03/07/2015


PERFIS DAS CINCO BOCAS

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

01) Napoleão Feitosa, “O Bispo de Braga”, era sapateiro próximo as cinco bocas, centro de Macaíba. Barrigudo, óculos de pernas remendadas, “Napole” como era chamado na bodega de Seu Alfredo Almeida, nunca perdeu o expediente diário de três “lapadas de cana” até os oitenta anos.  Família numerosa, sustentava os filhos com o suor do seu oficio. Morava no Alto do 35, hoje Rua Dom José Joaquim de Almeida. Mas, o fato marcante do “Bispo de Braga” era o seu vocabulário próprio de palavras criadas e disparadas conforme o assunto. Para classificar um individuo que estava embromando ou falando demais, “Napole” sapecava um diagnóstico “essa é uma “pilostenia vagante””. Quando queria justificar uma ausência ou a sua falta a determinado compromisso, aí vinha com a desculpa “foi um crospício vagatório”.
02) O seu vizinho era o famoso Charuto, negro alto, cabelos grisalhos, beiços de escravo angolano que possuía uma pequena bodega com esparsas garrafas nas prateleiras. O lobby de Charuto era cobrar cinqüenta centavos dos curiosos que desejassem vê-lo nu tomando banho na cacimba e como atração de fundo a sua enorme genitália. Charuto em todas as suas exibições nunca foi perturbado pela censura.
03) Próximo, ficava o espaço livre do Bar Gato Preto, povoado por imensa galeria de vultos inesquecíveis que faziam dali o território sentimental da cidade. Era o balcão do cidadão que consagrava e desconsagrava, julgava e punia os que fossem achados em culpa. Na sinuca consagraram-se Perequeté, Banga, Geraldo Alcapone que maravilhavam os “pirus” com jogadas cerebrais. Antonio Assis, Waldemar Diógenes Peixoto, Né Macena, Paulo Marinho e Sabino eram freqüentadores que também excursionavam na barbearia do cirurgião Zuca, PHD em escalpo de couro-cabeludo. Havia ainda outras figuras hoje impregnadas nas paredes do Bar e nas esquinas das Cinco Bocas comentando as ocorrências do seu tempo, dos idos de cinqüenta e sessenta como chamas votivas que não se apagam nem que assim queira o apagão do FHC.


      (*) Escritor

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