Por João Felipe da Trindade
Isso aconteceu na praça de Recife. O anuncio foi feito por meu trisavô, José Martins Ferreira
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01/12/2016
Convite de Lançamento do Livro: ILHA DE MANOEL GONÇALVES
No Espaço Hipotenusa, Rua Marize Bastier, 207
A partir das 17 horas
Telefone de contato: 84 99982-7116
e-mail: jfhipotenusa@gmail.com
24/08/2013
Casamento de Ulisses Cavalcanti e Fanny Ferreira Leite
Por João Felipe da Trindade
Aos vinte e cinco de setembro de mil novecentos e quarenta às 7 e ½ horas, nesta Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, depois de feitas as habilitações canônicas e demais formalidades, presentes, dispensados os proclamas pela autoridade diocesana, nos termos da justificação sumária sobre o estado livre e desimpedido dos contraentes, não aparecendo impedimento algum, quer canônico, quer civil, como se vê do processo, que sob o número 17.363, fica arquivado nesta freguesia, por palavras de presente, na forma do ritual romano, em minha presença e na das testemunhas, dr. Francisco Ivo Cavalcanti, advogado, e sua esposa d. Júlia Barbosa Cavalcanti, professora, naturais desta freguesia, onde residem a Av. Rio Branco, 631, Dr. José Ivo Cavalcanti, casado, médico, natural de Natal, e sua esposa d. Josefina Cavalcanti, de profissão doméstica, natural de São Miguel de Jucurutu, e residentes a Av. Rio Branco, 624, desta paróquia, receberam-se em matrimonio tenente Ulisses Cavalcanti e Fanny Ferreira Leite; ele solteiro, militar com 25 anos de idade, nascido nesta freguesia, ao 1º de julho de 1915, batizado a 5 de dezembro do mesmo ano, nesta catedral e residente a R. Otávio Lamartine, filho legitimo de Dr. Francisco Ivo Cavalcanti, casado à 2ª vez, advogado, com 54 anos, natural de Natal, onde reside a Av. rio Branco, 631, e de sua 1ª esposa d. Ercilia (Hercília) de Araújo Cavalcanti, falecida a 13 de março de 1930, à Av. Rio Branco, nº 631, desta Freguesia; ela, solteira, de profissão doméstica, com 24 anos de idade, nascida em Curitiba, capital do Paraná, aos 7 de setembro de 1916, e batizada a 4 de setembro de 1917, e residente nesta cidade, filha legitima de Júlio Ferreira Leite, funcionário público do Estado, com 61 anos, natural do Paraná, e de Aldolfina Luiza Volf Ferreira Leite, de prendas doméstica, com 54 anos, natural de Curitiba, casados civilmente, por ser a mãe da nubente protestante, e residentes na referida Curitiba do Paraná, a nubente passou a assinar-se Fanny Leite Cavalcanti, casou-se civilmente em Curitiba a 6 de julho de mil novecentos e quarenta. E para constar, mandei lavra este termo que assino.
21/08/2013
Djalma Maranhão e Dária Cavalcanti de Sousa
Por João Felipe da Trindade
Uma das figuras ilustres da nossa terra foi Djalma Maranhão. Prefeito de Natal, foi cassado pela o regime militar, instalado em 1964. Vejamos seu casamento.
Aos vinte e quatro dias do mês de janeiro de mil novecentos e quarenta e dois, às 17 horas nesta paróquia de Nossa Senhora da Apresentação de Natal, nesta Igreja Catedral, aí presentes o ministro celebrante Padre Severino Bezerra, pró-vigário da referida paróquia, e das testemunhas por fim deste assinadas, celebrou-se o casamento de Djalma Maranhão, com vinte e cinco anos de idade, de profissão comerciante, domiciliado em Natal, e residente à av. Deodoro, nº 541, com Dária Cavalcanti de Sousa, com vinte e quatro anos de idade, de profissão doméstica, domiciliada em Natal, e residente à av. Rio Bancos, nº 608. O nubente, solteiro, nasceu em Ceará-Mirim, a 27 de novembro de 1915, e foi batizado a 25 de novembro de 1916, filho de Luiz Maranhão, já falecido, natural de São José de Mipibú, com 54 anos, e de Maria Salomé Maranhão, natural de Ceará-Mirim; a nubente, solteira, nasceu em Natal, a 25 de outubro de 1916, e batizada no mesmo ano, filha de Otacílio Costa Filho, falecido, natural de Sergipe, e de Leopoldina Cavalcanti de Sousa, natural de Natal, profissão doméstica, domiciliada e residente à av. Rio Banco, 608. Foram testemunhas Dr. Custódio Toscano, Dr. Francisco Ivo Cavalcanti e Zelda Cavalcanti. O casamento realizou-se com dispensa de proclamas.
13/08/2013
Coisas do passado, nota do padre João Manuel
Por João Felipe da Trindade
Da Gazeta de Notícias, datada de 27 de maio de 1877, extraio
essa nota do padre João Manuel, onde aparecem as figuras de Luiz Antonio
Ferreira Souto e Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco.
A ilustre redação da “Reforma” diz, em sua crônica política
de hoje, que eu, deputado honorário do Rio Grande do Norte, apadrinho a
pretensão do Sr. Dr. Luiz Antonio Ferreira Souto, que aspira ao cargo de
procurador fiscal da Tesouraria da Fazenda daquela província.
A “Reforma” foi mal informada. Não tenho parte alguma no
arranjo da nomeação do Sr.Dr. Souto.
Faltaria aos meus deveres de homem público, trairia minha
consciência, iludiria indignamente ao governo de que sou amigo e cujos créditos
zelo como se fossem meus, se indicasse certos nomes para cargos que só devem
ser ocupados por quem possa oferecer garantias de honra e de moralidade.
Sou de opinião que os ministros são os menos culpados nas
infelizes nomeações que fazem. Não podendo eles conhecer todo o pessoal deste
vasto país, muitas vezes, confiando em informações que lhes são passadas por
quem de perto conhece as mazelas e as pústulas, cometem erros gravíssimos e
acarretam, inocentemente, com responsabilidade que lhes não pertence.
Se eu tivesse valor e merecimento para com o ilustre Sr.
Barão de Cotegipe, lhe diria sob palavra de cavalheiro, a fé de cristão, sobre
o túmulo da minha mãe, que essa nomeação seria infelicíssima, e que por si só
podia causar o descrédito de um governo a quem em tal caso se pudesse atribuir
a ciência e consciência do que fizesse.
Para não se dizer que falo apaixonado, acrescentarei: o Sr.
Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, além de ser adversário político, é meu
inimigo pessoal. Pois bem: esse senhor ocupa há um ano, interinamente, o cargo
de Procurador Fiscal.
Não ponho dúvida em declarar solenemente que o Dr.
Hermógenes está no caso de ser aproveitado para esse emprego, além de
inteligente, é honrado, probo e limpo.
Entre um conservador impuro e um liberal honesto, não hesito
na escolha.
Já vê a “Reforma” que foi injusta quando me atribuiu
participar em um ato, que espero não se dê, confiando na honra do digno Sr.
Ministro da Fazenda, e que condenaria com todas as veras de minha alma, se
tivesse o desgosto de vê-lo realizado. Padre João Manuel. Rio, 26 de maio de
1877.
29/05/2013
Genealogia, Matemática e existência
Genealogia, Matemática e existência
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Cada indivíduo, que está na terra, neste momento, tem uma quantidade significativa de ascendentes, que a partir dos seus pais, cresce em progressão geométrica, se desprezarmos os casamentos entre parentes. Os pais são dois, os avós já são quatro, os bisavós, em número de 8, e os trisavós (ou terceiros avós) são 16. É uma progressão geométrica de razão 2 que começa com dois e que se expressa, em cada geração de ascendentes, como uma potência de 2. Assim, a quantidade de trisavós, que são dezesseis, é representada por 2 elevado a quarta potência. Quando você chega aos seus nonos avós, eles já são 1024 (2 elevado a 10 potência). Imagine a quantidade de ascendentes, em todo o mundo, se você recuar muitos anos atrás. Você, talvez, prefira que seu sobrenome seja Miranda Henriques, mas com certeza, você tem, através dos seus ascendentes passados, milhares de sobrenomes.
Qualquer que seja o evento acontecido anos atrás, você ou um seu ascendente estava vivo. Assim, quando Buda nasceu, existia em algum lugar do mundo, um ascendente seu, contemporâneo do mestre, que talvez até tenha convivido com ele. Da mesma forma quando Jesus foi crucificado, alguém, que está na sua ascendência, era vivo nesta terra, e talvez estivesse lá, naquela hora.
Em 1706, meus hexavós, João Machado de Miranda e Leonor Duarte de Azevedo, batizavam uma filha em São Gonçalo do Potengi, com o nome de Felizarda. Alguns dos ascendentes desses meus hexavós, podem ter presenciado o massacre de Uruassú, em 1645; Quando invadiram a Ilha de Manoel Gonçalves, em 1818, meu tetravô João Martins Ferreira, estava lá presente.
Acredito, pois, que carregamos dentro de nós, a história da humanidade desde o seu início. Muitas vezes, fico me perguntando se alguns fenômenos que ocorrem com algumas pessoas não são frutos desses conhecimentos que vão passando de geração a geração, através de suas descendências. A holografia revela que a parte contém o todo. Na Matemática descobrimos que um segmento de reta contém a mesma quantidade de pontos que a própria reta. Assim, creio que toda vez que um ser é gerado, traz consigo informações do mundo passado. Nosso DNA pode ser mais valioso do que pensamos!
Li durante muitos anos sobre diversos assuntos, sem nenhum preconceito científico ou de outra natureza. Mesmo como matemático que sou, li sobre astrologia, numerologia, quiromancia, rabdomancia, radiestesia e outras coisa mais. Interessei-me por espiritismo, reencarnação, zen, ioga, psicografia, e múltiplas personalidades. Sempre gostei de biografias, de estudar sobre gênios, escritores, pintores e músicos famosos.
Muitos gênios falam de suas experiências relatando que alguns escritos, quadros, descobertas ou músicas surgiam como um todo nos seus cérebros. Por que algumas crianças se tornam geniais com poucos anos de vida? Como surge essa genialidade neles?
Quando Chico Xavier psicografava, o que acontecia de verdade dentro do seu cérebro? Quando alguém faz regressão de vidas passadas, que partes do cérebro são ativadas que dão acesso as informação por elas relatadas? Como elas conseguem descrever paisagens, costumes, roupas de uma certa época do passado?
Por que, de repente, uma pessoa, com múltiplas personalidades, acessa dentro de si, um indivíduo que fala inglês, se ela mesma não conhece nada dessa língua? O que de fato acontece lá dentro do seu cérebro que ativa um personagem, aparentemente, inexistente? De onde vêm tais informações ou ações?
O hinduísmo fala em Registos Akáshicos, uma espécie de Biblioteca Virtual, que cada indivíduo possui, onde estão registradas todas as ações pretéritas. Mas, os estudos genealógicos me convencem, a cada dia, que tudo que existia, na época dos nossos ascendentes, vai passando de geração a geração para seus descendentes. Mas, a nossa educação, ao contrário do que devia acontecer, vai podando nossas potencialidades e dificultando nossa capacidade para acessar essas informações. A ciência e a religião, muitas vezes, ao longo do tempo, mutilaram nossas capacidades naturais, tratando com desprezo e preconceitos nossas percepções.
Acredito, também, que estamos em rede, uns com os outros. Quando alguém sente em uma determinada hora, que um parente ou amigo, que mora distante, faleceu, e depois isso se confirma, temos uma prova da existência dessa rede entre as pessoas. Por que algumas descobertas ocorrem simultaneamente em lugares distantes? Há plágio, sincronicidade, ou essas pessoas entram em rede? Por que gêmeos que foram criados em lugares diferentes tem as mesmas preferências?
A educação seria melhor se estimulasse nossas capacidades inatas. Pegue uma caneta ou um pincel, sem a menor preocupação, e, talvez você escreva uma bela poesia, um bom romance, ou pinte um quadro espetacular, sem precisar pegar carona em gente famosa que já faleceu.
Nossa existência não começou na vida presente. Estamos aqui desde o começo de tudo!
03/10/2012
Uruassú, a carta de Lopo Curado
“Relação das últimas tiranias, e crueldades, que
os pérfidos holandeses usaram com os moradores do Rio Grande, escrita pelo
Capitão Lopo Curado aos dois mestres de campo, e governadores da liberdade de
Pernambuco, João Fernandes Vieira, e André Vidal de Negreiros, cujo traslado de
verbo ad verbum, é o seguinte:
Em particular aviso a Vossas Senhorias do
memorável sucesso do Rio Grande, depois das duas matanças que fizeram os
tiranos flamengos, acompanhados de bárbaros Tapuias e Pitiguares, e nesta
derradeira, certo que é incrível a tirania, no qual servirá de maior exemplo, e
que escureça todas quantas tem sucedido no mundo em tempo dos imperadores
romanos antigos; memória que haverá enquanto durar o dito; pois o sangue
derramado de tantos inocentes, clama aos céus justiça, e aos príncipes da terra
favor, a tomar vingança de tais tiranos: e para relatar os sucessos, e modos
que houve entre os ditos flamengos de suas deslealdades, e traições, é tomar o
tempo a Vossas Senhorias, ainda que o mesmo o há de manifestar; porque tais
tiranos quer Deus que os conheçam, para que a cristandade veja, que mais vaI
passar por todos os tormentos da morte, que viver morrendo entre o nome de tal
gente. Patente é a Deus, e ao mundo, e o será daqui em diante às mais remotas nações
dele, a traição que usaram os ditos holandeses com os pobres moradores do Rio
Grande, estando em uma cerca recolhidos por se livrarem dos bárbaros Tapuias, e
brasilianos, passando, e padecendo nela havia três meses notáveis misérias, nos
quais foram acometidos por muitas vezes dos tais inimigos, que ainda não fartos
do sangue, que fizeram derramar ao povo de Cunhaú, e casa forte de João de
Lostao, pretenderam esgotar o de esta pobre gente cercada, para que nela se
acabasse o nome português daquela Capitania, para o que dezesseis dias, e
noites os tiveram em cerco, assim Tapuias, como brasilianos e flamengos, nos
quais lhes deram terríveis batarias sem as poderem levar, usando de um ardil,
para com ele fazer a obra que pretendiam. E foi, que armaram uns carros
emadeirados, levando-os diante de si, com mosquetaria, e outros instrumentos de
guerra para chegarem à dita cerca, mas não foi bastante este artifício, porque
setenta portugueses que havia nela, ainda que poucos no número, Irias muitos no
esforço, os arredaram de si de maneira com quinze armas de fogo, e os mais com
paus tostados, que lhe quebraram os carros, e os puseram em fugida com perda do
dito inimigo de vinte homens, sem da nossa parte perigar nenhum, e vendo os
ditos flamengos que os não podiam render, lhes cometeram que se entregassem,
pois eles eram ali vindos da fortaleza, e seu tenente, para os guardarem assim
dos ditos selvagens, como dos flamengos moradores, que com os ditos estavam, os
quais lhes tinham feito aquela guerra. E vendo os ditos moradores o tão pouco
que se podiam fiar da palavra de tiranos, disseram, que enquanto ali estivessem
Tapuias e brasilianos, queriam antes morrer, que se entregar; e que tinham bom
exemplo na traição das mortes, que fizeram no Cunhaú na casa forte de João de
Lostao, ao que lhes responderam, que em nome de S. Alteza o Príncipe de Orange,
lhes requeriam se entregassem, e não usassem mais de armas, prometendo-lhes
vidas, e fazendas, na maneira que até então os gozavam, e fazendo o contrário
que mandariam vir uma peça de artilharia da fortaleza, e com ela os bateriam, e
não escaparia nenhum, e os teriam por alevantados. E considerando os ditos
cercados, que já não tinham mantimentos nenhuns, nem munições para sustentar as
armas, fiados nas palavras dos ditos flamengos, lhes disseram que fizessem
disso um papel, o qual fez o tenente, e os mais oficiais de guerra, em que se
assinaram, e nele lhes prometeram de os guardar dos ditos selvagens Tapuias, e
brasilianos, e conservar com a vida, e fazenda; e feito o sobredito, pediram
que em reféns haviam de levar cinco moradores para a fortaleza, o que lhes foi
concedido: os quais foram Estêvão Machado de Miranda. Vicente de Souza Pereira,
Francisco Mendes Pereira, João da Silveira, Simão Correia, deixando eles dez soldados
de guarda da dita cerca, e gente que nela estava; e tomaram todas as armas de
fogo, e paus tostados com que os moradores se tinham defendido. Estavam mais
recolhidos para segurarem suas vidas na fortaleza o P. Vigário Ambrósio
Francisco Ferro, Antônio Vilela o Moço, Joseph do Porto, Francisco de Bastos, e
Diogo Pereira, e prisioneiros João Lostrao Navarro, Antônio Vilela Cide. Em
dois do presente mês de outubro chegou uma lancha do Recife ao Rio Grande, e
conforme a execução que se fez, trouxe ordem para matar a todos os moradores de
dez anos para cima, como ao diante se verá; em três do dito mês véspera de S.
Francisco mandaram os flamengos da fortaleza sair a todos os moradores que nela
estavam, que foram os acima nomeados dizendo que já estavam seguros dos
Tapuias, porquanto se tinham ido para o sertão, e que fossem em companhia da
tropa que ia em sua guarda para a cerca aonde estavam os outros moradores,
visto haver lá muitos mantimentos com que se podiam sustentar, e não estando na
dita fortaleza passando fomes por falta de mantimentos, e que iam seguros
porquanto tinham lá na dita cerca aos ditos dez soldados, que lhes tinham
deixado para sua guarda. No mesmo ponto lançaram aos ditos, que estavam na
fortaleza, e em batéis os levaram pelo rio acima três léguas, acompanhados dos
soldados, e os lançaram fora no porto do dito rio, chamado de Uruauassu meia
légua da dita cerca, na qual acharam passante de duzentos brasilianos bem
armados com Antônio Paraupaba escaramuçando em um cavalo, e tanto que estiveram
em terra, os flamengos despiram nus aos ditos moradores, e os mandaram pôr de
joelhos (o que eles receberam COM muna paciência, e os olhos em Deus) e logo
chamaram aos brasilianos para os matar, o que se executou logo, fazendo nos
corpos destes mártires tais anatomias, que são incríveis; e não contentes com
elas, os ditos flamengos os ajudaram a matar, assim arrancando os olhos a uns,
e tirando as línguas a outros, e cortando as partes vergonhosas, e
metendo-lh'as nas bocas. No mesmo instante que os acabaram de matar, foram os
ditos flamengos à cerca deixando os brasilianos no lugar em que tinham feito os
martírios nomeados para a segunda execução; e aos moradores disseram, que os
senhores do Concelho do Recife os mandavam chamar, para o que estava um barco
logo para partirem, e que fossem em sua companhia para os embarcarem, e vendo
os sobreditos que era a viagem tão apertada, sem lhes darem demora alguma, e
sem saberem dos que eram mortos, e disseram todos juntos, e cada um por si, que
eles iam a morrer, porque seus corações lh'o diziam; e despedindo-se com
lágrimas, e suspiros de mulheres, filhos, irmãos e irmãs, foram todos dando
graças a Deus, e mui conformes, por morrerem por seu Deus, e por seu Rei, e sua
pátria, e dizendo estas mesmas palavras aos tiranos algozes que os levavam; e
chegando aonde estavam os sobreditos brasilianos lh'os entregaram, e com a
tirania, e desumanidade que em seus corações habita, os mataram, sem ficar
nenhum; na qual execução se fizeram as maiores anatomias, e martírIos nos
corpos destes mártires, que são coisas que a boca não pode pronunciar. E
acabante as ditas mortes deixaram os corpos postos ao sol, e sobre a terra, e
sem sepultura nenhuma, e os membros tão divididos em partes, que não se
conhecia quais eram os de cada um dos ditos mártires. No mesmo instante foram
os mesmos tiranos flamengos, e brasilianos à cerca, aonde somente ficaram as
pobres viúvas, e órfãos, e as acabaram de despojar de todos seus bens,
deixando-as a muitas nuas, e com outros opróbrios, que passo em silêncio.
Julguem agora Vossas Senhorias o que fariam as pobres viúvas, quando souberam
dos mesmos algozes, que todos os homens eram mortos, e tão cruelmente, para que
os olhos se aprestaram a fontes, e as bocas, para as funerais lamentações de
seus consortes, pois é de ver (meus senhores) que até isto estes tiranos
tiraram a esta pobre gente, porque querendo lamentar com suspiros, e lágrimas
seus desventurados dias; estes tais lh'o não queriam consentir, e as fizeram
calar, ora com ruins palavras, ora com pés, e mãos, dando-lhe de bofetadas, e
coices, e ameaçando-as, que as haviam de matar se choravam; e por não passar em
silêncio nas pessoas, e nomes de alguns mártires, os declararei por a
constância que tiveram em suas mortes, e martírio, Antônio Baracho casado o
amarraram em um poste, e vivo lhe arrancaram a língua, e depois o coração, e
desta maneira morreu, cortando-lhe suas partes secretas, e metendo-lh'as na
boca ainda em vivo. A Mateus Moreira o abriram por as costas, e lhe tiraram
também o coração, e as últimas palavras, estando neste martírio, que disse,
foram louvar a Deus, dizendo: Louvado seja o Santíssimo Sacramento. E porque na
morte destes Inocentes, houvesse admiráveis circunstâncias, relatarei a Vossas
Senhorias algumas coisas que sucederam mais milagrosas que humanas. Um mancebo
por nome João Martins o levaram para morrer com os mais, e sendo todos mortos à
vista do sobredito, lhe cometeram que dariam a vida se tomasse armas contra sua
nação, a que ele respondeu com alegre rosto: Não me desampara Deus desta
maneira, e.c;sas tomei sempre contra os tiranos, e não contra minha Fé, Pátria,
e Rei. E que o matassem logo porque estava invejando as mortes de seus
companheiros, e a glória que tinham recebido, e quando o não quisessem matar,
ele mesmo os persuadiria a que o fizessem.
Dois mancebos casados, um chamado Manuel Alvres Iha, e outro
Antônio Femandes, depois de estarem em terra cheios de feridas, e nus da cinta
para cima, meteram as mãos nas algibeiras, e puxando cada um por sua faca, e investindo
com os brasilianos mataram logo a três deles, e feriram a quatro ou cinco,
fazendo isto com as ânsias da morte, e logo cairam mortos outra vez. Estêvão
Machado de Miranda tinha uma menina de sete anos sua filha na fortaleza em sua
companhia, e trazendo-a consigo a receber o martírio, vendo a dita menina que
os flamengos queriam matar a seu pai, como aos outros presentes, se abraçou com
ele, pedindo a vida do pai com as lamentações, e entendimentos de mulher de
muitos anos, e os flamengos a tiraram dos braços do dito pai, ao que lhe disse
o dito: Filha, dize a tua mãe que se fique embora, que no outro mundo nos vere.
mos. E desta maneira o mataram, e a menina tirou a saia depois do pai morto, e
se foi para ele, e cobrindo-lhe o rosto, e chorando, e pedindo que a matassem
também, a quem os ditos algozes lançaram mão da dita saia, e trouxeram a menina
a sua mãe, e ela, e os mais contaram o caso. Uma filha de Antônio Vilela o Moço
mataram sendo criança pequena, pegando-lhe os Tapuias à vista dos flamengos em
uma perna, e dando-lhe com a cabeça em um pau, e a fizeram em dois pedaços. E a
outra filha de Francisco Dias o Moço a mataram também, e a abriram em duas
partes com um alfange. E a uma mulher casada com Manuel Rodrigues Moura, depois
do dito morto, lhe cortaram as mãos, e os pés, e a sobredita mulher em três
dias naturais esteve deitada no chão viva, e acabou dando a alma ao Criador.
Diversos martírios, deram neste dia aos corpos dos mártires, e
houve nele muitos milagres patentes, vistos, que quis Deus mostrar que os tais
iam a gozar da bem-aventurança.
Sucedeu pois que aquela noite que padeceram se ouvisse uma música
no céu sobre a fortaleza do Rio Grande, e ouvindo-a a mulher de um flamengo
chamado Gesman governador das armas nesse Recife, se levantou chamando por
algumas mulheres, e também por suas escravas para que ouvissem a música que ia
no céu, o qual caso testificou a sobredita; certo presságio que foram os anjos
que acompanhavam as almas destes mártires para o céu. Na cerca donde tinham
saído os ditos mártires estava entre outras meninas uma filha de Diogo Pinheiro
de idade de oito anos, chamada Adriana, e dando-lhe vontade de chorar, entrou
para uma camarinha por não ser vista, aonde achou uma mulher com um azorrague
na mão, e lhe disse: Cala-te filha, que com este azorrague que aqui vês, hão de
ser castigados estes que fazem estas crueldades, como logo saberás.
Atribulada a menina saiu para fora, e vendo as mulheres a mudança
dela, lhe perguntaram o que tinha? E como assombrada contou o sucesso, e dai a
pouco chegou a nova dos Inocentes mortos, que certo bem parece que a Virgem
Senhora Nossa tem tomado o castigo destes tiranos à sua conta. Naquela mesma
noite houve grande cheiro de incenso na dita cerca, que durou muito tempo, e
foi patente a todos, sem se saber donde o dito cheiro procedia senão do céu.
Houve também entre estes mártires grandes penitências, sem saberem uns dos
outros, e ao dia que padeceram, jejuavam todos a pão, e água, assim os da
fortaleza, como os da cerca, não sabendo uns dos outros, ao outro dia por manhã
pediram licença as mulheres para irem a enterrar os corpos mortos, e não lh'o
consentiram; o que os escravos fizeram às escondidas, e não se achou um palmo
de pano para os amortalharem a nenhum, por deixarem as ditas mulheres em estado
que ficaram despidas de todo, achou-se que todos estes corpos estavam com
cilícios, e os que os não tinham com cordas cingidas, e algumas tão metidas por
a carne que mal apareciam. E sabe-se que durante o tempo que estavam cercados
houve extraordinárias penitências, e até os meninos as faziam, sendo todos nus,
e com cordas cingidas, e todos os dias se faziam procissões com um Santo
Crucifixo, esperanças claras destas almas estarem gozando da bem-aventurança.
Sobre a sepultura aonde foi enterrado o P. Vigário Ambrósio Francisco Ferro se
achou quinze dias depois da sua morte uma posta de sangue fresca sem corrução,
como se naquela hora fosse derramado, mostras bastantes, que o tal brada ao céu
justiça. Muitas outras coisas milagrosas sucederam, dignas de se recontarem,
que deixo ao tempo, no qual fio não passará, e todas acima declaradas foram
vistas, e juradas, e autênticas por vinte cinco mulheres que o inimigo botou
nesta Paraíba, com suas famílias, as ditas chegaram de maneira, e tão transfiguradas
que mais parecem pessoas ressuscitadas que viventes corpos.
O Bolestrate as mandou deitar aqui, e a algumas lhes concedeu
alguma roupa que traziam sobre os corpos, mas em as querendo desembarcar em
terra as despiram de maneira que apenas trouxeram camisas, as quais lhe
largaram por já não terem préstimo para serviço de outro corpo. Vossas
Senhorias perdoem o compêndio da carta, que lhes afirmo que se houvera de
relatar o que se tem passado naquela Capitania houvera mister muitas mãos de
papel, contudo o faço destas sobre ditas coisas acima, que não faltarão
curiosos para o fazer do mais que falta, porque Deus o permite, e manda que
sejam públicas as maldades destes tiranos.
Deus guarde a Vossas Senhorias, hoje vinte e três de outubro de
mil e seiscentos e quarenta e cinco anos. Lopo Curado Garro”
15/03/2012
DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
- A MAIS ANTIGA INSTITUIÇÃO CULTURAL DO ESTADO –
Biênio: 2011 - 2013
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente: Jurandyr Navarro
Vice-Presidente: Itamar de Souza
1° Secretário: Gutenberg Costa
2° Secretário: Claudionor Barroso Barbalho
Secretário-Adjunto: Francisco Fernandes Marinho
1º Tesoureiro: Marcus César Cavalcanti de Morais
2º Tesoureiro: Bruno Villaça
ORADORES
Orador: Dorian Gray Caldas
Vice-Oradora: Ana Maria Cascudo Barreto
DIRETORES DE DEPARTAMNTOS
Diretora da Biblioteca Museu e Arquivo: Fátima Martins Lopes
Diretora-Adjunta: Maria Arisnete Câmara de Morais
COMISSÃO DE FAZENDA E ORÇAMENTO
Cláudio Galvão
João Pegado de Oliveira Ramalho
COMISSÃO DE ESTATUTO E REDAÇÃO DA REVISTA
Luciano Alves da Nóbrega
Paulo Pereira dos Santos
Jeanne Fonseca Leite Nesi
COMISSÃO HONORÍFICA
José Mário de Medeiros
Luiz Gonzaga Meira Bezerra
Severino Vicente
Aprovada em Assembléia Geral de 01/03/2012, por unanimidade
NECROLÓGIO DE ENÉLIO LIMA PETROVICH
Jurandyr Navarro
Filho da terra de Miguelinho, conhecido ficou por toda esfera cultural. Deixou-nos dias passados o ilustrado conterrâneo. A sua ausência é notada e sentida, revelada pela dor familiar e a saudade da confraria que o cercava.
Encheu o espaço temporal da existência com a plenitude da realização de seus propósitos, constituindo família, instruindo e educando descendentes.
Na lida da vida civil porfiou em duas frentes: - na profissão liberal de Advogado, especificamente, na especialidade previdenciária, perto de longos quarenta anos. Nesta atuação adquiriu celebridade profissional, estabelecendo-se em Natal e Salvador, a fim de equacionar interesses múltiplos de inúmeros constituintes que o fizeram patrono de suas causas.
Pari passu a esse labor de ordem profissional, com o passar dos anos tomava vulto o seu interesse pela cultura, segmento operativo ao qual dedicou o restante da sua atribulada existência terrena.
Elas, a Advocacia e a Cultura, as suas apaixonadas amantes espirituais.
Nesse aspecto imitou o escritor eslavo Tchekhov, que dividiu a vida entre a Medicina e a Literatura.
Dizia ele: “Fico satisfeito quando me dou conta de que tenho duas profissões, não uma. A medicina é minha esposa legal, a literatura a minha amante. Quando canso de uma passo a noite com a outra. Pode não ser uma situação habitual, mas evita a monotonia; ademais, nenhuma delas sai perdendo com minha infidelidade. Se não tivesse a minha atividade médica, dificilmente poderia consagrar à literatura minha liberdade de espírito e meus pensamentos perdidos”.
Na sua atividade intelectual, voltada para as Letras e, notadamente, para a História, Enélio deveu à influência exercida pelo tio-avô, Nestor dos Santos Lima, elogiado educador e historiador consagrado, que o antecedeu na Presidência do Instituto Histórico e Geográfico, dirigindo-o por vários anos.
O exemplo foi seguido pelo sobrinho-neto, imitando-o, outrossim, na direção vitalícia da vetusta instituição – a Casa da Memória, dístico da autoria de Luis da Câmara Cascudo.
Eleito, assumiu aos 25 de agosto de 1963, Enélio Petrovich presidiu o Instituto durante 48 anos, 4 meses e 12 dias. Quase meio século, numa atividade dinâmica pela cultura histórica. Essa permanência de labor profícuo foi, sem dúvida, o principal marco da sua lida intelectual.
Pertenceu, também, aos quadros de outras instituições da gleba potiguar, enumerando-se, algumas delas: Academia Norte-Rio-Gandense de Letras; Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte; Fundação Cultural “Padre João Maria”; União Brasileira de Escritores; Conselho Estadual de Cultura, tendo sido associado de outras entidades de âmbito nacional, na condição de Sócio Correspondente.
Em vida, foi agraciado com Medalhas e Comendas, a ele tributadas por corporações civis e militares, em reconhecimento ao seu desempenho intelectual.
A memória do ilustrado historiador não ficou órfã com sua morte, em virtude das obras deixadas à posteridade, quando as gerações moças poderão compulsá-las, avaliando seu valor.
São escritos biográficos insertos em livros, contendo dados narrativos de viagens, ensaios, compilação de artigos de jornais, textos de palestras, discursos, saudações, prefácios e outros.
À época de estudante de Direito, na saudosa Faculdade da Ribeira, em trabalho na sala de aula, teceu considerações sobre episódicos estudos penais relacionados com a doutrina psicanalítica de Freud, tendo recebido, posteriormente, elogio do criminalista famoso daqueles dias, Nelson Hungria.
Na idade madura colaborou em jornais de nossa Cidade e, durante anos, assinou uma coluna no matutino “Tribuna do Norte”, intitulada “A Previdência Social em Dia”, abordando matéria relacionada aos interesses de aposentados e pensionistas.
Dotado de espírito curioso, empreendeu muitas viagens através o Brasil e Exterior, interessado em manter contato com outras culturas, no afã de mais se ilustrar.
Tinha espírito social, dividindo entre a família e amigos as noitadas festivas.
Pertenceu ao Lions Club Norte, agremiação social que pela soberana vontade de seus associados, em certa data, fizeram-no numa de suas votações, seu Governador.
Embora exibisse temperamento difícil, proveniente de herança familiar, denunciado em raros momentos circunstanciais, geralmente se apresentava afável nas conversações, elegendo a política diplomática do bem-querer, brindando a vida com a alegria de uma alma toda voltada para boas causas.
A recordação gravou alguns títulos de palestras por ele proferidas: “Surgimento e Dinâmica do Direito Previdenciário”; “Sigmund Freud – sua Ciência e a Sociedade atual”; “Ordem, Saúde e Justiça”.
Em relação à performance dos intelectuais do Rio Grande do Norte, elogiava a tenacidade de Manuel Rodrigues de Melo, em prol da Cultura; a eloquência de Luís da Câmara Cascudo; a inteligência de Nilo Pereira e a genialidade de Oriano de Almeida.
A lembrança do seu nome perpetuada ficará pelo realizado na órbita superior das coisas do pensamento.
Uma das Salas do Memorial “Oriano de Almeida”, anexo do Instituto Histórico, ficou reservada à sua memória.
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