BEM-VINDOS AO BARBARISMO
Valério Mesquita
Bem-vindos ao novo mundo do exagero! A mulher ideal, festejada, é
aquela bombada, coxas grossas e quadris enormes. Morreu o modelo feminino
clássico, comportado, que foi decantado em prosa e verso. E viva o rap, onde a
animalidade, a macaquice dos gestos humanos são interpretados como manifestação
cultural pelos cariocas. Bom mesmo, até chegar ao orgasmo, é a histeria
adolescente que promove o trote universitário. Nele, vê-se um desejo mórbido,
doentio, sádico dos jovens que sentem no sofrimento humano, na dor, um prazer
sexual que só Freud explica. Só pode ser tara. O problema não é só da polícia
mas da psiquiatria. E o bullying?
Bem-vindos ao novo mundo do transtorno de conduta. A prática da
virtude é vaiada na rua e banida dos lares, trocada pela patifaria do programa
Big Brother. O maníaco sexual, hoje, está dentro de sua casa. A juventude
continua enferma, sôfrega, cantando forró erótico de letra pobre e homicida,
pois assassinaram a memória musical de Luiz Gonzaga e toda aquela corte
formidável de intérpretes da verdadeira mentalidade nordestina. Tudo é abuso,
transgressão, subversão da ordem social, cultural e política.
A criança, na escola ou em casa, aprende logo a dançar, remexer o
traseiro, a ensaiar os passos promocionais do rap, rumo ao estrelato, para
gáudio dos olheiros pedófilos. Ninguém quer ser honesto. Meretriz, em vez de
atriz. Eu sei, eu sei que o tempo muda os costumes, o mundo gira, uma geração
difere da outra num rodízio interminável. Mas, não poderia mudar pra melhor?
Por que os vícios permanecem e triplicam a nocividade no ser humano que cada
vez mais sucumbe e se bestializa?
Bem-vindos ao trágico, ao catastrófico e ao sinistro das
estatísticas do pós-carnaval nas estradas, nas ruas, nas praias, onde tudo é
subvertido em nome da velocidade, do alcoolismo e da vulgaridade. Quantos
inocentes não morrem no lugar dos maus? O fabricante do cenário do crime é
sempre o próprio homem, pela ganância do dinheiro, pelo prazer indecoroso do
sexo e, enfim, toda permissividade inclinada eternamente para o ilícito. Isso
vem da gênese e do Gênesis. Aliás, o pecado não mora ao lado e sim, dentro de
nós.
Não pensem que sou contra o carnaval, a música, a dança, os
divertimentos públicos. Absolutamente. Critico o excesso na bebida, o consumo
de drogas, a degradação dos costumes pelo modismo em nome de uma falsa
modernidade. Esquece o passista que o chão onde pisa é também o repouso da carniça.
São coisas minhas, muito minhas. Imaginar que as festas ditas
profanas reúnem milhões de foliões com gastos e gostos extravagantes! E as
festas beneficentes em prol dos oprimidos, dos sem tetos, sem planos de saúde,
desempregados e famintos não chegam nem a agrupar um terço de gente e de
recursos? Em dezenas de capitais do Brasil o carnaval dura de sete a oito dias.
Feriado religioso é mais comemorado nas praias que nos templos. Pode ser que a
fé cristã esteja perdendo a parada para o mundo cão. Mas, como o Salvador falou
em “benditos do meu Pai”, o processo seletivo se resume numa minoria. “Muitos
são chamados e poucos os escolhidos”, apesar da imensa misericórdia de Jesus
Cristo.
Mas, afinal, quem for partidário do barbarismo que me desculpe: a
leitura da Bíblia, como um hábito, é fundamental para evitar e se defender do
caos. Seja íntimo, pois, do Senhor.
Amém.
(*) Escritor.
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