A Coluna
Prestes no Rio Grande do Norte - V
Tomislav R. Femenick – Membro da diretoria do
Instituto Histórico e Geográfico do RN
Tendo
percorrido parte do Estado de Pernambuco, em janeiro de 1925 tudo apontava
para uma breve entrada da Coluna Prestes no território cearense. A estratégia de
defesa armada pelo governo federal foi usar, ao mesmo tempo, os recursos dos
governos estadual e federal, a estrutura de mando dos coronéis que dominavam a
política nos centros maiores e nos mais longínquos rincões do sertão, bem como o
poder de luta dos jagunços. Nessas circunstâncias, a defesa do Ceará foi posta
sob o comando do deputado federal Floro Bartolomeu, nome talhado para a
situação, pois era homem ligado aos coronéis, aos jagunços do interior do
Estado e ao Padre Cícero. O professor Neill Macaulay
(1977), citando dados do
historiador Otacílio Anselmo, diz que “no dia 31 de janeiro de 1925 um trem especial partiu
de Fortaleza para a cidade de Juazeiro, no Cariri, carregado de material bélico
e transportando Floro Bartolomeu e mil contos de reis em fundos federais. Juazeiro
era a Meca do sertão nordestino, a sede de Padre Cícero Romão Batista, chefe
espiritual e temporal de milhares de sertanejos, jagunços e partidários
políticos”.
As
providências tomadas pelo deputado não foram nada ortodoxias ao convocar um “batalhão
patriótico”, integrado por jagunços vinculados aos coronéis. Todavia, sua
atitude mais controversa foi incorporar a esse grupo o bando do mais famigerado
e temido cangaceiro que atuava nos sertões nordestinos. Escreveu uma carta a Lampião
convidando-o a fazer parte da empreitada, carta essa que foi submetida à
avaliação e que foi aprovada pelo Padre Cícero, figura respeitada e admirada
por Virgulino Ferreira.
Tão
logo recebeu a carta, Lampião partiu para Juazeiro com 49 homens. No dia 5 de
março foi recebido pelo sacerdote e obteve a patente de capitão do “batalhão
patriótico”, outorgada por um amedrontado funcionário do Ministério da
Agricultura. Como parte das negociações, recebeu ainda fardas e armamento para
a sua “tropa”. Três dias depois desses acontecimentos o deputado Floro
Bartolomeu, que já se encontrava enfermo no Rio de Janeiro, veio a falecer.
Entretanto
a carreira legalista de Lampião foi curta, embora aparentemente estivesse decidido
a cumprir sua parte no acordo. Seu bando deixou e Ceará e voltou para
Pernambuco, onde continuou a praticar crimes e, consequentemente, foi
perseguido pela polícia. Como pensava que o seu posto de capitão do “batalhão
patriótico” lhe conferia imunidade ilimitada, voltou a Juazeiro para novamente falar
com o Padre Cícero, mas não foi por ele recebido. Certamente queria reclamar da
ação da polícia de Pernambuco. Decepcionado, Lampião abandonou o posto, voltou
a sua carreira de cangaceiro, mas não abdicou o titulo de capitão, que adotou
daí para sempre.
Indiferente
às tratativas dos legalistas, a Coluna Prestes entrou no Ceará atravessando a
Serra do Ibiapaba, vinda do Piauí. No dia 15 de janeiro atacou a cidade Ipu, depois
Crateús e Arneiroz. Visando
dividir as tropas legalistas, o tenente João Alberto, que comandava um pelotão
avançado dos rebeldes, enviou telegramas para Fortaleza e Sobral dando indícios
de que marcharia em direção àquelas cidades, quando sua verdadeira intenção era
ir em outro sentido. A trama de João Alberto deu certo. Um significativo
contingente da Policia Militar cearense foi deslocado para a capital do Estado,
deixando quase livre o caminho que a Coluna seguiria: “para
evitar as concentrações de jagunços em redor de Juazeiro, os revoltosos
marcharam rapidamente em direção ao Rio Grande do Norte” (MACAULAY, 1977).
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