A CRIANÇA QUE OBSERVAVA A DOR DO ALCOOLÁTRA
EU SEMPRE OBSERVEI AS PESSOAS TRISTES...e ficava triste com elas... Sempre observei e respeitei as pessoas pobres...e sofria com a pobreza delas....
Fui uma criança que observava facies,tristezas, sofrimentos, atos e omissões... A bodega de Dona Lindalva Bezerra em Nova cruz foi a faculdade de HUMANIDADE que eu fiz, na minha infância...
Depois de rapaz, ví Chico Buarque repetir o lema do velho Paulo BEZERRA: PELA MINHA LEI, A GENTE ERA OBRIGADO A SER FELIZ...APRENDÍ ESTA VERDADE AINDA COM CINCO ANOS...ERA ASSIM QUE FAZIA E TRATAVA O MEU QUERIDO TIO... O PORTEIRO DO cine éden , QUE TAMBÉM ERA PANDEIRISTA, bebia muito...as chibatas do mundo pressionavam o tio paulo: Por que o senhor não bota este homem para fora...Tio Paulo respondia:se eu coloca-lo pra fora, ele fica desempregado...ninguém é capaz de dar um emprego a ele...eu não posso fazer isto.... Mais quem era mais triste era DORGIVAL...um homem sem nenhuma palavra....sem nenhum sorriso...fazia os mandados de Seu Paulo e Dona Lindalva...varria a bodega...não exigia nada...queria ter sempre uma chamada de cana,para continuar existindo... Era um homem bonito, OLHOS VERDES,feições bonitas, porém maltratado...um moço velho...SOFRIDO, ESFARRAPADO...
Falava-se que Dorgival sofria de saudades...de um amor que o abandonara...que reduziu a sua auto estima a zero... Na hora da chegada do trem,cuja estação era em frente a bodega,observava Dorgival parar no tempo, na esperança de ver descer alegria, do trem...não sei se ele esperava um beijo, um abraço,ou o chicote do seu suplício... O que sei é que Dorgival era um homem bom...manso...calado...um bêbado discreto, que nunca virou uma mesa, nem falou alto...sei que ele era contido por uma grande dor... Ví tantas indiferenças neste ébrio, que depois compus uma música , e sei que a inspiração foi ele...vejamos:
Só anda calado, com os olhos distantes, e mais do que antes não pensa em amar, se alguém lhe pergunta ele vai e responde: que a vida lhe deu, o que tinha de dar... Ele está sempre aqui na espera do trem, e diz que é triste esperar quem não vem, e limpa os seus olhos tão meigos e cansados, e beija um retrato e se entrega ao além... |
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