RELEMBRANDO ISAURO ROSADO
Valério Mesquita*
Quando um amigo que
se foi está esquecido ou quase banido da lembrança, é justo resgatá-lo,
revivê-lo e restituir-lhe o nome, o perfil ou um pouco de sua vida.
Isauro Rosado Maia
conviveu conosco em Macaíba durante anos como médico da Fundação SESP e diretor
da então Maternidade Alfredo Mesquita Filho. Nesse tempo ainda sonhávamos com o
Hospital Regional que veio anos depois. Isauro era o tipo de profissional
acessível e disponível quando procurado. A sua identidade maior com Macaíba
somente ocorreu quando deixou a Secretaria de Saúde do governo do monsenhor
Walfredo Gurgel. Oriundo de Catolé do Rocha, o seu biotipo se assemelhava mais aos
Rosados de Mossoró do que aos Maia da Paraíba. Prestativo e humorado nunca me
revelou ambições políticas no Rio Grande do Norte. Manifestava-se sempre
cordato e moderado nas questões políticas mas sempre fiel aos caminhos do seu
grande amigo Walfredo Gurgel.
Dois fatos me ocorrem
no momento, entre todos outros idos e vividos na nossa relação de amizade. O
primeiro foi numa eleição em que o seu amigo Mota Neto candidatou-se ao Senado.
Fui assistir um comício a seu convite. No palanque, logo de plano, divisei a
figura esbelta de Motinha, alto, gordo e de largos quadris. Dir-se-ia: uma
postura senatorial. Em baixo, há poucos metros, no meio do povo, Isauro
resolveu “mexer” com Mota Neto. Escondeu-se entre os circunstante e gritou: “Motinha,
Motinha!!”. O ex-deputado de Mossoró sempre solicito, percorria o olhar
entre a galera para fazer um aceno ou devolver a gentileza do chamado e não
achava o possível eleitor. “Morinha, Motinha”, bradava Isauro às
gargalhadas ante a preocupação do seu amigo em descobrir de onde provinham os
gritos. “Agora é você, Valério”, sugeriu Isauro. “Não tenho
intimidade com ele”, retruquei. Mas, terminei satisfazendo o seu pedido. “Motinha,
Motinha!!”. Ao cabo de cinco minutos, encabulado, Motinha foi se refugiar
na traseira do palanque e desta vez, escondendo-se entre os políticos para não
mais ser visto pelo eleitor chato e inconveniente.
Mas, a grata
recordação de Isauro me remete a circunstancia especialíssima de quando nos
tornamos compadres. O meu quarto filho, após sofrer, misteriosamente, a perda
prematura de dois, nasceu com problemas cardíacos que somente se revelaram aos
dois meses e vinte dias de nascido. Isauro manifestou solidário não somente
como médico e amigo, mas como irmão, levando a criança a Recife e a São Paulo na
busca de um tratamento. Antes da viagem, batizamos o menino e ele foi o
padrinho. A cirurgia no Hospital do Coração foi difícil e complicada devido a
tenra idade do paciente. No Cemitério da Consolação o meu filho ficou
sepultado. Mas, com Isauro, ficaram, na noite do seu desembarque no Aeroporto,
as lágrimas da minha gratidão. Dele guardo sempre a lembrança afetiva que o
tempo não haverá de desfazer.
(*)
Escritor.
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