SOPRA UM VENTO FORTE
Valério Mesquita*
Não, não é o vento de
Geraldo Melo soprado no Rio Grande do Norte lá pelos fins e confins dos anos
oitenta. Na Espanha, o cardeal Cañizares denunciou a existência de uma
revolução social para destruir os postulados da Igreja Católica. A assertiva
cardinalícia aduz, ainda, que esse movimento oculto já atua nas escolas e na
mídia espanhola e que se alastra nos países vizinhos. Conhecemos que o mundo
ocidental é o maior herdeiro no globo terrestre da doutrina cristã. Depois da
invasão dos bárbaros, lá pelo século quinto, foram os monges nos conventos, os
verdadeiros sustentáculos da fé do Novo Testamento. A revolução social aludida
pelo alto dignitário da Igreja Católica espanhola já se estende aos países das
Américas, através da perversão dos costumes, da subversão do comportamento da
juventude na família, na mídia e nas escolas. É a crise típica de uma sociedade
que tem se afastado de Deus, elegendo o mundanismo como valor essencial de
vida, embora, passageira, fáctil, fácil, fútil e fóssil. O fato é que o vento
sopra forte. Sopra uma revolução social, no dizer do cardeal Cañizares contra a
religião católica em plena Espanha (e não somente lá, mas no mundo todo), que
já deu reis católicos e espargiu igrejas, conventos e padres em diversas partes
do mundo.
De modo geral, as
religiões católicas e evangélicas estão atentas no Brasil para o poder da mídia
e da influência poderosa que elege e deselege políticos; que manda e desmanda
apresentadores de tv para o podium do poder, fazendo a cabeça do jovem e do
pobre. Assim também faz a internet: miséria e abusos. Por isso, as igrejas
evangelizam mais na televisão do que em seus templos porque, por aqui, a revolução
de estrangular o cristianismo já começou. Vejam só: na tv a cabo, contei quatro
canais católicos privativos e três evangélicos, sem contar com os programas
diários, alugados e pagos por segmentos protestantes diversos. Tudo isso, para
conter, esbarrar, meu caro cardeal Cañizares, o vento forte que sopra da
península ibérica.
A denúncia do líder
religioso espanhol se reveste da maior importância porque foi ditada pela rede
de comunicação mundial do Vaticano. Na verdade, a revolução social a que se refere,
não parte de grupos, partidos políticos, governos ou quaisquer instituições
privadas. Ela provém da crise de caráter, de espiritualidade, do desajuste
familiar. Ela, – a revolução social contra a Igreja Católica – está no homem.
Não imaginem que vem de correntes evangélicas. Não. Porque se não anuírem que o
Deus e a Bíblia são os mesmos, todos naufragarão na praia, vítimas do próprio
cata-vento da discórdia. Que isso Deus não permita e que sejam apenas palavras
ao vento.
O abismo da destruição
iminente do mundo já foi cavado.
(*) Escritor.
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