28/04/2014

Petróleo



EUFORIA, DESÂNIMO E ESPERANÇA;
UMA HISTÓRIA DO PETRÓLEO POTIGUAR
Tomislav R. Femenick – Historiador, membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

No final dos anos 1960 já estava provado que existia petróleo no oeste potiguar e na região costeira norte do Estado. Entretanto havia um problema para sua exploração: a produtividade dos poços era pequena, o que indicava perspectivas antieconômicas. Explicavam os técnicos que o custo para tirar o petróleo do solo potiguar era maior do que o preço internacional do óleo bruto, que então girava em torno de US$ 2,90 o barril.
Porém esse cenário foi alterado pelo crescimento desse preço para US$ 11,65 e US$ 40.00, na chamada “primeira crise do petróleo”, em 1973, e US$ 80.00, na “segunda crise do petróleo”, em 1979. Foram essas elevações dos preços que tornaram viável a exploração de nossas jazidas petrolíferas.

Novos Preços, Novos Poços

A partir do poço RNS-3 – descoberto em 1974 em Macau –, uma série de eventos pontuaram na história do petróleo potiguar, provocando reações de expectativas ora ufanistas, ora comedidas. Naquele mesmo ano foi divulgado que a descoberta da jazida de Macau “dobraria o volume de reservas nacionais conhecidas do ouro negro” e que a sua exploração representaria a criação de mais de 1.200 novos empregos na região. No ano seguinte os poços que forneciam água para o abastecimento da cidade de Mossoró foram novamente contaminados por vazamento de petróleo e o óleo saiu nas torneiras das residências de dois bairros. Dois anos após entrou em operação o campo de Ubarana, na costa marítima de Guamaré.
Entretanto novas perfurações realizadas pelo Petrobras se mostraram economicamente inadequadas, mesmo com os novos preços internacionais. Porém o elevado número de ocorrências de óleo forçou a estatal a criar em seu organograma o Distrito de Produção da Bacia Potiguar-DIGUAR, abrangendo os Estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba.
Em 1979, quando era realizada a perfuração de um poço que forneceria água para as piscinas do Hotel Thermas, novamente apareceu petróleo em Mossoró, desta vez com uma surgência mais significativa. Foi esse poço, o MO-13, deu origem ao Campo Mossoró. No ano seguinte a perfuração do MO-14 apresentou mais petróleo ainda e resultou no primeiro poço terrestre viável do Estado, por ponto de vista empresarial.
Nos anos de 1980 foram intensificadas as prospecções nos municípios de Mossoró, Areia Branca, Macau e Alto do Rodrigues. Em 1981, a Bacia Potiguar produzia, em média, 157 barris por dia; os poços exploratórios eram 27 e outros 35 unidades estavam programadas para furar o solo do Oeste. Daí para frente à produção foi em escala crescente: em 1983, a produção de petróleo chegou a 38,9 mil barris por dia; o ano seguinte, esse volume alcançou 57,4 mil; em 1985, 59 mil; em 1986, 71,2 mil; em 1994, 96,9 mil.
Com o êxito dos novos poços, em 1994 o Rio Grande do Norte já era o segundo maior produtor de petróleo do Brasil e o primeiro em produção terrestre. Essa posição fez com que a Petrobras desse cada vez maior importância ao nosso Estado, inclusive alterando por mais três vezes o seu organograma administrativo. Em 1987, o Distrito de Produção da Bacia Potiguar foi substituído por um novo setor, o departamento Região de Produção do Nordeste Setentrional; em 1995, pela gerencia de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará, e, em 2000, pela Unidade de Negócios do Rio Grande do Norte e Ceará.

Produção cai e a Crise Bateu à nossa Porta

Em 2012 já se podia ver o piscar da luz amarela: muito embora as reservas de petróleo do Rio Grande do Norte tenham aumentado em cerca de 20%, se comparadas com o volume registrado em 2003 (passou de 455,7 para 547,2 milhões de barris 355,6 em terra e 191,6 no mar). Todavia há uma diferença entre a existência de reservas de óleo e extração desse mesmo óleo. O fato relevante é que a produção anual de óleo caiu de 31,7 milhões de barris em 2000, para 21,7 milhões em 2012. Também comparada com os dados de 2003 a produção efetiva de gás natural liquefeito (LGN, em inglês) recuou de 2.549 para 1.524 mil barris, uma queda de 40,21%.
  Em março de 2013 a Petrobras, as empresas que lhe prestam serviços e outras ligadas à indústria petroleira demitiram quase dois mil empregados na região de Mossoró. De lá para cá, calcula-se que cerca de três mil pessoas – que trabalhavam em atividades diretamente ligadas a exploração do petróleo e gás na região petrolífera do Estado – já tenham perdido emprego.
A redução dos investimentos, dos negócios e do número de empregos está se refletindo diretamente nas outras atividades econômicas: retração nas vendas do comércio, na construção civil (mais de 1.500 demissões), na ocupação dos hotéis (55% a menos) e nas vendas dos restaurantes, no setor de transporte (quase 300 demissões), nas receitas do Estado e dos Municípios da região. Cento e vinte empresas que prestavam serviço para a Petrobras fecharam suas portas; umas por iniciativa própria, outras simplesmente quebraram.
            As noticias ruins não pararam por ai. Nos dois primeiros meses de 2014, a Bacia Potiguar registrou o menor volume de produção dos últimos quatro anos. Em janeiro, foram extraídos 57.188 barris de petróleo por dia, a menor produção desde dezembro de 2010. Em fevereiro produzimos 58.707 – uma queda de 3,82% se comparado ao mesmo período do ano passado, quando a produção diária chegou a 61.045 barris.

Causa

            E qual a causa desse recuo? Os analistas apontam em primeiro lugar o fato de que a Petrobras teria alterado o foco de seus investimentos, direcionando todos os seus recursos para a exploração dos campos do pré-sal (rochas existentes no fundo dos oceanos sob uma camada de sal petrificado, abaixo da qual há ocorrência de hidrocarboneto; petróleo, gás natural, carvão etc.), campos esses que projetam um maior potencial de êxito. Para o Estado, o plano da Petrobras seria realizar a recuperação secundária de poços antigos e com histórico de produção satisfatória, mas que atualmente apresentam baixa produtividade ou mesmo que estejam desativados. Eles estão sendo trazidos de volta ao sistema produtivo via injeção de água, vapor ou gás, objetivando forçar a surgência do óleo. Trezentos poços localizados em Alto do Rodrigues, Ubarana, Fazenda Belém e Campo do Amaro já teriam recebido esse tratamento. O projeto de injeção contínua de vapor (vaporduto), na região do Vale do Açu (RN), é o primeiro a operar com vapor superaquecido. Ele é considerado o maior do mundo, com uma extensão aproximada de 30 km.
            Todavia, essa recuperação de poços via injeção de água, vapor ou gás (embora indispensável) não tem o alcance necessário para promover a recuperação da Bacia Potiguar como grande produtora de petróleo. Somente a ampliação e a intensificação de novos projetos de pesquisas e prospecção em busca de novos sítios produtores é que teria condições de realizar essa tarefa. E isso a Petrobras não está fazendo. A verdade é que não há novos grandes projetos de exploração no Estado. Enquanto esse é o cenário, engenheiros e outros técnicos da estatal estão sendo transferidos para outras regiões do país, notadamente para a Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, e áreas de pesquisas do Pré-Sal.

Descobertas Recentes Trazem Novas Expectativas

            Em Janeiro de 2012, o consorcio formado pela Petrobras e o grupo empresarial português Galp, encontraram indícios de petróleo em um poço em terra na bacia Potiguar. No fim do mesmo mês, a Petrobrás encontrou vestígios de petróleo em terra em outro poço no bloco da Bacia Potiguar, embora na ocasião o poço não tivesse sido declarado comercialmente viável.
No leilão realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis-ANP nos dias 14 e 15 de maio de 2013, o Rio Grande do Norte teve um total de 30 blocos ofertados, sendo 20 em terra e 10 em águas profundas. Em termos de oferta de blocos, o total da Bacia Potiguar ficava atrás somente das ofertas das Bacias Amazônicas e Tucano (esta na Bahia). Em agosto de 2013 outros blocos de exploração localizados na Bacia Potiguar foram contratos com a Agência Nacional do Petróleo.

Em novembro de 2013, a OGX Petróleo de Eike Batista (o então rei Midas da economia brasileira e que também tinha realizados empreendimentos especulativos por aqui) anunciou a venda de parte de bloco de petróleo na bacia do Estado para a ExxonMobil, empresa dos Estados Unidos. A área tinha sido arrematada pela OGX na 11° rodada de licitação da ANP, realizada em maio do mesmo ano. A entrada da Exxon Mobil Corporation (sucessora da Standard Oil Company, de John D. Rockefeller) na Bacia Potiguar representa a participação de um dos maiores e mais tradicional grupo petrolífero do mundo, o que pode beneficiar a região com a internação de novas tecnologias de produção, logística e administração da produção de petróleo.

 

A melhor notícia

 

No dia 14 de março passado, a Petrobras divulgou o seguinte comunicado ao mercado: “A Petróleo Brasileiro S.A-Petrobras informa que concluiu a perfuração do poço pioneiro [...] localizado em águas profundas da Bacia Potiguar. Os resultados comprovaram a descoberta, [...] de óleo médio de 24º API [Petróleo de densidade média, na escala do American Petroleum Institute-API, cujo maior grau é 30º. Quanto maior o grau API, maior o valor do produto no mercado]. Denominado informalmente de Pitu, o poço localiza-se em profundidade d’água de 1.731 metros, a uma distância de 55 km da costa do estado do Rio Grande do Norte. O poço atingiu a profundidade final de 5.353 metros e constatou uma coluna de hidrocarbonetos de 188 metros. Foi realizado teste de formação que confirmou as boas condições de permeabilidade e porosidade do reservatório. A partir dos resultados obtidos, o consórcio dará continuidade às atividades exploratórias previstas, com objetivo de propor a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) um Plano de Avaliação da Descoberta para a área. A Petrobras é a operadora da concessão BM-POT-17, com 80% de participação, em consórcio com a empresa Petrogal Brasil S.A., que detém 20%”.
            Notícias boas. Mas essa descoberta, para produzir efeito, demanda de muitos investimentos e três ou quatro para estruturação dos projetos, aquisição e implementação de equipamentos e produção efetiva.
Tribuna do Norte. Natal, 27 abr 2014.

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