1915 – Uma partida de football em Natal
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
Após
a sua chegada a Natal, uma das maiores novidades que Tibério aguardava conhecer
era o “bate bola”, gíria pela qual era conhecida o football que, a partir de 1910, tinha se incorporado aos hábitos da
sociedade natalense.
Ao
chegar ao local onde seria futuramente construída a Praça Pedro Velho, próximo
ao centro hípico (Sport Club Natalense), notou que uma pequena multidão já
aguardava ansiosa o início da partida que se realizaria entre dois times
locais.
No
enorme terreno baldio dois grandes retângulos desenhados no chão, que soube, pelos
amigos, tratar-se do campo de jogo.
O
terreno livre de qualquer mato estava perfeitamente nivelado, com esparsa
grama. De cada um dos seus lados situava-se um dos times, aguardando o início
do jogo.
Nos
fundos de cada um dos lados desse terreno havia uma trave de madeira serrada,
formada por duas linhas em paralelo e unidas no topo por uma outra que ficava
na posição horizontal.
Claro
que, a princípio, Tibério não entendeu absolutamente nada, mas, atento, passou
a observar o movimento daquelas pessoas que circulavam pelo campo. Homens,
meninos e até algumas senhoras.
Logo
chegaram os dois times de jogadores – cada um deles vestia calções apertados
nas pernas e camisas coloridas de cores diferentes. Cada grupo se posicionou em
um dos lados do, digamos assim, gramado.
Veio
um terceiro elemento, vestido de outra maneira, e colocou um esférico no centro
do terreno. Após ser dado início à partida os homens, tanto de um lado como de
outro, passaram a correr loucamente e a chutar a tal bola, em direção a cantos
totalmente opostos.
A
cada chute vigoroso dos tais atletas, os gritos e palmas vinham dos
espectadores, alguns soltavam um “Aaaah!”, quando a bola batia em uma das
traves - pelo que Tibério notou uns torciam para um determinado grupo de
jogadores, enquanto outros para os rivais destes.
Não
demorou muito para Tibério perceber que as regras do tal jogo eram bastante
simples. Apenas os dois homens que se encontravam abaixo das grades em cada
lado do campo podiam pegar no esférico com as mãos. Os demais apenas a tocavam
com os pés.
Vez
por outra, os homens em campo se zangavam, discutiam, xingavam, gritavam e o
homem – o mesmo que colocara a bola no centro do campo no início do jogo -,
corria desesperado de um lado para outro e parava o jogo. As suas ordens eram
obedecidas por todos os jogadores.
Depois
de alguns instantes e muita reclamação tudo reiniciava para a alegria das
pessoas que assistiam.
Após
tensos minutos do início, apesar de todos os esforços do homem que ficava sob a
trave, a bola cruzou a baliza. “Gol, gol”, várias pessoas gritavam. Houve então
uma grande comemoração – dentro e fora do campo - aplausos, assobios, gritos e várias
pessoas até chegaram a saltar de alegria e a abraçarem-se.
Depois
de alguns minutos de jogo, isso se repetiu novamente. Desta feita na trave do
lado oposto. Os torcedores que haviam comemorado da primeira vez mantiveram-se
calados, enquanto as do outro grupo adotaram o mesmo procedimento de alegria.
E
assim o jogo continuou até o seu final, ocasião em que a multidão dispersou
feliz. Pelo que Tibério presenciou esse esporte logo ganharia muitos
simpatizantes.
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