MÚSICA POTIGUAR BRASILEIRA
Valério
Mesquita*
Não é pretensão ou entusiasmo pueril. Não é uma
constatação baseada em suposto direito. Antes de tudo é uma conquista. Existe,
sim, hoje, uma música potiguar brasileira formada por expressões que nada ficam
a dever aos compositores e intérpretes do Ceará ou Pernambuco. Nesses estados o
poder público, a iniciativa privada e a mídia atuam financeiramente e divulgam
os seus artistas. No Rio Grande do Norte o apoio é tímido e, até parece, que
não acreditam no potencial do talento do musicista, na sua criatividade e na
beleza de sua poesia.
A característica hereditária da cultura musical potiguar
vem de um Otoniel Menezes, Eduardo Medeiros, Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, das
modinhas de Auta de Souza, da inspiração de K-Ximbinho e Hianto de Almeida, um
dos precursores da bossa nova. O tempo e o vento, o sol e as águas do Potengi
esculpiram uma nova constelação musical no Rio Grande do Norte que me
entusiasma e me induz a aplaudir a todos quantos prestigiam os compositores e
intérpretes – alguns deles - somente comecei a ouvi-los através dos programas
da Rádio FM Universitária. Ao ouvir “O Poema Nordestino”, “Forró Prá Valer” de
Galvão Filho e Chico Morais cheguei ao CD e ao autor, que é filho do saudoso
Severino Galvão. Trata-se de uma “família musical”, a começar de D. Elvira
Galvão, no seu reinado da avenida 10, ensinou aos filhos a “arte milenar do
rabequeiro e do sanfoneiro”: Erinalda, Erineide, Eri, João Galvão e o grande
Babal. O CD contém treze composições da mais fina poética nordestina, sem o
lugar-comum dos apeladores do erotismo e da imoralidade que corrompem o
sentimento da alma sertaneja. “Não, na minha rede”, “A energia dos Cristais”,
“Tem dez no forró”, “Saudade D’ocê”, são versos que relembram Gonzagão,
Humberto Teixeira e tantos outros reis do baião e da arte popular.
O Rio Grande do Norte tem a sua música popular genuína
nascida das raízes, da gente e do folclore. Esse plantel notável inclui Elino
Julião, Enoch Domingos, Chico Morais, Cezar e Zé Fontes, Almir Padilha,
Dozinho, Tarcísio Flor, Lane Cardoso, Marina Elali, Carlinhos Zens, Glorinha
Oliveira, Rejane Luna, Valério Oliveira, Zé Dias (animador cultural), Lucinha
Lira, Regional Sonoroso, Paulo Tito, Liz Nôga, em nome de quem saúdo os grandes
cantores da música seresteira do Rio Grande do Norte. Não cabem aqui nestas
linhas mencionar todos. Mas, uma coisa se torna importante: a conscientização
de que temos uma música potiguar brasileira e que precisa ser valorizada o
quanto antes.
(*) Escritor.
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