Voltou, assim, a ser Reitor, dotado de nova
experiência capacitadora a fim de enfrentar os desafios do progresso.
Tem sido ele um dos médicos educadores do
torrão potiguar, filiado à escola de Januário Cicco – primeiro Diretor da
primeira Faculdade criada no Estado, 1923, no governo Antônio José de Melo e
Souza, Escola de Farmácia; - de Onofre Lopes, Reitor da primeira Universidade e
de Luís Antônio dos Santos Lima, veterano docente do velho Atheneu, o primeiro
educandário do Estado.
Repleta de
dificuldades, a missão do educador e dos dirigentes desses templos sagrados do
ensino. As sendas de ramalhetes cobertas são impróprias aos vencedores de
árduas conquistas. “A coroa de louros somente cingiu frontes feridas”,
proclamou Lacordaire, a voz oracular das catedrais góticas.
Autores
religiosos bendizem as dificuldades por serem elas formadoras da elevação da inteligência, do caráter, da
vontade, acrescentando-se a
sensibilidade. São elas, de certa forma, estimuladoras, por conduzirem à ação
para, dessa forma, seus propósitos subirem o alto cume, e, dessa elevação
espiritual, vislumbrar esplendoroso firmamento.
Sublimes os obstinados, porque colheram o
triunfo através a luta perene, visando o bem da humanidade.
O perfil esboçado pelo trabalho de Daladier,
é a imagem de paciente labuta num desempenho perseverante, transpondo seguidas
etapas. Tem sido um labor abençoado, continuado e sereno, sem os atropelos do
açodamento.
Grava a literatura francesa que Voltaire
gastou seis dias, apenas, para compor a tragédia “Olímpia”. Concluída nesse
exíguo espaço de tempo, enviou exemplar a um amigo, dizendo: “É obra de seis
dias”! no que o amigo retrucou – “não devia descansar no sétimo”.
Daí, tirar-se a ilação conhecida de que a
pressa é inimiga da perfeição.
A pressa é somente aconselhável, seguindo-se
o pensamento de Boileau, que prevenia: - “Apressai-vos, lentamente.”
Sentenciou um provérbio chinês, que o tempo e
a paciência transformam a folha da amoreira em seda, inferindo-se, ser a
perseverança a chave do sucesso.
“Querer, trabalhar e esperar”, eis o trinômio
basilar do êxito do médico Pasteur.
Tal instrumental redundou em sucesso o
catecismo educacional de Daladier Cunha Lima.
É ele dotado de temperamento afável, de
perfil social avesso às vaidades, por primar uma postura refinada pelo
cotidiano ritual dos ensinamentos civilizatórios.
Além de educador, o personagem em tela é
escritor, sendo autor de obras publicadas e outras inéditas, destacando-se o
monumental livro “Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação”. É
acadêmico, pertencendo aos quadros da Academia de Medicina do Rio Grande do
Norte, sendo, também, integrante de outras instituições culturais.
Pelo reconhecimento público ao seu labor
dedicado ao magistério superior e o visualizado no espaço cultural, tem
recebido homenagens corporificadas em comendas, medalhas e títulos.
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