Por João Felipe da Trindade
Da Gazeta de Notícias, datada de 27 de maio de 1877, extraio
essa nota do padre João Manuel, onde aparecem as figuras de Luiz Antonio
Ferreira Souto e Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco.
A ilustre redação da “Reforma” diz, em sua crônica política
de hoje, que eu, deputado honorário do Rio Grande do Norte, apadrinho a
pretensão do Sr. Dr. Luiz Antonio Ferreira Souto, que aspira ao cargo de
procurador fiscal da Tesouraria da Fazenda daquela província.
A “Reforma” foi mal informada. Não tenho parte alguma no
arranjo da nomeação do Sr.Dr. Souto.
Faltaria aos meus deveres de homem público, trairia minha
consciência, iludiria indignamente ao governo de que sou amigo e cujos créditos
zelo como se fossem meus, se indicasse certos nomes para cargos que só devem
ser ocupados por quem possa oferecer garantias de honra e de moralidade.
Sou de opinião que os ministros são os menos culpados nas
infelizes nomeações que fazem. Não podendo eles conhecer todo o pessoal deste
vasto país, muitas vezes, confiando em informações que lhes são passadas por
quem de perto conhece as mazelas e as pústulas, cometem erros gravíssimos e
acarretam, inocentemente, com responsabilidade que lhes não pertence.
Se eu tivesse valor e merecimento para com o ilustre Sr.
Barão de Cotegipe, lhe diria sob palavra de cavalheiro, a fé de cristão, sobre
o túmulo da minha mãe, que essa nomeação seria infelicíssima, e que por si só
podia causar o descrédito de um governo a quem em tal caso se pudesse atribuir
a ciência e consciência do que fizesse.
Para não se dizer que falo apaixonado, acrescentarei: o Sr.
Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, além de ser adversário político, é meu
inimigo pessoal. Pois bem: esse senhor ocupa há um ano, interinamente, o cargo
de Procurador Fiscal.
Não ponho dúvida em declarar solenemente que o Dr.
Hermógenes está no caso de ser aproveitado para esse emprego, além de
inteligente, é honrado, probo e limpo.
Entre um conservador impuro e um liberal honesto, não hesito
na escolha.
Já vê a “Reforma” que foi injusta quando me atribuiu
participar em um ato, que espero não se dê, confiando na honra do digno Sr.
Ministro da Fazenda, e que condenaria com todas as veras de minha alma, se
tivesse o desgosto de vê-lo realizado. Padre João Manuel. Rio, 26 de maio de
1877.
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