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21/02/2014


1915 – Uma partida de football em Natal

 

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

Após a sua chegada a Natal, uma das maiores novidades que Tibério aguardava conhecer era o “bate bola”, gíria pela qual era conhecida o football que, a partir de 1910, tinha se incorporado aos hábitos da sociedade natalense.

Ao chegar ao local onde seria futuramente construída a Praça Pedro Velho, próximo ao centro hípico (Sport Club Natalense), notou que uma pequena multidão já aguardava ansiosa o início da partida que se realizaria entre dois times locais.

No enorme terreno baldio dois grandes retângulos desenhados no chão, que soube, pelos amigos, tratar-se do campo de jogo.

O terreno livre de qualquer mato estava perfeitamente nivelado, com esparsa grama. De cada um dos seus lados situava-se um dos times, aguardando o início do jogo.

Nos fundos de cada um dos lados desse terreno havia uma trave de madeira serrada, formada por duas linhas em paralelo e unidas no topo por uma outra que ficava na posição horizontal.

Claro que, a princípio, Tibério não entendeu absolutamente nada, mas, atento, passou a observar o movimento daquelas pessoas que circulavam pelo campo. Homens, meninos e até algumas senhoras.

Logo chegaram os dois times de jogadores – cada um deles vestia calções apertados nas pernas e camisas coloridas de cores diferentes. Cada grupo se posicionou em um dos lados do, digamos assim, gramado.

Veio um terceiro elemento, vestido de outra maneira, e colocou um esférico no centro do terreno. Após ser dado início à partida os homens, tanto de um lado como de outro, passaram a correr loucamente e a chutar a tal bola, em direção a cantos totalmente opostos.

A cada chute vigoroso dos tais atletas, os gritos e palmas vinham dos espectadores, alguns soltavam um “Aaaah!”, quando a bola batia em uma das traves - pelo que Tibério notou uns torciam para um determinado grupo de jogadores, enquanto outros para os rivais destes.

Não demorou muito para Tibério perceber que as regras do tal jogo eram bastante simples. Apenas os dois homens que se encontravam abaixo das grades em cada lado do campo podiam pegar no esférico com as mãos. Os demais apenas a tocavam com os pés.

Vez por outra, os homens em campo se zangavam, discutiam, xingavam, gritavam e o homem – o mesmo que colocara a bola no centro do campo no início do jogo -, corria desesperado de um lado para outro e parava o jogo. As suas ordens eram obedecidas por todos os jogadores.

Depois de alguns instantes e muita reclamação tudo reiniciava para a alegria das pessoas que assistiam.

Após tensos minutos do início, apesar de todos os esforços do homem que ficava sob a trave, a bola cruzou a baliza. “Gol, gol”, várias pessoas gritavam. Houve então uma grande comemoração – dentro e fora do campo - aplausos, assobios, gritos e várias pessoas até chegaram a saltar de alegria e a abraçarem-se.

Depois de alguns minutos de jogo, isso se repetiu novamente. Desta feita na trave do lado oposto. Os torcedores que haviam comemorado da primeira vez mantiveram-se calados, enquanto as do outro grupo adotaram o mesmo procedimento de alegria.

E assim o jogo continuou até o seu final, ocasião em que a multidão dispersou feliz. Pelo que Tibério presenciou esse esporte logo ganharia muitos simpatizantes.

 

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