A Coluna do General Miguel
Costa/Prestes no RN (II)
Luiz Gonzaga Cortez*
Revoltosos vingam a morte do
companheiro
Na emboscada dos beradeiros de S.
Miguel.
O depoimento de José Guedes do
Rêgo sobre a presença dos revoltosos do Exército brasileiro, a partir de
fevereiro de 1926, em São Miguel/RN, é um documento de primeira grandeza porque
foi elaborado por quem viu os acontecimentos que abalaram os grotões do oeste
potiguar. È possível que algum leitor deste artigo tenha conhecimento dos
relatos de “Zé Guedes”, pois ele nunca negou repassar o documento para
historiadores e amigos, mas teve um caso em que a pessoa recebeu uma cópia e
escreveu um livro sobre “Os revoltosos de São Miguel”, mas não citou a fonte.
Quer dizer, traiu o autor, copiou e não citou na bibliografia. Depois eu
escreverei o nome dele, inclusive sobre o encontro de Zé Guedes com Luiz Carlos
Prestes, na Assembléia Legislativa do RN, em Natal.
José Augusto Pessoa, filho do
coronel João Pessoa, depois do entrevero com os revoltosos, passou em São
Miguel e correu 06 léguas e se escondeu na serra “São José”, entocado numa mata, durante vários dias e só saiu de lá
quando a situação acalmou. O fujão tinha tanto medo dos militares que para
fumar um cigarrinho, escondia-se num buraco e soltava a fumaça dentro e depois
cobria o buraco com folhas.
“Diante das notícias alarmantes,
Manoel Vieira de Carvalho, com quem eu trabalhava no comércio e morava na casa
dele, foi o homem que lutou para que não
fossem enfrentar os revoltosos e que não tinha medo dos revolucionários. Mesmo
assim, teve que sair da cidade porque a sua senhora estava grávida, com toda a
sua família, às 7 horas da noite, e ficaram na casa de Antonio de Chica, depois do açude
público a 1 km de São Miguel.
“João Leite mandou portador para amigos dele,
pedindo socorro de homens e, à tardinha,
chegaram seis homens enviados pelo sr.
Antistená Diógenes, ex-genro de João Leite. O comerciante Manoel Antonio Nunes,
um dos elementos de maiores possibilidades eleitorais e prestígio para João Leite,
que tinha dois cunhados na Fazenda Santana, município de Icó, a 4 léguas de S.
Miguel. Os homens sempre lutaram com muita gente e dentre aqueles elementos
capacitados para qualquer luta, Manoel Antonio mandou avisar a seus
cunhados que mandassem homens, mas não
recordo quantos vieram. Aconteceu que Sr. João leite gostava pouco de Honorinho, um homem um pouco violento. Honorinho foi o primeiro que chegou a
porta de Sr. João Leite do chamado de Manoel Antonio. Apresentou-se na frente
da casa para defesa da cidade, com um rifle a lua da sela e disse: “pronto seu
João Leite para a defesa da cidade, estou eu”.
João Leite respondeu: “eu não
preciso de bandido para defesa da cidade”. Honorinho, como um homem forte,
pulou da sela e partiu em procura do chefe, dizendo “bandido, o quê”;
apareceram intervenções de várias pessoas, evitando, assim, o trágico
acontecimento”.
“Os seis homens enviados por
Antistená Diógenes, ao chegarem ao lugar “Criôlas”, em Pereiro/Ceará,
encontraram-se com um pequeno grupo de revoltosos e com poucos tiros, os
revoltosos correram, mas eles conseguiram prender dois e levar para a cidade”.
O 3º parágrafo da página II do
seu depoimento,José Guedes do Rego, é um trecho sobre o tiroteio em Canta Galo,
com os revoltosos, após o qual os homens de São Miguel correram mato a dentro,
sem citar um detalhe: alguns homens em fuga “empiquetaram-se numa casa do Canta
Galo e lá ficaram, quando aproximou-se
pequeno grupo de revoltosos e um subiu o mmorro de terra, tornando-se bem por
eles que se achavam dentro da casa e atiraram, matando o revoltoso mais
descoberto; nisto os revoltosos frecharam em procura casa e os que estavam
dentro, quase todos correram, tendo ficado um dos homens que havia juntado-se
aos outros em Engenho, o qual não recordo o nome, mas tinha um irmão conhecido por “Miguelzinho Ourive”, que
morava em S. Miguel. A casa foi cercada por muitos revoltosos, pegaram o rapaz
e sangraram”.
Prossegue Zé Guedes sobre o a
prisão de dois revoltosos, em Criôlas: “ao chegarem os homens com dois
revoltosos presos, João leite foi visitá-los, em companhia de familiares e
interrogou-os em relação a qualquer coisa dos acontecimentos e a resposta dos
homem foi: “o senhor está pensando que esta prisão nos contraria qualquer
coisa, não. Aconselho o senhor que procure retirar-se o quanto antes da cidade
e vá para bem longe e muito escondido, que quanto nós, dentro de poucas horas , teremos
liberdade e o senhor, se não fugir,não escapará. O velho manteve-se um pouco
forte para não retirar-se, mas pessoas da família, como sua filha dona Augusta
e outros elementos, continuaram insistindo e os revoltosos com muita calma,
disse “não desobedeça a sua família, siga quanto antes, não perca tempo”. Então
o velho resolveu sair com várias pessoas da família e rumaram para o mato. O
sobrinho João Veneral, conhecido por João de Sabino, que quem era filho,
aconselhou o tio João leite para ficar num local bem escondido e “ninguém
acertará nunca com nós e aí dormiram pensando que estavam bem escondidos. Ao
amanhecer ouviram muita conversa próxima e procuraram reconhecer aonde estavam,
era bem no aceiro da estrada e aquela conversa era dos revoltosos que passavam na
estrada”.
*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista
e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do RN.
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