MEROS PALPITES
Valério Mesquita*
O mundo virou bando de interesses guardados por polícia. E com
ele a lei, os direitos individuais, o patrimônio público e até o crime, vez por
outra. Os códigos instituídos pelos homens e os mandamentos de Deus são
quebrados todos os dias, minuto a minuto. O facínora, o bandido dos crimes
hediondos, têm como defesa “os direitos humanos”, as ONGs e até ministério. Há
mais direitos para eles do que para os cidadãos e cidadãs comuns. O sistema
prisional e as penas aplicadas são uma lástima e não corrigem e nem despencam
as estatísticas criminais. Antes, são estimulantes para novas práticas e
revoltas. Bem, e daí? Aonde quero chegar? Bom, o assunto é tão emblemático que
nem sei se chegarei à sua conclusão. Por isso, intitulei o texto de “meros
palpites”, abordagem ligeira e descomprometida, tudo à luz da experiência de
vida, debruçado à janela, lendo jornais e vendo a máquina mortífera chamada
televisão. Começo perguntando: o estado brasileiro está falido no enfrentamento
dos desafios sociais, principalmente a saúde e a segurança? Não. Não está. O
problema é de gerência, de competência. O regime democrático é lento e o
organismo corroído de chagas é de caríssima manutenção. Anotem: na próxima
crise econômica de origem européia ou americana o nosso país pifará. Essa ordem
(ou desordem?) econômica explodirá, pois a impunidade que campeia já acendeu o
estopim, baldados os esforços do Ministério Público e da Polícia Federal. O
abuso de concessão de liminares aí está para confirmar. Os tribunais de contas
votam criteriosamente intervenções municipais em prefeituras corruptas, mas os
governos estaduais não executam as decisões por conveniência política. Nos hospitais
públicos a pobreza morre à mingua, abandonada com dores físicas e morais
insuportáveis porque o deficitário sistema único de saúde não dá votos e sim o
“bolsa família” e a dinheirama drenada e desviada das “emendas parlamentares”.
Semana passada, uma senhora que reside num condomínio se
lastimava com piedade de um marginal, detido por populares em flagrante. Levou
uma merecida sova. Aliás, a única punição que receberá realmente. “Minha
senhora”, disse-lhe, “deixe o povo aprender a punir, porque a dor física é a
única que mete medo”. Aí me lembrei que foi a dor do corpo (para mostrar a
única fragilidade veraz do ser humano) aquela escolhida pelo filho de Deus –
Jesus – para redimir os pecados do mundo. Esbofeteado, cravado de espinhos,
cuspido, furado com pregos os pés e as mãos, e crucificado. E Pilatos,
simbolizando “liminarmente” a justiça romana e judia de Caifás, lavou as mãos
“diante do sangue desse inocente”. Jesus deixou-se condenar porque assim estava
escrito e predestinado. Mas os homicidas diabólicos do mundanismo de hoje,
verdadeiros animais e os ladrões de colarinho branco são tratados com pachorra
e facúndia, com homenagens de praxe e de apreço frutos de uma legislação
fáctil, fóssil, fútil e fácil. E assim, já dizia o comerciante assuense Luis
Rosas, que desfrutou de grande riqueza e, depois tendo perdido tudo, foi
surpreendido por amigos vendendo avoetes na feira das Rocas, em Natal: “Amigos,
não se preocupem, tudo é comércio!”.
(*) Escritor
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