PERFIS DAS CINCO BOCAS
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Napoleão Feitosa,
“O Bispo de Braga”, era sapateiro próximo as cinco bocas, centro de Macaíba.
Barrigudo, óculos de pernas remendadas, “Napole” como era chamado na bodega de
Seu Alfredo Almeida, nunca perdeu o expediente diário de três “lapadas de cana”
até os oitenta anos. Família numerosa,
sustentava os filhos com o suor do seu oficio. Morava no Alto do 35, hoje Rua
Dom José Joaquim de Almeida. Mas, o fato marcante do “Bispo de Braga” era o seu
vocabulário próprio de palavras criadas e disparadas conforme o assunto. Para
classificar um individuo que estava embromando ou falando demais, “Napole”
sapecava um diagnóstico “essa é uma “pilostenia vagante””. Quando queria
justificar uma ausência ou a sua falta a determinado compromisso, aí vinha com
a desculpa “foi um crospício vagatório”.
02) O seu vizinho era
o famoso Charuto, negro alto, cabelos grisalhos, beiços de escravo angolano que
possuía uma pequena bodega com esparsas garrafas nas prateleiras. O lobby de
Charuto era cobrar cinqüenta centavos dos curiosos que desejassem vê-lo nu
tomando banho na cacimba e como atração de fundo a sua enorme genitália.
Charuto em todas as suas exibições nunca foi perturbado pela censura.
03) Próximo, ficava o
espaço livre do Bar Gato Preto, povoado por imensa galeria de vultos
inesquecíveis que faziam dali o território sentimental da cidade. Era o balcão
do cidadão que consagrava e desconsagrava, julgava e punia os que fossem
achados em culpa. Na sinuca consagraram-se Perequeté, Banga, Geraldo Alcapone
que maravilhavam os “pirus” com jogadas cerebrais. Antonio Assis, Waldemar
Diógenes Peixoto, Né Macena, Paulo Marinho e Sabino eram freqüentadores que
também excursionavam na barbearia do cirurgião Zuca, PHD em escalpo de
couro-cabeludo. Havia ainda outras figuras hoje impregnadas nas paredes do Bar
e nas esquinas das Cinco Bocas comentando as ocorrências do seu tempo, dos idos
de cinqüenta e sessenta como chamas votivas que não se apagam nem que assim queira
o apagão do FHC.
(*) Escritor
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