Gileno Guanabara
A Cidade do Natal nasceu sob o signo da
ideologia cristã, durante a expansão do mercantilismo europeu. Donatários, padres,
aventureiros, corsários e desterrados foram os primeiros a contagiar os
indígenas com seu sangue e suas chagas. Os negros vieram depois. A miscigenação
através de relações legais, adúlteras ou pecaminosas, fecundou proles numerosas.
Nos primeiros anos do século XX, a
Cidade dos Reis Magos recebeu também a presença dos judeus. Vieram do Leste
Europeu, alguns deles serfaditas, todos perseguidos pela intolerância racial ou
religiosa. Foram ondas inquisitórias sucessivas o que os motivou a se
aventurarem noutra Diáspora, em busca de uma nova Jerusalém que os acolhesse.
Aleatoriamente a província Natal
tornara-se referência para os primeiros judeus que aqui aportaram. No censo
realizado em 1900, Natal contabilizava apenas uma dezena de israelitas. A
chegada do primeiro irmão da família Palatinik fomentou o lucro fácil e fez
crescer a comunidade chamada “Jerusalém do Brasil”.
Segundo o trabalho acadêmico de
Luciana Souza de Oliveira (A Fala dos Passos: Imigração e Construção de Espaços
Judaicos na Cidade do Natal”- Natal 2009) o primeiro dos irmãos judeus, Tobias,
se dedicou ao mascate de produtos a domicílio no ano de 1912. Com a chegada dos
demais, em poucos anos já acumulavam riqueza e adquiriram propriedades. A
sociedade natalense não hostilizava a comunidade judaica. No entanto, a segregação
foi estabelecida de parte deles, quando dos casamentos inter-semita de Tobias;
Adolfo; José; e Jacob, todos da família Palatinik. Igualmente ocorreu com
outras famílias judias.
Se não traziam riqueza de monta, no entanto, portavam
o “Talmude”, a lei oral que norteava a experiência de vida, capaz de manter-lhes
as tradições e ritos preservados da origem e até de propiciar vencer as
barreiras do asilo sem serem molestados. No silêncio da noite, após a labuta diária
e das orações, solfejavam palavras, liam os jornais, a fim de se fazerem entender
no comércio das mercadorias que o consumo local ainda não conhecia. A par da
disposição para o trabalho pesado, traziam em seus mantras a noção da Torá, a
Lei escrita legitimadora da condição de judeu.
No sítio dos Palatinik, através de escritura
de doação, no terreno sito no bairro da Cidade Alta, na Rua Felipe Camarão, foi
construída a Sinagoga, lugar sagrado de suas orações. Para a “sacramentalização”
do espaço foi transferida a arca onde se guardava os pergaminhos em forma de
rolo da Torá, escrito à mão, em hebraico, trazido da Palestina.
Tinham preocupação com os seus
mortos. Junto a Prefeitura, reivindicaram a demarcação do lugar, onde
repousariam os falecidos. Foi-lhes dado o alvará para, nos limites
convencionados, ser erigido o “Cemitério Israelita”, no Cemitério do Alecrim,
para onde os mortos eram conduzidos em “Levayá” e homenageados através do
“Keriá”, em obediência da “mitzvá”.
Com o culto e estabelecido o lugar
sagrado - tido entre os judeus como da vida, da morte e das orações – foi
possível acumular riqueza que era compartilhada com as necessidades dos parentes
próximos e dos amigos que não vieram no primeiro momento. Retornaram à
Palestina de onde buscaram as mulheres com quem casariam e dividiriam o nome e
a vida. Com os filhos que nasceram compuseram um estrato social distinto, mantido
pelo trabalho, pelas tradições e práticas culturais, o sonho inabalável de um
dia regressar a Palestina.
Conservavam os nomes de família:”Slavni”;
“Genesi”; “Kaller”; “Josuá”; “Weinstein”; “Volfzon”; “Palatinik”, dentre outros.
Criaram a associação que os congregava e protegia - Centro Israelita do Rio
Grande do Norte. Ao tempo da Segunda Guerra houve dificuldades para a concessão
de vistos de entrada aos judeus. A comunidade articulou a vinda de Einstein ao
Brasil, repercutindo favoravelmente a causa dos judeus. A visita de Luis da
Câmara Cascudo ao Centro Israelita, no dia de “Yom Kippur” provocou o mesmo
efeito. Dissipou veleidades correntes que atribuíam aos judeus a prática da
agiotagem e “sabedoria” em seus negócios.
A presença judia em Natal se revela nos
novos conceitos da arquitetura que a cidade adotou, de ruas e casas da cidade
Alta. Eram exímios artífices em ouro, marcenaria, alfaiataria, música e
agricultura. No comércio e na prática contábil, deram as primeiras experiências
de vendas a crédito. Na parte da educação, as primeiras escolas de ensino
infantil, chamadas “Herzlia” (jardim da infância), acolhiam os filhos dos
judeus. Professores foram trazidos da
Palestina e ensinavam em hebraico. Também vieram professores do Recife, a fim
de ensinar matemática e a leitura da Torá, obrigatoriamente.
Não sei a que atribuir os motivos que
desfizeram a comunidade dos judeus na cidade Alta, em Natal, e de seus
descendentes. A Vila Palatinik é uma reminiscência do antigo sítio que abrigou a
Sinagoga e as casas das famílias dos judeus vindos e nascidos em Natal, até o
ano de 1930.
Obrigada, por poder dividir tão preciosas informações! Abraços e até breve!
ResponderExcluirsou neto de descendente
ResponderExcluirde judeu minha avo duarte silveira
meu bis avo DELPHINO DUARTE SILVEIRA PAI DE MINHA AVO
SOMOS TODOS CARIOCAS
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirola irmao meu nome é carlos roberto da penha fiz uma pesquisa sobre a familia penha de portugal ai fique sabendo que os penha ou pena é judeus forçado a nega sua fe em portugal queria saber sobre as minhs origem judaicas .>. só de natal RN minha mae familha costa e parte do meu pai famillia penha pernambucana.
ResponderExcluirComo saber que sou judia?
ResponderExcluirComo saber????? Tenho sido reflexivo sobre isso a uns meses
ResponderExcluirSó é judeu aquele filho de mae judia, ou crescido na fé ou cultura de família judia (2 ou 3 geracao). Se seus antepassados são cristão novos, "marranos", significa que você eh descendente de judeus, igual a quem é descendente de japoneses ou alemães (mas não falam o idioma, nao nasceram no país e não mais tem contato com a cultura). As pessoas viajam...
ResponderExcluir