Urinol etílico
José Eduardo Vilar Cunha.
Prof. Doutor em Engenharia, Jornalista escritor. Membro do IHGRN / UBE
Normalmente as
quartas feiras se reúnem no Iate clube do Natal para o almoço de
confraternização, os afiliados da Ágape, uma entidade recreativa sem fins
lucrativos. Numa quarta feira do encontro costumeiro, se assentavam lado a lado
na mesa posta para o almoço, muitos dos seus adeptos, quando de repente surgem pela
a porta principal, Affonsinho e Marcelo Morais que pareciam mais com a dupla
dinâmica Robin e Batman.
A conversa é o ponto alto do encontro e, diante de mim, estava num
animado papo, Affonsinho, que dizia que, na sua família havia nomes muito
estrambólicos e, começou citando: Minha avó se chamava Occidentina e suas irmãs;
Orientina, Ocasina, Poentina, Astrolina, Luina Marina e Orizontina. Da mesma
maneira com nomes estranhos eram denominados os seus irmãos: Eraldim,
Podalírio, Waldencolk e Trasíbolo. Entretanto, todos eram designados por
apelidos, o de minha avó Occidentina era Picucha.
Durante
o rango, Affonsinho relata acontecimentos que sucederam na sua vida na década
de 1950 e, com desembaraço foi narrando; primeiramente que a sua avó Picucha
tinha um belo sitio no Município de Caxias, RJ. Durante o relato ele conta que,
num certo dia, Picucha e seu irmão Eraldim, apelidado de Peri, que era um exímio
tocador de bandolim, os dois, resolveram organizar uma feijoada para homenagear
os músicos da Velha Guarda, e dentre eles estavam: Pixinguinha, Donga, Nelson
Cavaquinho, João da Bahiana e Jacó do Bandolim. Todavia, para animar mais a
festa a avó de Affonsinho o convida e estende a invitacão aos seus amigos e
amigas, já que a feijoada era abundante.
A
questão estava como ir para Caxias, contava Affonsinho, dado a distância, mas,
seu amigo Luciano Toscano “O Luchy” se prontificou de conseguir um caminhão da
firma João Fortes Engenharia, onde trabalhava.
Estava tudo combinado para o dia da festa, o caminhão deveria passar
bem cedo, em frente a sua residência no posto 6, bairro de Copacabana. A ansiedade tomava conta da turma de
Copacabana, que nesse dia compunham a algazarra os amigos: Hélio Nelson,
Afraninho Guerreiro, Ezequiel Ferreira, Abdiel Karin, Carlos Alberto, que tinha
o apelido de Cabelo Bom, Breno Capistrano, Edmundo Miranda e algumas namoradas.
O alvoroço aumenta quando surge o caminhão na esquina da rua, a euforia foi
total e no momento que o veículo para, a procura por um bom lugar foi acirrada,
na boléia, continuava luchy e na carroceria todo grupo se aboletava.
Durante o trajeto para Caxias o grupo cantava e brincava, todos estavam
animadíssimos com aquele acontecimento e, com a perspectiva de uma boa farra, pois
haveria um confronto entre a Velha Guarda que era composta pelos músicos e Nova Guarda, o intuito era para ver quem
bebia mais e aguentava o tranco.
Ao chegar ao sitio, a rapaziada desembarca do
caminhão ávida para iniciar os trabalhos e partem logo para a coleta dos limões
que foram retirados do pé. Com os limões já colhidos e com toda pressa, correm para
a cozinha, com as cachaças, o açúcar e gelo para confeccionar a batida que, na
época, não era conhecida como caipirinha. Todavia, faltava um elemento, a
jarra, foi então que Affonsinho pediu a sua avó um recipiente para fazer a
mistura. Ela então lhe disse que não tinha mais nenhum recipiente, além dos que
tinha utilizado na colocação do feijão, das carnes, da farofa, linguiça, couve,
arroz e que também não possuía mais nenhuma panela disponível. Aí eu aloprei,
contou Affonsinho, pois como é que iríamos enfrentar a
batalha sem munição. Foi então que a avó Picucha, disse: ”Peraí, tem em um
penico”. Muito bem, pensei, como ela era uma senhora de formas avantajadas
achei que a peça oferecida serviria para a finalidade a que se propunha. Tá legal
vovó, traz o penico. Realmente o urinol era grande o suficiente, e desta
maneira foi dado o início da confecção do precioso líquido. Após realização de diversas
misturas e provas com os participantes, surge uma dúvida que foi indagada:
”Vovó este penico é novo”? E ela respondeu: Novinho, só usei uma vez, e está
bem limpo. Naquela altura da bebedeira não tinha mais jeito de parar,
continuamos a usá-lo, com o maior gosto e alegria.
No
final da disputa etílica, entre a Nova e a Velha Guarda, conta Affonsinho, o
confronto terminou empatado, arriou um dos nossos, o Edmundo e um deles o
Nelson Cavaquinho.
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