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07/01/2014

A Coluna Prestes no Rio Grande do Norte - V
Tomislav R. FemenickMembro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Tendo percorrido parte do Estado de Pernambuco, em janeiro de 1925 tudo apontava para uma breve entrada da Coluna Prestes no território cearense. A estratégia de defesa armada pelo governo federal foi usar, ao mesmo tempo, os recursos dos governos estadual e federal, a estrutura de mando dos coronéis que dominavam a política nos centros maiores e nos mais longínquos rincões do sertão, bem como o poder de luta dos jagunços. Nessas circunstâncias, a defesa do Ceará foi posta sob o comando do deputado federal Floro Bartolomeu, nome talhado para a situação, pois era homem ligado aos coronéis, aos jagunços do interior do Estado e ao Padre Cícero. O professor Neill Macaulay (1977), citando dados do historiador Otacílio Anselmo, diz que “no dia 31 de janeiro de 1925 um trem especial partiu de Fortaleza para a cidade de Juazeiro, no Cariri, carregado de material bélico e transportando Floro Bartolomeu e mil contos de reis em fundos federais. Juazeiro era a Meca do sertão nordestino, a sede de Padre Cícero Romão Batista, chefe espiritual e temporal de milhares de sertanejos, jagunços e partidários políticos”.
As providências tomadas pelo deputado não foram nada ortodoxias ao convocar um “batalhão patriótico”, integrado por jagunços vinculados aos coronéis. Todavia, sua atitude mais controversa foi incorporar a esse grupo o bando do mais famigerado e temido cangaceiro que atuava nos sertões nordestinos. Escreveu uma carta a Lampião convidando-o a fazer parte da empreitada, carta essa que foi submetida à avaliação e que foi aprovada pelo Padre Cícero, figura respeitada e admirada por Virgulino Ferreira.
Tão logo recebeu a carta, Lampião partiu para Juazeiro com 49 homens. No dia 5 de março foi recebido pelo sacerdote e obteve a patente de capitão do “batalhão patriótico”, outorgada por um amedrontado funcionário do Ministério da Agricultura. Como parte das negociações, recebeu ainda fardas e armamento para a sua “tropa”. Três dias depois desses acontecimentos o deputado Floro Bartolomeu, que já se encontrava enfermo no Rio de Janeiro, veio a falecer.
Entretanto a carreira legalista de Lampião foi curta, embora aparentemente estivesse decidido a cumprir sua parte no acordo. Seu bando deixou e Ceará e voltou para Pernambuco, onde continuou a praticar crimes e, consequentemente, foi perseguido pela polícia. Como pensava que o seu posto de capitão do “batalhão patriótico” lhe conferia imunidade ilimitada, voltou a Juazeiro para novamente falar com o Padre Cícero, mas não foi por ele recebido. Certamente queria reclamar da ação da polícia de Pernambuco. Decepcionado, Lampião abandonou o posto, voltou a sua carreira de cangaceiro, mas não abdicou o titulo de capitão, que adotou daí para sempre.
Indiferente às tratativas dos legalistas, a Coluna Prestes entrou no Ceará atravessando a Serra do Ibiapaba, vinda do Piauí. No dia 15 de janeiro atacou a cidade Ipu, depois Crateús e Arneiroz. Visando dividir as tropas legalistas, o tenente João Alberto, que comandava um pelotão avançado dos rebeldes, enviou telegramas para Fortaleza e Sobral dando indícios de que marcharia em direção àquelas cidades, quando sua verdadeira intenção era ir em outro sentido. A trama de João Alberto deu certo. Um significativo contingente da Policia Militar cearense foi deslocado para a capital do Estado, deixando quase livre o caminho que a Coluna seguiria: “para evitar as concentrações de jagunços em redor de Juazeiro, os revoltosos marcharam rapidamente em direção ao Rio Grande do Norte” (MACAULAY, 1977).

O norte-americano Neill Macaulay lutou na guerra da Coréia, foi professor da Universidade da Florida e historiador. É autor de dois livros sobre o Brasil (A Coluna Prestes e D. Pedro I), um sobre a luta dos guerrilheiros nicaraguenses contra a invasão de seu país por tropas ianques em 1912/1933 (The Sandino Affair) e outro (Um Rebelde em Cuba), baseado em sua experiência cubana, quando lutou ao lado dos guerrilheiros de Fidel e chegou ao posto de tenente do exército revolucionário. Uma das suas missões era treinar soldados revolucionários para executar os inimigos capturados; “Eu fiz o que tinha que fazer. Esses sujeitos mereceram o que tiveram”, teria afirmado o professor-guerrilheiro. O autor de “A Coluna Prestes” entrevistou Luiz Carlos Prestes, quando este estava exilado em Moscou, que leu os originais antes da publicação. No entanto, segundo Elio Gaspari (Folha de S. Paulo, 05 nov. 2007), Neill Macaulay foi um ativo informante da CIA.

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