CONSELHOS E APELIDOS
Valério Mesquita*
01) Educado, simples, comunicativo, assim é o ex-conselheiro do TCE e
ex-deputado Manoel de Medeiros Brito. Conheci-o no antigo prédio da Assembléia
Legislativa, hoje sede do Tribunal de Contas do Estado, usando gravata
borboleta e defendendo as cores da UDN. A sua inteligência e perspicácia
produzem causos que não podem se perder na poeira do tempo. E o jornalista
Machadinho, que ele apelida “Machado Lopes”, me proporciona a cortesia especial
de relatá-los, para o deleite dos leitores.
02) Numa conversa descontraída, perguntaram a Brito qual a sua definição
sobre o casamento. De bate pronto, fulmina: “uma ilusão gratulatória”. De outra
feita, Afonso, um dos seus motoristas da atividade oficial, recebeu dele um
apelido que exprimia fielmente o significado de suas proezas de paquerador.
Afonso era baixinho, entroncado, mas era querido do mulheril funcional que
beirava a menopausa. E Afonso “passava” as gordinhas, mal-amadas, pernetas, num
comovente “ofício de caridade”. Sabedor de suas façanhas, Brito desfechou-lhe
um apelido definitivo: “Areia de Cemitério”. Come tudo.
03) Certa vez, um colega de governo, foi lhe pedir um conselho. Já se
casara duas vezes e estava na iminência da terceira mulher. Brito cofia o
bigode e alerta: “Cuidado Totó, você já é reincidente!”.
04) Outro secretário de estado estava apaixonado fora do casamento. Num
almoço, sapecou-lhe a pergunta: “como está de arrumação?”. Silêncio. Insiste
Brito: “Deu no aro?”. Resposta tímida do interlocutor: “Deu”. “Então é
separação consumada”, vaticina Brito Velho de Guerra.
05) O Dr. Tarcísio Maia, seu grande amigo, recebeu o apelido de
“Sebastião” e ninguém sabia a razão. É que o ex-governador gostava de vestir um
terno branco. E lá pelos idos de 50, outro político também era conhecido
bastante por esse hábito: o vereador natalense Sebastião Malaquías, muito
popular à época. E num comício em Natal, Tarcísio Maia havia se postado de pé,
entre os circunstantes. De vez em quando, chegava um eleitor, batia-lhe no
ombro e perguntava: “É seu Sebastião?”. “Não”, respondia secamente Tarcísio.
Veio o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto: “É seu Sebastião?”. “Não”,
sempre a mesma resposta dietética. Observador de tudo, Brito não resistiu ao
epíteto: “Sebastião”.
06) Raul, foi
um dos seus últimos motoristas. Em Mossoró, na residência do casal
Edith/Soutinho foi servido um lauto jantar a comitiva política que visitava
Mossoró. Raul, muito displicente e acanhado, perdeu o jantar que D. Edith,
mulher política e sensível, fazia questão de estender aos motoristas as mesmas
iguarias que eram servidas aos convidados. Às 11 da noite, Brito dá o sinal de
largada com retorno à Natal. No caminho, impressionado com o lauto rega-bofe,
ao lado de Machadinho, indaga a Raul: “Jantou bem?”. “Não senhor”, reponde o
tímido motorista. “O quê? Um belo jantar desse você perdeu?”. Já em Natal,
Manoel de Brito não conteve o comentário: “Raul, amigo velho, pomba mole nem no
céu entra!!”. Raul aprendeu a lição.
(*) Escritor.
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