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Sobre “O Terceiro Homem” (I)
Há gente, certamente a maioria dos que vão ao cinema (mas nem toda maioria é sábia), que não gosta de filmes antigos, sobretudo aqueles em preto e branco. Definitivamente, esse não é o meu caso. Embora não me considere exatamente um nostálgico, adoro filmes antigos. E, para quem gosta ou não, hoje vou sugerir - escrever sobre - um filme antigo fantástico: “O Terceiro Homem” (“The Third Man”, no original), que é invariavelmente considerado o melhor filme britânico de todos os tempos.
De 1949, “O Terceiro Homem” foi produzido por David Selznick (1902-1965) e Alexander Korda (1893-1956) e dirigido por Carol Reed (1906-1976), com base em roteiro escrito por nada menos que Graham Greene (1904-1991), escritor que marcou minha adolescência, e sobre quem especificamente um dia escreverei aqui (aliás, após a produção do filme, Graham Greene publicou, em 1950, uma novela com o mesmo nome, expandindo o roteiro do filme, novela essa que, numa edição da Coleção L&PM Pocket, tenho ora em mãos para formular este riscado). Por trás das câmeras, “O Terceiro Homem” ainda conta com craques como Robert Krasker (1913-1981), responsável pela maravilhosa fotografia, e Anton Karas (1906-1985), que responde pela tocante trilha sonora.
“O Terceiro Homem”, registre-se ainda, marca o ponto culminante da parceria entre o multipremiado diretor Carol Reed (vencedor, entre outras coisas, do Oscar de melhor direção em 1968 por “Oliver”) e Graham Greene, que nos deu outros excelentes filmes, tais como “O Ídolo Caído” (“The Fallen Idol”, 1948) e “Nosso homem em Havana” (“Our Man in Havana”, 1959).
Sob a direção de Carol Reed, atuam Joseph Cotten (Holly Martins), Orson Welles (Harry Lime), Alida Valli (Anna Schmidt), Trevor Howard (Major Calloway), Bernard Lee (Sergeant Paine), Wilfrid Hyde-White (Crabbin), Ernst Deutsch (“Baron” Kurtz), Erich Ponto (Dr. Winkel) e Siegfried Breuer (Popescu).
“O Terceiro Homem” é magistralmente ambientado na Viena pós-Segunda Guerra Mundial, uma cidade dividida entre as quatro potências vencedoras do grande conflito (Estados Unidos da América, Inglaterra, França e União Soviética). Basicamente (já que, por óbvio, não vou antecipar toda a estória do filme), Holly Martins, um romancista americano de faroestes de segunda categoria, com uma forte propensão à bebida, sem um tostão no bolso, chega a Viena para encontrar o seu amigo de longa data, o inescrupuloso Harry Lime, que lhe havia prometido um emprego. Logo descobre que seu amigo Harry está (ou estaria, melhor dizendo) morto. Mas as circunstâncias são muito suspeitas, e ele dá início à sua própria investigação para descobrir a verdade. No meio disso, entre alguns porres, Holly é seguido de muito perto pelo Sargento Paine (das forças britânicas) e pelo superior Major Calloway, passa-se por escritor famoso, interage com os amigos/sócios de Harry Lime (Crabbin, “Baron” Kurtz, Dr. Winkel e Popescu) e, previsivelmente, apaixona-se pela ex-amante do amigo. E, claro, há o problema: o misterioso “terceiro homem”.
Como já tido no começo deste artigo, “O Terceiro Homem” é por muitos considerado o melhor filme britânico de todos os tempos. Para ser ter uma ideia, já em 1949, quando do seu lançamento, “O Terceiro Homem” ganhou o “Grand Prix” (à época, o principal prêmio) do Festival de Cannes, assim como o “British Academy Film Award” de melhor filme britânico. No ano seguinte, indicado em três categorias, arrebatou um Oscar.
Com o tempo, sua boa fama só aumentou. “O Terceiro Homem” é, por exemplo, o “top ten” em um livrinho que possuo, “Great British Movies” (escrito por Don Shiach, editora Pockets Essential, 2006), e que recomendo para os amantes do cinema da Terra da Rainha. E, oficialmente, em 1999, o British Film Institute - BFI apontou “O Terceiro Homem” como o melhor filme britânico do século XX, batendo clássicos como “Brief Encounter” (1945, direção de David Lean), “Lawrence of Arabia” (1962, David Lean), “The 39 Steps” (1935, Alfred Hitchcock) e “Great Expectations” (1946, David Lean).
Mas qual a razão disso? Por que essa veneração ao “Terceiro Homem”? Quais seriam as suas grandes qualidades?
Isso é o que veremos na nossa conversa da semana que vem.
Marcelo Alves Dias de Souza Procurador Regional da República Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL Mestre em Direito pela PUC/SP
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