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09/01/2020



RELEMBRANDO ISAURO ROSADO

Valério Mesquita*


Quando um amigo que se foi está esquecido ou quase banido da lembrança, é justo resgatá-lo, revivê-lo e restituir-lhe o nome, o perfil ou um pouco de sua vida.
Isauro Rosado Maia conviveu conosco em Macaíba durante anos como médico da Fundação SESP e diretor da então Maternidade Alfredo Mesquita Filho. Nesse tempo ainda sonhávamos com o Hospital Regional que veio anos depois. Isauro era o tipo de profissional acessível e disponível quando procurado. A sua identidade maior com Macaíba somente ocorreu quando deixou a Secretaria de Saúde do governo do monsenhor Walfredo Gurgel. Oriundo de Catolé do Rocha, o seu biotipo se assemelhava mais aos Rosados de Mossoró do que aos Maia da Paraíba. Prestativo e humorado nunca me revelou ambições políticas no Rio Grande do Norte. Manifestava-se sempre cordato e moderado nas questões políticas mas sempre fiel aos caminhos do seu grande amigo Walfredo Gurgel.
Dois fatos me ocorrem no momento, entre todos outros idos e vividos na nossa relação de amizade. O primeiro foi numa eleição em que o seu amigo Mota Neto candidatou-se ao Senado. Fui assistir um comício a seu convite. No palanque, logo de plano, divisei a figura esbelta de Motinha, alto, gordo e de largos quadris. Dir-se-ia: uma postura senatorial. Em baixo, há poucos metros, no meio do povo, Isauro resolveu “mexer” com Mota Neto. Escondeu-se entre os circunstante e gritou: “Motinha, Motinha!!”. O ex-deputado de Mossoró sempre solicito, percorria o olhar entre a galera para fazer um aceno ou devolver a gentileza do chamado e não achava o possível eleitor. “Morinha, Motinha”, bradava Isauro às gargalhadas ante a preocupação do seu amigo em descobrir de onde provinham os gritos. “Agora é você, Valério”, sugeriu Isauro. “Não tenho intimidade com ele”, retruquei. Mas, terminei satisfazendo o seu pedido. “Motinha, Motinha!!”. Ao cabo de cinco minutos, encabulado, Motinha foi se refugiar na traseira do palanque e desta vez, escondendo-se entre os políticos para não mais ser visto pelo eleitor chato e inconveniente.
Mas, a grata recordação de Isauro me remete a circunstancia especialíssima de quando nos tornamos compadres. O meu quarto filho, após sofrer, misteriosamente, a perda prematura de dois, nasceu com problemas cardíacos que somente se revelaram aos dois meses e vinte dias de nascido. Isauro manifestou solidário não somente como médico e amigo, mas como irmão, levando a criança a Recife e a São Paulo na busca de um tratamento. Antes da viagem, batizamos o menino e ele foi o padrinho. A cirurgia no Hospital do Coração foi difícil e complicada devido a tenra idade do paciente. No Cemitério da Consolação o meu filho ficou sepultado. Mas, com Isauro, ficaram, na noite do seu desembarque no Aeroporto, as lágrimas da minha gratidão. Dele guardo sempre a lembrança afetiva que o tempo não haverá de desfazer.
(*) Escritor.

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