Keynes e a ação do Estado na economia
Tomislav R. Femenick – Mestre em
Economia e Contador
Quando
se discute o papel do Estado na economia, sempre são lembradas as teorias de
John Maynard Keynes desenvolvidas nas
décadas de 20 e 30 do século passado, no bojo da grande crise provocada pela
quebra da Bolsa de New York em 1929, que gerou um grave desequilíbrio
conjuntural nos Estados Unidos e na economia mundial.
Foi
nesse cenário que se destacou um dos postulados do keynesianismo: quando algo provoca desequilíbrio no mercado, ocasionando a
retração do nível de consumo e/ou de investimento por parte dos agentes
privados, o Estado deve intervir na economia em grau e em áreas tão diversas
quanto necessário seja como forma de evitar o desemprego e garantir o
estado de bem-estar social. Embora
originalmente um liberal, Lorde Keynes se posicionou contra a liberdade
desenfreada do mercado, propondo a
intervenção do Estado na economia como forma de defesa da livre iniciativa. Embora
essa fosse uma postura aparentemente de posições antagônicas – o liberalismo com
intervenção estatal –, suas ideias se mostraram racionais, pois o que ele defendia
era uma maior atuação estatal nos assuntos da economia por entender que, em certas ocasiões, esse seria o único meio
disponível para evitar a quebra do sistema capitalista e garantir o
funcionamento da livre iniciativa.
Keynes
aceita essa intervenção do governo tão somente como uma forma de suplementar
insuficiência conjuntural da demanda do setor privado, porém rejeita a
propriedade estatal dos meios de produção e o Estado como agente produtor,
quando afirma que “não se vê nenhuma
razão evidente que justifique um Socialismo de Estado abrangendo a maior parte
da vida econômica da nação. Não é a propriedade dos meios de produção que
convém ao Estado as sumir”. É bom que se repita: as teorias de Keynes têm
por objetivo encontrar meios para evitar ou solucionar as crises que
periodicamente afetam o funcionamento normal das sociedades capitalistas.
Na
realidade o que o economista inglês intuiu foi uma simbiose do Estado com a
economia de mercado, sendo o primeiro (o Estado) um fator de regulação e de
equilíbrio das atividades produtores, visando evitar a quebra ou restabelecer o
nível de emprego e renda, e o segundo (o mercado) o objeto e o instrumento do
equilíbrio desejado. Então, o Estado seria o fator (ou o interventor) que
buscaria evitar, compensar ou corrigir os elementos que perturbam o sistema de
correlação de forças entre os agentes econômicos.
Tomando-se
esse conceito desenvolvido por Keynes, a política fiscal, o grau de
endividamento do governo, as taxas de juros e o nível dos investimentos (entre
outros) devem ser os instrumentos de que o governo deve fazer uso, sempre que
haja perturbações que ameacem o crescimento do capital ou a redução do padrão
de vida dos assalariados. Além dos resultados meramente materiais que esses
recursos usados pelo Estado têm na produção e na renda, outro fator deve ser
adicionado como resultado da intervenção estatal na economia: o reflexo
psicológico que pode resultar no aumento dos investimentos, na geração de novos
empregos e, consequentemente, na elevação da renda dos trabalhadores.
Embora
muito discutido – uns aceitando outros não –, o keynesianismo é pouco
compreendido. O que se vê são teóricos de várias tendências querendo trazer
Keynes para suas respectivas praias ideológica ou afastando-o para bem longe. E
muito deles nunca leram se quer um texto de Keynes; apenas sabem o que seus
gurus falam sobre as ideias de um dos maiores economistas do século XX, o que
empobrece sobremaneira o “estado da arte”.
Tribuna
do Norte. Natal, 23 fev 2014.
O
Mossoroense. Mossoró, 14 fev. 2014.
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