A primeira vinda a
Natal
Elísio Augusto de Medeiros e Silva (in memoriam)
Era a primeira
vez que o menino vinha à Capital. Viajava em companhia do seu pai, e ficariam
hospedados na casa do tio Clementino.
Na chegada, uma
das coisas que mais o impressionou foram os bondes elétricos que circulavam em Natal. Na sua pequena
Cidade Interiorana, os meios de transporte eram os animais de montaria e as
carroças de tração animal. Até os automóveis somente apareciam ocasionalmente.
Ficou
maravilhado com os bondes e o desejo de andar em um deles logo se manifestou.
Qual seria a sensação?
Da porta da casa
do seu tio, na Av. Junqueira Aires, ficava horas observando os bondes,
conduzidos pelos motorneiros, vindos da Ribeira para a Cidade Alta, com alguns
passageiros mais afoitos pendurados em seus estribos.
Notou que em
cada um dos bondes havia uma luzinha, sempre acesa, na frente: roxa, vermelha,
branca ou azul.
A casa também
apresentava várias novidades aos seus olhos infantis – luz elétrica, água
encanada e telefone.
Quando acendia
uma lâmpada, ficava olhando, encantado, aquele bulbo de vidro, brilhando e
clareando tudo ao redor. Nem parecia a lamparina de sua casa.
Foi na casa do
tio que provou, pela primeira vez, a água gelada. De início, parecia que
queimava a sua boca, mas logo se acostumou.
Numa tarde, foi
levado a um passeio na Cidade Baixa, pelas ruas transversais à Dr. Barata, que
mostrava inúmeras coisas que nunca imaginara existir. Antes, passou pela
Estação Ferroviária, onde o trem resfolegava e soltava fumaça. Na rua, os
homens de chapéu e ternos, e as senhoras muito bem-vestidas, passeavam pelas
ruas, sem pressa.
– É o footing,
disse-lhe tio Clementino.
Passou a tarde
brincando na rua, atônito com tantas novidades.
No dia seguinte,
pela manhã, seu tio levou-os até a Praia de Areia Preta. Foram de bonde até a
Avenida Beira-Mar. Um passeio inesquecível!
Nunca iria
esquecer o primeiro contato que teve com o mar. Era enorme e não pode conter o
espanto, exclamando, com os olhos arregalados: Que açudão! Todos ao seu redor
riram.
Naquele dia,
provou pela primeira vez a água do mar. Como era salgada! Não entrou na água,
limitou-se a cavar um poçinho, na areia branca da praia.
De volta à casa,
conheceu cedinho da noite outras crianças, mais ou menos de sua idade, com as
quais brincou na calçada até às 21:00 hs, hora de menino dormir.
No outro dia,
pela manhã, todos desceram até o Rio Potengi, para admirar alguns vapores da
Lloyde que estavam atracados, esperando suas cargas de algodão.
Coincidentemente, assistiu à chegada de um hidroavião, procedente da Europa.
Nunca vira nada igual.
À tarde, seu tio
colocou na vitrola “Pana Trope” alguns discos de Carlos Gardel. “Fumando
espero” e “Se acabaron los otários”, que eram os tangos de sua predileção,
foram repetidos várias vezes. Às vezes, até ensaiava alguns passos desajeitados
pela sala.
De volta a sua
terra, levava registradas na memória as coisas fantásticas: bonde, geladeira,
telefone, navio, hidroavião, cujas lembranças demorariam a se apagar.
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