Por: Gileno Guanabara
A “Cidade Baixa”, também chamada
“Campina”, situada no salgado das marés da Ribeira, se estendia até as casas da
Rua São João. Numa área de 500 metros quadrados foi erigida a Praça Augusto
Severo, em homenagem ao pai da aviação. A edificação da praça coube ao
engenheiro Herculano Ramos, durante o governo de Alberto Maranhão. Constava a estátua
do homenageado, passeios e alamedas, plantas, bancos de madeira e o coreto para
as tocatas. Ao meio, o riacho, por onde adentravam as águas do Rio Potengi. Uma
ponte principal de concreto dava acesso a atual Rua Câmara Cascudo, em direção
à “Cidade Alta”.
As construções que ladearam a Praça
Augusto Severo tinham perfil arquitetônico semelhante. Ao Norte, se iniciava a
Rua Sachet, desde a esquina do Hotel Avenida, que passou ao nome de Avenida
Duque de Caxias. No Poente, se destacava a loja “Natal Modelo” de Aureliano
Medeiros que deu o nome à Travessa. Seguia o prédio que funcionou o Cinema Polyteama,
algumas residências e, adiante, o prédio da Estação da Great Western. Pelo Nascente,
mais expressivo, o Teatro Carlos Gomes; o Grupo Escolar Augusto Severo
(ex-Faculdade de Direito); e a ex-Escola Doméstica de Natal, atual Instituto
Nacional de Seguridade Social.
No dia 12 de maio, todos os anos, dava-se a
comemoração da data do “Pai da Aviação”. As alunas da Escola Augusto Severo,
engalanadas, farda branca de saia pregueada, de mãos dadas, circundavam a
estátua de Augusto Severo. As moças sob os acordes da Banda de Música da Aeronáutica,
cantavam o hino: “Foi a 12 de maio na França/Era puro e sereno o azul do
céu/Flutuava o Pax nas asas da bonança/A glória conduzindo o seu troféu.”//
(estribilho) “Auri verde pavilhão/E a popa do balão”.//”Houve um raio de luz
pelo horizonte/Um soluço de dor nos ares paira/A águia rolou dos píncaros do
monte// “Auri verde pavilhão...”. Enquanto isso, um avião sobrevoava e lançava
a coroa de flores sobre a estátua do homenageado.
Antes das demais edificações, deu-se
a construção original do “Teatro Carlos Gomes”, obra do governo de Ferreira
Chaves, sob os cuidados do engenheiro
José de Parrêdo, iniciado em 1898 e concluído no ano de 1902, ou 1904.
Com a reforma realizada durante o governo de Alberto Maranhão e obra do
engenheiro Herculano Ramos, ganhou a concepção atual e foi concluída em 1912. Ocupa
a área de 80 metros de fundos, por 12 metros de largura. De poltronas, frisas,
camarotes e galerias, totalizava uma capacidade de 1.000 expectadores. Sua disposição
interna é de uma lira e caixa de som à italiana. Nos anos de 1958 e 1959, abrigou
a sede da Câmara Municipal de Natal. Passou a se chamar “Teatro Alberto
Maranhão”.
A solenidade de reinauguração ocorreu
precisamente às 15,00 horas, do dia 16 de junho de 1912, no salão de gala do
Teatro, com direito à visitação às dependências do sodalício. O sol incidia na
frente do prédio, refletindo no salão que abrigava os convidados.
Era regra para os homens o traje adequado
em tais solenidades: jaquetão; camisa de linho, com colarinho alto e punhos fechados;
gravata borboleta; sapatos de verniz de bico fino; meias brancas de seda; lenço
na lapela; chapéu de feltro; “pince-nez”; relógio de bolso com corrente e
bengala. As mulheres portavam vestidos longos de seda francesa, combinação, chapéu
ou solidéu, luvas, cachecol, mantilha, corpete, sapatos fechados e o
indispensável leque. A preocupação dos presentes era com a demora do ato,
tantas eram as autoridades presentes e os comuns mortais silentes, sob o mais
causticante calor.
O Dr. Herculano Ramos retirou do paletó
um calhamaço de papel, com os rabiscos do discurso. O engenheiro, que não era
um discursador, pressentiu a agonia dos presentes. Aprumou os óculos sobre o
nariz e falou: “Exmo. Sr. Governador do Estado. Vossa Excelência entregou-me um
pardieiro e eu agora lhe restituo um teatro.”. Dito isto, recolheu a papelada e
deu por encerado o ato.
Nos anos iniciais do século XX,
segundo Anchieta Fernandes (1992), o Teatro Carlos Gomes foi palco de
experiências cinematográficas, inclusive nele funcionando a sede do “Cinema
Natal”. Dentre os
cartazes expostos na frente do Teatro, o filme divulgado era “Two Arabian in Nigth”.
Na área cênica, abrigou o “Gymnásio Dramático” que congregava os sócios
amadores, os da ajuda financeira e os que elaboravam a parte literária. Participavam
do “Gymnasio” Sebastião Fernandes, Luiz Potiguar, José Pinto, Ivo Filho,
Ezequiel Wanderley, Deolindo Lima, Virgílio Trindade, Jorge Fernandes, Sandoval
Wanderley, Jaime Wanderley, Carlos Siqueira, João Estevam (“Estevinho”), José
Calafange, José Calazans, e outros. Apresentavam-se no Teatro óperas – A Dama
das Camélias -, revistas, vaudevilles, comédias e dramas. Jorge Amado registrou
que teve a peça dramática “Renúncia” encenada em Natal (em dúvida, se no ano de
1914), provavelmente pelo “Gymnásio Dramático”. Coelho Neto, em passagem por
Natal, assistiu a peça “O Dote”, com participação de Alvaro Costa, Córa Costa e
Lívia Maggioli.
Dentre os diretores, até a década de
1960, o teatrólogo Meira Pires, por sua dedicação, muito contribuiu para a arte
cênica do Estado. Escreveu a “História do Teatro Alberto Maranhão”. Com a ida
de Meira Pires para o INACEM, no Rio de Janeiro, a direção foi exercida por
Dorian Gray e depois por Iapery Araújo. Em 1970, faleceu “Coquinho”, o ultimo construtor
do Teatro quando de sua reconstrução, em 1912.
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