Portulanos,
caravelas, a Escola de Sagres...
Tomislav R.
Femenick
– Autor do livro “Os Herdeiros de Deus: a aventura dos descobrimentos”
Antes das grandes aventuras
portuguesas e espanholas por mares desconhecidos,
realizava-se na Europa uma navegação costeira, que
se orientava por pontos
de referência, naturais
ou não,
localizados em terra,
tais como
baias, enseadas,
ilhas, pontas,
istmos, cidades,
castelos, fortes
e, principalmente, portos.
O conhecimento desses acidentes, primeiro foi passado
de forma oral entre mestres e
aprendizes, depois
passou a seu descrito em documentos
chamados de “portulanos” (roteiros que
descreviam os pormenores das costas marítimas), que abrangiam apenas
o Mediterrâneo. Em seguida, o seu uso
estendeu-se até ao mar
Negro, à costa
ocidental da Europa, às Ilhas Britânicas e à África. Algumas vezes eram acompanhados de “mapas de portulanos”, cartas
náuticas primitivas que, por não disporem de instrumentos
que identificassem as graduações de latitude
e longitude, exibiam os contornos litorâneos
com um perigoso
grau de imprecisão.
Para essa navegação de cabotagem eram usadas galeras
(ou galés)
e veleiros. Os primeiros
eram barcos de dupla
propulsão, a remo
e a vela, com
grande mobilidade.
Como precisavam de um grande número
de remadores, sua
capacidade de carga
era pequena,
se comparada com o seu
peso total.
Os veleiros do Mediterrâneo
contavam com a chamada
vela latina,
uma vela triangular
que trabalhava no sentido
de proa à popa,
envergada em um
mastro cruzado
por uma peça
de madeira ou
ferro (carangueja).
No Mar do Norte
eram mais usadas as velas
retangulares, maiores e mais apropriadas para um melhor aproveitamento dos ventos.
Embarcações de ambos
os tipos já
tinham incorporado, desde o século XIII, o leme
de cadaste ou de roda
– uma forte peça
de madeira que
integrava a parte de trás da quilha.
Preso à popa,
o leme dava a direção
das naves (FAVIER, 1995; GARCIA, 1999).
A navegação oceânica exigia outras técnicas.
Agora não
mais haveria terra
à vista, pois
a viagem se dava em
alto-mar, através
de oceano desconhecido.
A longa duração
fora dos portos
exigia embarcações ágeis, porém não
propulsados por remos,
pois uma tripulação
de remadores exigiria provisões em quantidade que não seria possível
transportar. Portugal saiu na frente.
No porto de Lagos
foram feitas as primeiras
experiências que
deram origem à caravela,
uma embarcação planejada para
levar e trazer os
navegantes de volta. Os navios a vela
sofreram inovações. Um terceiro mastro
nos anos de 1430. Em pouco tempo
aparecem quatro ou
cinco mastros.
Todavia,
a caravela foi uma criação
portuguesa, embora que
tendo como base
barcos de origem
muçulmana, com as quais
os lusitanos conviveram durante o tempo
da ocupação moura.
Entre eles
estavam o caravo (do árabe qarib), semelhante ao
pangaio (MARQUES,
1984),
ainda hoje
usado nas viagens costeiras na África oriental e na Índia.
No rio Douro era
utilizada uma embarcação menor que o
caravo, chamada de caravela
(qarib + ela = caravela) –
(BOORSTIN, 1989). A caravela lusitana
era uma embarcação
veloz, forte
e segura para
a sua época. Era construída com
vigas e tábuas
de carvalho, pinho
e sobro e cravos de cobre
e, raramente, de ferros.
No seu projeto
não havia lugar
para curvas
graciosas, entalhes elaborados ou cores brilhantes. Sua
pintura preta,
feita com betume, procurava resguardar o casco do ar, da
umidade e do ataque dos crustáceos.
Era a embarcação
ideal para as
viagens de descobrimento. “La carabela comenzó a usarse en España em el segundo
cuarto del siglo XV y seguramente a
imitación de los portugueses” (PADRON,1981).
Não se
pode falar nos
pré-requisitos técnicos
necessários aos descobrimentos sem falar no Infante Dom
Henrique e na sua criação,
a escola de Sagres, a NASA do século XV.
Dom Henrique (terceiro
filho do rei
de Portugal), tinha uma personalidade mística
e aventureira, como
todo homem
medieval, porém
se diferenciava pela curiosidade científica,
principalmente para
com as coisas
do mar. Formalmente
nunca houve a tal
escola. Houve, isto
sim, uma região,
o promontório de Sagres, onde, a partir de 1438,
foram criadas as condições para o desenvolvimentos
das técnicas náuticas.
O uso
da bússola, do astrolábio,
da balestilha (instrumento para
medir a altura dos astros) primitiva,
do quadrante e de mapas
mais precisos
resultou dessa junção de saberes. Muito
do que se fazia em
Sagres – não obstante
– era vasado, principalmente para às coroas de Leão e Castela.
Tribuna do
Norte. Natal, 05 mar. 2020.
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