Estado, governo e partido
Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e membro do IHGRN.
Mesmo entre bacharéis, mestres e doutores, muitos há
que não conseguem distinguir a sutil e ao mesmo tempo grande diferença entre
“Estado” e “governo”, pois os nossos dirigentes – colonizadores e durante o
Império e a República – nunca se interessaram por separar as duas coisas. Poucos
formam a exceção, que somente serve para confirmar a regra.
Quando estudante da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, eu tive a oportunidade de ter como
professores dois grandes mestres. André Franco Montoro Filho, professor regular
de economia, e seu pai André Franco Montoro, então governador do Estado de São
Paulo e professor convidado – que chegava à PUC como um cidadão comum, sem acólitos
e sem nenhum aparado de segurança. Chamaram mais a minha atenção as suas palestras
sobre direito constitucional e ciência do direito.
Foi nessas aulas que sedimentei
conhecimento sobre o assunto. O “Estado” é o conjunto das instituições de
caráter duradouro que controla e administra a nação, formado pelo executivo,
legislativo, aparato judicial, ministérios, autarquias, empresas estatais, forças
armadas, funcionalismo público etc. Nas democracias, o “governo” é eleito com o
fim de dirigir o “Estado”, com alcance temporal limitado. Como em nosso país as
funções de chefe de Estado e chefe de governo são exercidas por uma única
pessoa, o presidente da República, a separação entre “Estado” e “governo”
depende muito da personalidade do ocupante do cargo.
Nestes doze anos de governantes
petistas, “governo” e “Estado” têm sido tratados como se fossem uma mesma entidade
e, mais preocupante ainda, como uma extensão do partido. Então o que se vê é o
aparelhamento do Estado. Membros do PT e da “base aliada” são nomeados para
todos os cargos, mesmo que não tenham as condições técnicas e os conhecimentos
necessários. Essa situação atingiu empresas públicas e até tribunais. O
resultado ai está: os apaniguandos do governo acham que o “Estado” é deles e
isso atinge em cheio o andamento da economia do país.
Ex-ministros, ocupantes de altos
cargos no governo e nos partidos e dirigentes do Banco do Brasil, da Petrobras e
de fornecedores dessas organizações estão denunciados, presos ou foragidos da
justiça; verbas do BNDES são direcionadas para os grandes contribuintes dos
partidos, mesmo que suas empresas sejam erguidas sobre quimeras (Elke Batistas
é apenas um exemplo gritante); Comissões Parlamentar de Inquérito não se
interessam pela verdade; os Correios são usados para distribuir panfletos
partidários sem cobrar nada. Muito, muitos outros exemplos há.
O impacto desse procedimento é
gritantemente prejudicial às atividades econômicas. Os escassos recursos dos
bancos públicos deixam de financiar a produção e o consumo, o que resultada no
encolhimento do PIB e crescimento dos juros; o estado de incerteza jurídica
afugenta os investidores externos; os empresários nacionais arquivam seus
projetos de investimento na produção. No final, o emprego diminui.
A presidente Dilma nos foi vendida
como uma administradora séria, capaz, austera e racional. Na verdade a mãe do
PAC se transformou na madrasta dos brasileiros. Mostrou-se como ela é
realmente: sua seriedade é apenas grosseria com os comandados, sua capacidade
gerencial se desmanchou nos escândalos que agora ela não pode dizer que não sabia,
sua
racionalidade foi para o brejo com o esbanjamento do dinheiro
público em ações injustificável como os financiamentos dados a “hernanos” bolivarianos ou a
ditadores africanos; sua austeridade se engaçou no não cumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Ainda
há tempo para mudar o rumo do governo. Mas... Haverá interesse? Duvido.
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