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10/01/2014

A Coluna do General Miguel Costa/Prestes no RN (II)
Luiz Gonzaga Cortez*

Revoltosos vingam a morte do companheiro
Na emboscada dos beradeiros de S. Miguel.

O depoimento de José Guedes do Rêgo sobre a presença dos revoltosos do Exército brasileiro, a partir de fevereiro de 1926, em São Miguel/RN, é um documento de primeira grandeza porque foi elaborado por quem viu os acontecimentos que abalaram os grotões do oeste potiguar. È possível que algum leitor deste artigo tenha conhecimento dos relatos de “Zé Guedes”, pois ele nunca negou repassar o documento para historiadores e amigos, mas teve um caso em que a pessoa recebeu uma cópia e escreveu um livro sobre “Os revoltosos de São Miguel”, mas não citou a fonte. Quer dizer, traiu o autor, copiou e não citou na bibliografia. Depois eu escreverei o nome dele, inclusive sobre o encontro de Zé Guedes com Luiz Carlos Prestes, na Assembléia Legislativa do RN, em Natal.
José Augusto Pessoa, filho do coronel João Pessoa, depois do entrevero com os revoltosos, passou em São Miguel e correu 06 léguas e se escondeu na serra “São José”, entocado numa mata, durante vários dias e só saiu de lá quando a situação acalmou. O fujão tinha tanto medo dos militares que para fumar um cigarrinho, escondia-se num buraco e soltava a fumaça dentro e depois cobria o buraco com folhas.
“Diante das notícias alarmantes, Manoel Vieira de Carvalho, com quem eu trabalhava no comércio e morava na casa dele, foi o homem que lutou  para que não fossem enfrentar os revoltosos e que não tinha medo dos revolucionários. Mesmo assim, teve que sair da cidade porque a sua senhora estava grávida, com toda a sua família, às 7 horas da noite, e ficaram na casa de Antonio de Chica, depois do açude público a 1 km de São Miguel.
 “João Leite mandou portador para amigos dele, pedindo socorro de homens e,  à tardinha, chegaram  seis homens enviados pelo sr. Antistená Diógenes, ex-genro de João Leite. O comerciante Manoel Antonio Nunes, um dos elementos de maiores possibilidades eleitorais e prestígio para João Leite, que tinha dois cunhados na Fazenda Santana, município de Icó, a 4 léguas de S. Miguel. Os homens sempre lutaram com muita gente e dentre aqueles elementos capacitados para qualquer luta, Manoel Antonio mandou avisar a seus cunhados  que mandassem homens, mas não recordo quantos vieram. Aconteceu que Sr. João leite gostava pouco de Honorinho, um homem um pouco violento. Honorinho foi o primeiro que chegou a porta de Sr. João Leite do chamado de Manoel Antonio. Apresentou-se na frente da casa para defesa da cidade, com um rifle a lua da sela e disse: “pronto seu João Leite para a defesa da cidade, estou eu”.
João Leite respondeu: “eu não preciso de bandido para defesa da cidade”. Honorinho, como um homem forte, pulou da sela e partiu em procura do chefe, dizendo “bandido, o quê”; apareceram intervenções de várias pessoas, evitando, assim, o trágico acontecimento”.
“Os seis homens enviados por Antistená Diógenes, ao chegarem ao lugar “Criôlas”, em Pereiro/Ceará, encontraram-se com um pequeno grupo de revoltosos e com poucos tiros, os revoltosos correram, mas eles conseguiram prender dois e levar para a cidade”.
O 3º parágrafo da página II do seu depoimento,José Guedes do Rego, é um trecho sobre o tiroteio em Canta Galo, com os revoltosos, após o qual os homens de São Miguel correram mato a dentro, sem citar um detalhe: alguns homens em fuga “empiquetaram-se numa casa do Canta Galo e  lá ficaram, quando aproximou-se pequeno grupo de revoltosos e um subiu o mmorro de terra, tornando-se bem por eles que se achavam dentro da casa e atiraram, matando o revoltoso mais descoberto; nisto os revoltosos frecharam em procura casa e os que estavam dentro, quase todos correram, tendo ficado um dos homens que havia juntado-se aos outros em Engenho, o qual não recordo o nome, mas tinha um  irmão conhecido por “Miguelzinho Ourive”, que morava em S. Miguel. A casa foi cercada por muitos revoltosos, pegaram o rapaz e sangraram”.
Prossegue Zé Guedes sobre o a prisão de dois revoltosos, em Criôlas: “ao chegarem os homens com dois revoltosos presos, João leite foi visitá-los, em companhia de familiares e interrogou-os em relação a qualquer coisa dos acontecimentos e a resposta dos homem foi: “o senhor está pensando que esta prisão nos contraria qualquer coisa, não. Aconselho o senhor que procure retirar-se o quanto antes da cidade e vá para bem longe e muito escondido, que quanto  nós, dentro de poucas horas , teremos liberdade e o senhor, se não fugir,não escapará. O velho manteve-se um pouco forte para não retirar-se, mas pessoas da família, como sua filha dona Augusta e outros elementos, continuaram insistindo e os revoltosos com muita calma, disse “não desobedeça a sua família, siga quanto antes, não perca tempo”. Então o velho resolveu sair com várias pessoas da família e rumaram para o mato. O sobrinho João Veneral, conhecido por João de Sabino, que quem era filho, aconselhou o tio João leite para ficar num local bem escondido e “ninguém acertará nunca com nós e aí dormiram pensando que estavam bem escondidos. Ao amanhecer ouviram muita conversa próxima e procuraram reconhecer aonde estavam, era bem no aceiro da estrada e aquela conversa era dos revoltosos que passavam na estrada”.
*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do RN.




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