Francisca Teixeira de Carvalho e a busca de Arlan
Arlan Eloi Leite Silva
Historiador e Pesquisador em Genealogia
Servidor da UFRN
Sua curta existência promoveu uma tentativa de esquecimento de sua
memória. Mas eu, seu descendente de quarta geração, trineto inquieto,
promovo a contramão do processo de apagamento das lembranças dessa mãe,
esposa e mulher que viveu no século XIX. E, na busca incansável de sua
história, colhendo pequenos fragmentos de documentos ou da memória
distante dos parentes ainda vivos, não deixo Francisca Teixeira de
Carvalho morrer para sempre. Ela vive em minhas próprias memórias de
maluco pela genealogia.
Os
Teixeira de Carvalho, família de origem portuguesa com a presença de
judeus, foram numerosos no Brasil. Há registros deles no Rio de Janeiro e
Minas Gerais, por exemplo. Em terras mineiras, houve até um nobre do
Império, Antônio Teixeira de Carvalho, Barão de Rio Pomba, em Barbacena.
Já no Nordeste, os Teixeira de Carvalho se estabeleceram na Paraíba,
dentre outros lugares. A família da minha trisavó veio das terras
paraibanas para o Rio Grande do Norte na primeira metade do século XIX. O
patriarca Vicente Teixeira de Carvalho, sua esposa Luiza Laduvina de
Carvalho e filhos compraram propriedades na Vila de Santana do Matos.
Vicente
Teixeira de Carvalho deixou um filho em Mangabeira, município de
Macaíba, onde estabeleceu uma ponte comercial entre essa cidade e
Santana do Matos no Rio Grande do Norte. De vez em quando esse meu
ancestral, por meio de uma tropa de animais de carga, levava produtos
agrícolas para serem comercializados em Macaíba. E de lá voltava com
outros atrativos para serem vendidos no sertão. Desse modo, a família
cresceu com a aquisição de terras, a criação de gado e a atividade
agrícola.
Um
dos primeiros casamentos que uniu a família Tomaz Cavalcanti, a qual
também veio da Paraíba para o Rio Grande do Norte no mesmo período, com a
família Teixeira de Carvalho, aconteceu em 1871. José Tomaz Cavalcanti,
filho de Francisco Tomaz Cavalcanti e Donata Maria da Conceição, meus
pentavôs, casou-se com Luiza Umbelina de Carvalho, filha de Vicente
Teixeira de Carvalho e Luiza Laduvina de Carvalho. Nesse mesmo dia, foi
batizado o sobrinho de José Cavalcanti, João Barbosa do Nascimento, o
qual teve o tio como padrinho. João era filho de José Barbosa do
Nascimento e Izabel Tomásia do Rosário, meus tetravôs.
A
despeito de outros casamentos havidos entre essas duas famílias
oriundas das terras paraibanas, se deu o matrimônio da jovem Francisca
Teixeira de Carvalho com Manoel Barbosa do Nascimento, filho de José
Barbosa e Izabel Tomásia. Justamente por ter uma memória fugidia em
virtude de sua curta existência, os pais de minha trisavó até o momento
não puderam ser apontados com exatidão. Ela seria neta ou filha de
Vicente Teixeira de Carvalho? A dúvida ainda persiste. A ancestral
nasceu por volta de 1870. Pois bem, Manoel Barbosa do Nascimento e
Francisca Teixeira de Carvalho casaram-se, aproximadamente, em 1887.
Segundo
o depoimento do próprio Manoel Barbosa, que foi um sujeito centenário,
ele raptou a moça Francisca para casar-se. Ao se dirigir aos domínios da
família Teixeira de Carvalho, Manoel foi acompanhado por um senhor
idôneo, a fim de levar a jovem para a residência de uma família
respeitada. O seu companheiro de aventura tentou desistir da missão.
Porém, Barbosa o ameaçou caso quisesse voltar do caminho. O rapto deu
certo. Manoel e Francisca se uniram em matrimônio e desfrutaram da
construção de uma bela família, apesar de conviverem muito pouco pela
tragédia que viria tempo depois.
A
primeira filha nasceu, mais ou menos, em 1889 e foi batizada com o nome
de Tereza, como homenagem a avó paterna de Manoel Barbosa. Depois minha
trisavó concebeu Maria Francisca, esta é a minha bisavó, além de Luiz e
Maria Donata. Esta última filha, que infelizmente só viveu seis anos,
homenageava a avó materna do pai Manoel. Era uma tradição no século XIX
os pais fazerem homenagem aos ancestrais repetindo os nomes deles nos
filhos. E, na última gestação, Francisca Teixeira concebeu gêmeos, mas
devido a complicações no parto faleceu abruptamente. Os bebês também
faleceram. A tragédia marcou a família triplamente e contribuiu para
esbranquiçar os traços indeléveis da memória daquela grande mulher.
Francisca era muito jovem e sua trágica morte, no final do século XIX,
me motivou a reerguer sua memória empoeirada e quase apagada pelo tempo.
O óbito ocorreu por volta de 1895.
Manoel
Barbosa casou-se novamente com Hermínia Batista e juntos tiveram outros
filhos, que deixaram uma descendência numerosa. Os meus trisavôs Manoel
e Francisca conceberam ao todo seis filhos, dos quais sobreviveram
Tereza Teixeira de Carvalho, Maria Francisca de Carvalho e Luiz Barbosa
de Carvalho. Esses três também deixaram uma frondosa descendência pelo
Brasil. Tereza Teixeira (1889-1950) foi a que mais contou a história da
sua mãe morta tragicamente de parto. Maria Francisca de Carvalho
(1893-1979), minha saudosa bisavó, foi uma grande matriarca que gerou
quinze filhos. E Luiz Barbosa de Carvalho é uma memória também fugidia. A
última vez que o vi na documentação foi no batizado da sobrinha dele,
Vitalina Teixeira de Carvalho (1910-1997), minha tia-avó, cuja cerimônia
ocorreu em 21 de dezembro de 1910.
Francisca Teixeira de Carvalho (1870-1895), minha velha vovó inesquecível, enquanto eu viver, a senhora não morre entre nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário