D U Q U
E D E C A X I
A S, O
S E N T I M E N T A L
Gileno
Guanabara, do IHGRN
D. João VI de
regresso para Portugal, D. Pedro que ficara governando o Brasil, escreveu ao
pai, através de carta datada do ano de 1821, dando conta da prisão de um cabo do regimento de cavalaria,
efetuada pelo visconde do Rio Secco, momento em que o detido o convidava a participar
de uma conspiração. O fato já fora informado em carta do dia anterior dirigida ao
mesmo destinatário. Era tempo das conspirações.
Convocado para o ministério, nos anos
que seguiram, José Bonifácio tomou a iniciativa. Nomeou juízes especiais e
compôs o tribunal de exceção, para julgamento dos conspiradores, que não eram
poucos, expediu leis marciais e ordens para maior vigilância e conter a onda de
revoltas populares promovidas por anarquistas, republicanos e carbonários, inimigos do Brasil. Numa delas, dirigida
ao Intendente-geral da Polícia, atribuía a Feijó a condição de anarquista: Sua Majestade, o Imperador, confiando muito
no zêlo, patriotismo e constante adesão à causa do Brasil que tem manifestado o
capitão-mor da vila de Itu, ...e no amor e fidelidade inabalável que consagra à
sua Augusta Pessoa: Manda que êle, por todos os meios ocultos que estiverem ao
seu alcance, procure conservar debaixo da maior vigilância ao padre Diogo
Antônio Feijó...aos sentimentos anárquicos e sediciosos, que é revestido, une a
mais refinada dissimulação, da qual sem dúvida resultará grande perigo à
tranquilidade e união dos povos daquela fidelíssima comarca.... Rio de
Janeiro, 11 de junho de 1823.
De outro lado, ao tomar conhecimento
dos termos ressentidos, tais os termos (e em resposta) da carta do padre Diogo
Feijó ao governador da Província, barão de Monte Alegre (in Caxias em São
Paulo, Vilhena de Morais -1943), - Os paulistas vão tomando a natureza de cães, que gostam de aumentar a
aflição aos aflitos... Eu brevemente me retirarei para meu sítio, evitando
assim de excitar com a minha presença o ódio dessas feras –, o barão de
Caxias irônico, em carta a José Clemente Pereira, Ministro da Guerra
(julho/1842), referindo-se à Revolução Paulista, reproduzida também por Vilhena
Morais: O senador Feijó se acha nesta
Capital guardado por um oficial e nem por isso está mal comigo, tanto que neste
momento acaba de sair de minha casa e dizer-me que não quer ser paulista. E
prosseguiu, em seu noticioso dirigido
ao governador: -...Afirmou o senador
Feijó que projeta na Assembléia Provincial declarar que não é mais paulista e
nem representante de miseráveis canalhas. E, por fim, -...Pelos disparates que
diz, concluo que sofre de desarranjo mental... (Museu Paulista, Rev. n. 06;
julho/1842).
Com embates parlamentares acirrados
que se prolongaram pelos anos de 1842 e 1843, a exoneração dos presidentes
liberais das Província atiçou a agitação, ainda mais com a eleição de Martim
Francisco a presidente da Câmara. Veio a dissolução da Câmara e, com efeito, no
mês de maio, eclodiu a revolução liberal em São Paulo. Já em junho, em
Barbacena, iniciou-se a Revolução Mineira, eleito José Feliciano, o futuro
barão de Cocais, presidente da Província revoltosa. Com a adesão diversos
líderes, deu-se a rendição de São João d’El Rey, Queluz e o movimento já
apontava para Ouro Preto, capital da Província, onde o legalista Bernardo
Jacyntho da Veiga resistia.
O padre Feijó liderara a Revolução
Paulista de 1842. Sua mensagem ao povo, para que aderisse e tomasse o poder
pelas armas, não foi entendida nem como sendo contra o governo provincial, nem contra
o governo Imperial. O povo não lhe deu crédito. Daí sua amargura para com os
paulistas. Emblemático foi o momento da prisão do Padre Diogo Feijó, em São
Paulo, pra onde Caxias fora enviado, a fim de debelar a revolta. Depois de
estabelecer seu quartel-general, dirigiu-se acompanhado apenas do ajudante de
ordens à Rua das Flores, onde encontrou o padre Feijó imobilizado de uma perna.
Após os cumprimentos de praxe, disse Caxias: -
...Só o dever de soldado me impõe a
dolorosa incumbência de vir prender o senador Feijó, um dos chefes do movimento
revoltoso. Convido-o, pois, a acompanhar-me. Feijó prontamente respondeu: -
Sr. General, estou às suas ordens. E
prosseguiu para a oitiva de Caxias: - O
sr. é moço, aprenda no que está vendo, o que são as vicissitudes do mundo.
Naquele tempo eu dava acessos ao sr. Lima e Silva, hoje vem êle prender o velho
Feijó, já moribundo. Caxias lhe retrucou
de imediato: - Sou soldado e cumpro
ordens do Govêrno, ordens iguais às que me deu o sr. Feijó quando era Ministro
da Justiça: varrer os revoltosos a ferro e fogo e prender os cabeças da revolta.
Existem versões nem tanto diferenciadas
para o relato final daquele episódio, como a registrada por Américo Brasiliense
(Lições de História Pátria, 1877). Prevalece, afinal, a tese de que Caxias
tratou com benignidade e respeito ao Senador do Império, mantendo-o em prisão
domiciliar.
Já nas Minas Gerais, diante do fato de
o líder, José Feliciano, sem comunicar aos parceiros de revolta, ter proposto
uma trégua ao barão de Caxias, chefe das tropas legalistas enviado às Minas
Gerais, o desânimo dominou os revoltosos. Por fim, o líder da conspiração fugiu,
abandonando as tropas. Era agosto de 1842. Luiz Alves de Lima e Silva, que
vencera a revolta liberal de São Paulo, avançou sobre Santa Luzia, deu voz de
prisão a Theophilo Ottoni e pôs fim à acéfala revolta liberal mineira. Ao
passar por Ouro Preto, de volta para o Rio de Janeiro, convidado para um “te-deum”
pela vitória, Caxias refutou: O officio
do clero é rezar pelos mortos. Não é congratular-se pelos resultados de uma
luta fraticida que devia entristecer os corações brasileiros.
No outono da vida, era março de 1874,
um duque de Caxias alquebrado, revelou o seu lado sentimental. Em carta a sua
amiga e comadre, D. Maria José de Siqueira: Perdi
o maior bem que neste mundo gozava: a minha virtuosa companheira de 41 anos. É
que falecera Ana Luíza Carneiro Viana, a esposa, com quem se casou em 6 de
janeiro de 1833. Só em 1888, o jornal “Gazeta de Notícias” noticiou o relato feito
pelo padre que lhe dera a extrema unção: o
desespero e o choro angustioso do marechal guerreiro... No início da carta,
o lamento da perda: -Quê me vale o mundo
sem ela? ...A seguir, Caxias fez referência aos brincos de pedras preciosas
que a falecida destinara à prima e confidente: -... lhe peço que os aceite como um presente da sua íntima amiga, que Deus
levou para o Céu, deixando-me só neste Mundo, para chorá-la. Não os vou entregar
pessoalmente como devia, porque sou um cobarde. Seu compadre que muito a
estima. Duque de Caxias, abril de 1874 (Do arquivo do juiz, Dr. Otávio
Tarquino de Souza, RJ).
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