11/02/2014

KEYNES, KALECKI E O UNIVERSO CAPITALISTA - POR TOMISLAV R. FEMINICK.
 
 
 Os acontecimentos sociopolíticos dos anos 1920/1930 construíram um palco onde se defrontavam as duas principais teorias econômicas que tratam da presença do Estado na economia. Nos países que aplicavam o conceito do “Estado mínimo”, associado à doutrina do laissez-faire, viram aparecer os oligopólios, monopólios e o lado mais desumano do capitalismo primitivo: o capitalismo selvagem. Na União Soviética, onde se instalava a “ditadura do proletariado” e o conceito socialista do “Estado máximo”, se registrava um significativo aumento da produção industrial, não obstante a burocracia, a ineficiência administrativa e a preponderância da vontade pessoal dos líderes partidários. Completava o cenário a grande crise provocada pela quebra da Bolsa de New York em 1929, que gerou um grave desequilíbrio conjuntural nos Estados Unidos, que logo se irradiou pela economia mundial, inclusive a soviética. Nesse contexto despontaram dois nomes no estudo do universo capitalista: o inglês John Maynard Keynes e o polonês Michael Kalecki. Contemporâneos, eles desenvolveram teorias parecidas, porém com enfoques opostos. Coincidiram somente quando aos fatores determinantes do nível de renda, eficiência marginal do capital, multiplicador econômico, preços e taxas de salário, fatores psicológicos e variação de consumo etc. A obra do Lorde Keynes possui conotações e características liberais, aceitando a intervenção do governo somente como forma de suplementar a insuficiência da demanda do setor privado e rejeitando a propriedade coletiva dos meios de produção. Suas objeções ao capitalismo selvagem tiveram origem em motivos morais e estéticos, o que não o tomava um socialista. Durante algum tempo, Kalecki foi tido apenas como mais um economista keynesiano, porém com um embasamento teórico-econômico totalmente marxista, pois que estudara quase que somente a economia marxista, notadamente Tugan-Baranovski e Rosa Luxemburg (temas de seu livro “Crescimento e ciclo capitalista”, Hucitec, 1977). Apesar de suas claras oposições em relação ao capitalismo e de seus atritos com a conduta capitalista quando trabalhava na ONU, Kalecki foi acusado de “não marxista, de orientar seus colegas e colaboradores para posições antimarxistas”, isto talvez por causa do seu rigor científico, em contraposição ao dogmatismo do marxismo ortodoxo. O maior divisor entre as posições de Kalecki e Keynes situa-se no objetivo com que ambos se propuseram a estudar as crises do capitalismo. Enquanto Keynes estava pesquisando as causas das crises, objetivando salvar o capitalismo das suas contradições e imperfeições, Kalecki tinha por escopo evidenciar as possíveis causas do seu hipotético colapso. Keynes dizia que o conhecimento das leis economias que regulam o capitalismo faria com que as pessoas tenderiam a ser mais responsáveis a respeito das decisões econômicas, o que traria mais prosperidade e felicidade para todos, tornando o mundo um lugar melhor para se viver. Kalecki pensava que só o Governo pode forçar condições econômicas ideais, principalmente nas épocas de baixa do ciclo econômico. Há que se ressaltar a própria opinião de Kalecki sobre suas ideias. Perguntado se suas opiniões não iriam afrontar os teóricos socialistas, ele respondeu que sua preocupação era fazer ciência e não criar dogmas. Em 1968 o governo da Polônia, controlado pelos soviéticos, afastou Kalecki de todos os cargos público. Keynes e Kalecki, cada um a seu modo, criaram instrumentos para que o capitalismo ultrapassasse a crise de 1929 e, também, a de 2007/2008. 
 
Tribuna do Norte. Natal, 09 fev. 2014.
 
(*) Mestre em Economia e Contador

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