QUASE
VINTE ANOS DE LONGAS ESPERAS
Valério
Mesquita*
A notícia chegara pela manhã trazida pela voz insuspeita
do então presidente da Fundação José Augusto. Pelo telefone, o entusiasmo de
Woden Madruga me contagiava porque, na verdade, conhecia o meu esforço e as
cobranças repetidas através dos jornais e da tribuna da Assembleia Legislativa.
Ele acabara de bater o martelo com o governador Garibaldi Filho decidindo a
restauração dos Guarapes e toda a área adjacente do sítio histórico, onde se
ergueu o primeiro empório comercial do Rio Grande do Norte de exportação e importação
de produtos, às margens dos rios Potengi/Jundiaí. Não há melhor oração pela
alma de Fabrício Pedroza do que a reconstrução arquitetônica do Casarão cuja
vista do alto da colina emociona e devolve o esplendor de uma fase importante
da vida econômica do Rio Grande do Norte.
O chamado Engenho dos Guarapes foi o marco expressivo
do desenvolvimento econômico dos séculos XVIII e XIX, através da
comercialização de produtos agrícolas exportados para outros estados e para o
exterior. Viveu o seu apogeu ao tempo de Fabrício Gomes Pedroza, rico
comerciante, até chegar o seu declínio econômico no início deste século. O prédio
está situado no alto de uma colina, próximo à divisa dos municípios de Natal e
Macaíba, e embora em péssimo estado de conservação, nele podem ser aplicadas as
técnicas arquitetônicas utilizadas na reconstrução do Solar do Ferreiro Torto
em Macaíba, cuja situação física era semelhante ou pior que o Casarão dos
Guarapes. Vivia, em 2001, o momento crepuscular do meu quarto mandato
parlamentar e não poderia receber melhor notícia. Atravessava aquele momento da
coleta das passagens esparsas e produtivas da vida pública quando senti soar a
hora da ressurreição do marco mais importante da história econômica do Rio
Grande do Norte. E a emoção é maior porque sou de Macaíba, o filho, o irmão, o
cidadão, o íntimo, com uma presença permanente e evocativa de amor e respeito a
minha terra.
O projeto
arquitetônico estava entregue à competência do arquiteto Paulo Heider Feijó,
responsável pela restauração dos mais importantes monumentos históricos do Rio
Grande do Norte. Prometi que ao lado do presidente da Fundação José Augusto
somaria os esforços para a consecução desse objetivo que resgata o denso
passado histórico do nosso estado. Woden tem raízes familiares em Macaíba onde
viveu um tempo de sua adolescência ao lado do seu primo Vinícius Madruga, sob
os cuidados de sua tia D. Nazaré, anjo de ternura e paz. Além de sua vontade
política e administrativa, somara-se à doce e terna cumplicidade telúrica de
desarmar os presságios e resgatar os frutos do tempo. A área foi tombada pelo
Patrimônio Histórico, desapropriada e paga na época referida.
Dezenove anos são transcorridos, Woden e eu ainda
permanecemos na estação das longas esperas. Com o olhar contemplativo na
paisagem de um tempo que não queremos sepultar. Os moedeiros do erário ainda escondem
o dinheiro. Os pedaços dos Guarapes continuam espalhados no chão dos
antepassados. Vilma, Rosalba, ambas ignoraram a restauração dos Guarapes.
Robinson, além do desprezo, não aplicou um milhão de reais transferidos pelo
Ministério do Turismo e depositados na Caixa Econômica Federal do Rio Grande do
Norte. Ele permitiu que o dinheiro voltasse para Brasília porque a iniciativa
era dos três: Valério, Woden e Garibaldi Filho. Reclamei até a Procuradoria do
Patrimônio e da Defesa Ambiental do Rio Grande do Norte que envidou esforços junto
a Fundação José Augusto e a Caixa Econômica sem obter êxito face a má vontade
política, administrativa e pessoal do citado ex-governador. E agora, até
quando?
(*) Escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário