Uma pescaria no Potengi
Elísio
Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Chegamos a Ribeira pouco
mais de quatro horas da manhã. As margens do Potengi – no cais Tavares de Lira
– vimos diversas luzes que brilhavam sobre a água do rio e moviam-se em
silêncio. Eram os candeeiros e lamparinas dos botes e canoas de pescadores que
cruzavam o rio, com ajuda da luz da lua cheia, que se derramava sobre o
Potengi.
As cores da água se
alteravam constantemente, talvez, em função das correntes do rio, que se movia
lentamente em sua longa calha até o mar, onde se dissolvia na água salgada.
De onde estávamos, vimos
alguns hidroaviões da Condor, que flutuavam no rio largo. Mais a direita,
alguns vapores da Lloyd Brasileiro, ancorados, à espera de mercadorias a serem
embarcadas.
Dentro de uma daquelas
toscas embarcações de pesca um homem rema, enquanto outro permanece de pé,
segurando uma rede de pesca com as mãos. A canoa segue a favor da correnteza do
rio – ao contrário, exigiria muito esforço. São homens fortes, ágeis, de pele
bronzeada pelas suas atividades diárias.
Os peixes, atraídos pela
luz das lamparinas, aproximam-se dos barcos e botes. Vez ou outra, a água era irrompida
por algum peixe que saltava. Em movimentos rápidos e precisos, os pescadores
jogam suas redes nas águas, tentando capturar os peixes que se aproximam sem
cautela. De onde estávamos o som das redes rompendo as águas é quase
imperceptível. A alvorada aproxima-se e os homens têm pressa.
De repente, algo espadana
próximo à canoa de um deles, Simão, um velho pescador de Maracajaú. Atento, ele
olha fixamente na direção. Em silêncio, faz um sinal para seu companheiro, que,
imediatamente, rema para o local indicado. Simão está atento, tenso.
O barulho do remo cortando
a água é o único som audível que chega até nós. Vez ou outra, um peixe salta
sobre a superfície da água, em frente à canoa. Aos poucos se aproximam do
local.
O velho pescador lança o
olhar experiente ao redor da pequena embarcação, procurando algo que denuncie a
presença de algum cardume. Em silêncio, inclina-se sobre a água, à procura de
algum sinal revelador.
Percebe uma pequena
ondulação na superfície, e uma mancha brilhante logo abaixo. Está no meio do
rio, mais ou menos na confrontação do Cemitério dos Ingleses. Não tira os olhos
do local.
A luz do sol começa a
aparecer no horizonte – o dia está clareando. A rede é lançada com maestria, e
logo dezenas de peixes se debatem em seu interior.
Agachados na beira da
canoa, ele e o parceiro somam suas forças para arrastarem a rede, recolherem o
fruto de seu trabalho. Os seus rostos estão crispados e vermelhos, por conta do
esforço da árdua tarefa.
Pouco depois, os peixes agitam-se
sobre o fundo da embarcação – uma quantidade razoável de pescado. Após
acomodarem a rede de pesca num cantinho da canoa, tomam o rumo do Canto do
Mangue. É hora de voltar – o sol já emite seus raios fortes sobre as águas do
rio, em constante movimento.
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