O excêntrico “socialismo científico”
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia e contador
Contrariando a expectativa
marxista de que a revolução socialista se daria em regimes capitalistas
adiantados (isso em função das contradições internas do sistema), os comunistas somente assumiram o poder em países
atrasados, onde o modo de produção capitalista ainda não tinha se desenvolvido
plenamente. Rússia, China, Coréia do Norte, Cuba, Vietnã, Camboja, Angola,
Moçambique, por exemplo, eram países de economia agrícola, onde a indústria era
incipiente e não o polo determinante. Na Alemanha Oriental, Tchecoslováquia,
Polônia, Hungria, Romênia, Albânia e outras nações do leste europeu a ascensão
deu-se por pressão do exercito vermelho, presente em seus territórios logo após
a Segunda Grande Guerra.
O
caso da Rússia, onde em 1917 foi instalado o primeiro governo comunista, é um
episódio a parte. Em 1922 existiam cerca de 20 milhões de pequenas propriedades
agrícolas e aproximadamente quatro mil empresas privadas, enquanto que o Estado
já tinha assumido o controle de mais de 4.500 grandes indústrias. Em 1925, os
sovietes já tinham transformado “a terra,
as fábricas, as empresas industriais, os bancos e as vias de comunicações em
propriedades” estatais, como início da “obra
de edificação da Economia socialista” (Pankrátova, 1947). No outono de 1928
começou a implantação do Primeiro Plano Quinquenal e no início dos anos 1930
aconteceu a total estatização da agricultura. Essas medidas resultaram em altas
taxas de crescimento, principalmente na produção de commodities agrícolas e
produtos industriais, tais como aço, carvão, energia elétrica e petróleo, porém
com um alto custo social. O censo de 1937 revelou que a população havia caído
em oito milhões de pessoas.
O segundo período de crescimento da URSS foi o do pós-guerra,
quando houve maciços investimentos na indústria pesada, visando recuperar as
perdas causadas pelo conflito. Em alguns setores os soviéticos superaram os
Estados Unidos, como na produção de armamentos e na corrida espacial. Porém o
modelo socialista emperrava o crescimento econômico como um todo; sobravam
tanques de guerra e faltava manteiga.
Nos anos 1970/1980 já se previa o descalabro. Havia estagnação
na produção agrícola, na siderurgia e de petróleo e o fornecimento de energia
elétrica (com unidades geradoras e de transmissão defasadas) não atendia as
necessidades das empresas e da população. Some-se a isso um quadro de
ineficiência da infraestrutura e atraso tecnológico, inclusive no campo na
informática. Essa situação levou a um crescimento econômico per capita igual a
zero; negativo, em alguns anos. O resultado foi que o povo passou a enfrentar
dificuldades para adquirir produtos básicos como alimentos, roupas e produtos
de higiene.
O
colapso econômico da União Soviética foi efeito direto da maximização do Estado
nas relações econômicas. O centralismo e a alta burocracia tinham um custo
exorbitante. Nas fábricas centenas de milhares de pessoas não agregavam valor
aos produtos, pois simplesmente exerciam tarefas de seguir o andamento da
produção, e a alocação dos fatores de produção atendia apenas aos desejos da
nomenclatura partidária e não às necessidades reais da economia e da população.
Tal procedimento exigia vultosa soma de subsídios governamentais para manter
empresas ineficientes.
Essa
verdadeira máquina de moer recursos terminou por evidenciar o erro de se
atribuir ao Estado todos os direitos de prioridades e de estabelecer caminhos e
modos de se planejar, produzir e distribuir as riquezas do país.
E
o “socialismo científico” morreu.
Tribuna do
Norte. Natal, 02 fev 2014.
O Mossoroense.
Mossoró, 01 fev 2014.
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