Pau dos Ferros e os
Rocha Pitta
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Nesse final de semana que passou, estivemos em Pau dos
Ferros. Não para fazer pesquisas genealógicas, mas para Dona Graça dar
treinamento às suas consultoras Mary Kay. Foi uma viagem agradável, onde
encontramos muito verde, apesar da falta de água em vários municípios do Rio
Grande do Norte.
Fico me perguntando, como e por que alguns pioneiros foram
parar em lugar tão distante de tudo, com todas as dificuldades daquela época.
Muitos portugueses se embrearam pelo sertão, possivelmente para fugir de alguma
perseguição ou condenação, por puro espírito aventureiro ou para criar gado.
Lá em Pau dos Ferros, nos abrigamos no Hotel Jatobá, onde
fomos recebidos por Doralice, esposa de Licurgo Quinto.
No escritório dela, nos deparamos com um mapa escolar,
político e urbano, do ano de 2006, patrocinado pela Prefeitura. Na sua parte
histórica, encontramos o seguinte trecho: “Neste ano de 1763, foi concedida uma
sesmaria ao Sr. Luiz da Rocha Pita e Dona Maria Joana, e ao Sr. Simão da
Fonseca e seus filhos. Todos esses senhores foram os pioneiros que se
estabeleceram e trabalharam duro e juntos construíram um núcleo de um pequeno
povoado, alguns anos depois já havia bastante casas de taipas ao redor da
pequena fazenda.”
Esse histórico foi encomendado, possivelmente, a um amador,
pois contém equívocos que transmitem informações incorretas, principalmente, se
atentarmos para o fato de ser um mapa dito escolar.
Já tivemos oportunidade de escrever três artigos, aqui neste
jornal, sobre os Rocha Pitta. Mas, vale a pena recordar um pouco da presença
deles no Rio Grande do Norte, embora haja ainda algumas informações
contraditórias. Uma carta régia, de 14
de dezembro de 1701, menciona que quarenta vaqueiros enviados por Antonio da
Rocha Pitta, pretenderam expulsar os gados existentes na Ribeira do Assú,
procedimento que foi sustado pelo capitão general de Pernambuco. Ademais,
Antonio da Rocha Pitta recebeu mais sesmarias do que deveria, o que provocou
várias contestações.
Por volta de 1733, filhos e herdeiros do coronel Antonio da
Rocha Pitta, e de sua mulher Aldonsa de La Penha Deus Dará, requereram e
tiveram, posteriormente, confirmação real de duas sesmarias: a de Pau dos
Ferros e a de Campo Grande, ambas na Ribeira do Apodi. Esses documentos estão no
segundo livro de Sesmaria do Rio Grande do Norte, da Coleção Mossoroense.
A descendência de Antonio da Rocha Pitta não está bem
estabelecida, e depende de quem escreveu sobre isso. Em “História de um Engenho
do Recôncavo”, de Wanderley Pinho, consta que ele casou duas vezes, a primeira
com Maria da Rocha Pitta e, a segunda, com Aldonsa de La Penha Deusdará. Do
primeiro casamento, somente um filho, Francisco da Rocha Pitta, que casou duas
vezes, sendo um dos seus filhos Cristovão da Rocha Pitta. Do segundo casamento,
foram três filhas e dois filhos. Duas filhas casaram com os desembargadores
João de Soto Maior e João Homem Freire, e a terceira com um parente deste, que,
segundo Borges da Fonseca, foi Manoel Homem Freire de Figueiredo. Já os homens
foram o coronel Luiz da Rocha Pitta Deusdará, que morreu solteiro, e Simão da
Fonseca Pitta que casou com a prima Antonia da Fonseca Villas Boas, daí
nascendo uma única filha Aldonsa de La Penha Deusdará (2ª do nome), que por sua
vez casou com Amaro de Sousa Coutinho, e daí nascendo mais um Antonio da Rocha
Pitta.
Nesses requerimentos, de sesmarias, o coronel Luiz da Rocha
Pitta Deus Dará, Francisco da Rocha Pitta, Simão da Fonseca Pitta e Dona Maria
Joanna, todos moradores na Bahia, aparecem como filhos do coronel Antonio da
Rocha Pitta e de Aldonsa de La Penha Deusdará. Não consta Francisco da Rocha
como sendo filho de Maria da Rocha Pitta, e nem as outras duas filhas, que
casaram com os desembargadores, como requerentes.
Nesse período não há noticias da presença desses herdeiros,
aqui. Mas, posteriormente, encontramos descendentes em várias regiões do Rio
Grande do Norte, principalmente, em Santana do Mattos. Um tetravó meu, Cosme
Teixeira de Carvalho, foi casado com Aldonsa da Fonseca Pitta. Ligado a eles,
aparece Luiz da Rocha Pitta, com vasta descendência em Santana do Matos. Só que
não encontrei o elo que liga esses dois aos sesmeiros. Na região salineira
vamos encontrar, como herdeiro, Cristovão da Rocha Pitta, cujas terras eram
administradas pelo capitão Manoel Varella Barca.
Todas as prefeituras deveriam rever o histórico de suas
cidades, solicitando ajuda dos departamentos de História das universidades.
Em um próximo artigo, postarei uma correspondência de Nestor
dos Santos Lima para Wanderley Pinho, que trata das terras desses Rocha Pitta,
aqui no Rio Grande do Norte.
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