1969 – Um passeio à Tabatinga
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Aquele
passeio até Barra de Tabatinga foi uma verdadeira aventura. Quase três horas,
com cinco rapazes dentro de um Fusquinha 66, por uma estrada cheia de buracos e
deserta.
Chegamos
à Pirangi e paramos no Bar do Pinoca para uma água de coco. Aquela praia, mesmo
em 1969, já tinha bastantes veranistas.
Depois
da ponte que separa as duas Pirangis (Norte e Sul) a estrada continuava sinuosa
e cheia de buracos. Muitas casas de pescadores, jangadas e botes de pesca na
orla.
De
lá até a Praia de Búzios a “estrada” era praticamente à beira-mar, tendo seu
trajeto em alguns pontos no meio dos coqueiros nativos. À medida que a viagem
se alongava, a estradinha ia ficando mais deserta e difícil de trafegar.
De
um lugar mais alto, logo depois de Pirangi, víamos ao longe as falésias de
Búzios e a ladeira íngreme que conduzia à Tabatinga e outras praias.
Após
andarmos um pouco em Búzios chegamos a um riozinho, que descia dos morros até a
orla marítima. No local, o mar estava muito agitado e a areia branca era jogada
pelo vento com força.
Do
lado direito, avistavam-se os morros – as dunas prolongavam-se até uma
exuberante mata fechada, provavelmente, repleta de lagoas e mata fechada. Aqui
e ali a choupana de algum pescador. O céu e mar incrivelmente azuis nos
deixaram encantados.
Um
pouco mais a frente, avistamos um Jeep Willys parado a beira-mar, com uma
barraca armada ao lado. Era um grupo de rapazes que tinha vindo de Natal para
uma pescaria de molinete. Deles, me lembro de dois. No meio daquela paz, a
paisagem era indescritível.
Aguardamos
um pouco a maré baixar para prosseguirmos em nossa incursão a beira-mar. Naquela
época, a beira da praia durante a maré seca era muitas vezes utilizada como
estrada, pois essas praticamente não existiam por ali.
Aproveitamos
para tomar um ligeiro banho de mar, pois o calor estava insuportável. Naquele
trecho, as ondas eram enormes, de forma que não nos arriscamos a um mergulho,
praticamente tomamos banho de areia.
Depois,
continuamos pela beira-mar e nos dirigimos à estradinha de barro, que havia
sido construída há pouco tempo – segundo alguns pelo Sr. Pedro Lopes,
proprietário de muitos terrenos dali até Camurupim.
Finalmente,
chegamos ao pé da “Ladeira de Tabatinga” e aí começaria a parte mais difícil de
nossa empreitada. O fusquinha, com seu motorzinho 1.200cc, não tinha força para
vencer a areia fofa daquele areal inclinado com todos os seus ocupantes a bordo.
O
jeito foi revezarmos – enquanto um ia dentro do veículo dirigindo, os outros
empurravam nos trechos mais difíceis para conseguirmos chegar ao fim da
ladeira. Finalmente, alcançamos o topo – nosso esforço foi recompensado – a vista
do alto era indescritível.
De
lá prosseguimos até a pequena vila de pescadores de Tabatinga. Estacionamos em
uma mercearia – ninguém é de ferro!
Para
chegarmos até a praia tranquila havia um longo caminho a pé. Decidimos ficar na
mercearia, onde a cerveja gelada (geladeira de querosene) e o peixe frito no
dendê não nos deixaram dúvidas quanto à nossa opção.
Depois
de Tabatinga as praias desertas iam se sucedendo – algumas calmas para o banho,
outras de ondas altas e bravas, mas deixamos isso para outra oportunidade.
Alguns
do grupo queriam prosseguir até “Campo de Santana” e de lá à Nísia Floresta.
Felizmente, a maioria rejeitou a ideia.
Na
volta, tudo foi mais fácil. De Búzios trouxemos inúmeras conchas coloridas –
brancas, azuis, vermelhas, amarelas, azuladas, cinzentas... recolhidas a beira-mar.
Chegamos
a Natal no pôr do sol e moídos de cansaço. Nada mais justo que uma parada no
Teco-Teco, o bar de Geraldo na estrada de Ponta Negra. Valeu!
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